terça-feira, 3 de julho de 2012

Brilhante Ustra cai em contradição


O episódio Carlos Alberto Brilhante Ustra, que numa primeira instância foi condenado a indenizar em 100 mil reais à família do jornalista Luis Merlino, assassinado no DOI-Codi de São Paulo, provocou uma grande contradição.

O Estado ditatorial tinha "informado" (na verdade escamoteado a informação correta) que Merlino morreu atropelado quando tentava fugir. Mas há provas testemunhais segundo as quais o jornalista foi assassinado nas dependências do DOI-Codi de São Paulo, dirigido por Brilhante Ustra.

O responsável pela unidade militar da repressão está pedindo ao Exército documentos que, segundo ele, informariam que no dia de julho de 1971 em que foi assassinado o jornalista Merlino, ele (Ustra) estava em Porto Alegre. Ustra quer se livrar da acusação de responsabilidade no triste episódio e evitar que seja obrigado a pagar a indenização à família Merlino.

Ustra é denunciado por Claudio Guerra no livro Memórias de uma guerra suja, como um dos principais agentes do Estado brasileiro no esquema da repressão. O ex-delegado Guerra, depois de ter aderido à Igreja Evangélica, admitiu ter matado opositores da ditadura, até mesmo levando seus corpos para o forno de uma usina de açucar em Campos.

Pois é, os militares que participaram diretamente da repressão, como este Coronel do DOI-Codi, estão sendo contraditórios. Se por um lado se alega que os documentos da ditadura não existem mais, teriam sido queimados, como Ustra pede informações do Exército para dizer onde andava no tal dia do covarde assassinato testemunhado por outros presos políticos?

Isto é, se o militar acusado de ser torturador e assassino tenta se valer de documentos da época, o seu procedimento remete à questão da abertura dos documentos do período da ditadura. O próprio pedido de Ustra ao Exército, mesmo que seja dissimulado, como é capaz esta gente de fazer, demonstra que os arquivos existem. Precisam ser abertos imediatamente.

Ustra nunca conseguiu demonstrar que não tem culpa no cartório pelas atrocidades cometidas contra opositores do regime ditatorial no DOI-Codi de São Paulo. Se vale da Lei da Anistia para seguir impune, quando crimes do tipo que é acusado são considerados em todo mundo imprescritíveis.

Uma pergunta que não quer calar: onde estão os arquivos que podem esclarecer fatos relacionados com o período da ditadura e muito ajudariam à Comissão da Verdade virar definitivamente a página hedionda da história brasileira?

****************************************************************

Mais um absurdo dos tempos hediondos a partir de abril de 1964 no Brasil tornou-se público nestes dias. A ditadura brasileira prendeu, em Porto Alegre, por vários meses, o genial Lupicínio Rodrigues.

A informação foi fornecida por Lôndero Gustavo Dávila Rodrigues, filho de Lupicínio, ao professor José Ribamar Bessa Freire. Lôndero, músico como o pai e motorista da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, revelou ainda que essa informação foi silenciada pelo próprio Lupicínio, que se sentia envergonhado pela prisão e pelas torturas sofridas nas mãos dos golpistas que tomaram o poder a força em abril de 1964 (O artigo do professor Bessa na íntegra está em nosso Espaço Livre).

**************************************************************

O golpe parlamentar no Paraguai continua rendendo. Partidos políticos como o PSDB e espaços midiáticos conservadores se posicionaram a favor da “legalidade” (claro que entre aspas) no Paraguai, não admitindo que a derrubada do Presidente Fernando Lugo foi um golpe de estado parlamentar ao estilo Honduras com o apoio ostensivo do Departamento de Estado norte-americano,  E de quebra os brasilguaios com ramificações na famigerada UDR, a União Democrática Ruralista.

O deputado Sergio Guerra, que preside o PSDB, um partido sem bandeiras e defensor incondicional do desastroso governo Fernando Henrique Cardoso, justificou o golpe considerando-o perfeitamente legal, não levando em conta o rito sumário contra Lugo, que nem teve direito de defesa.

Claro, se dependesse da vontade do PSDB, partido derrotado em seguidas eleições, os presidentes vitoriosos nas urnas contra candidatos como Geraldo Alckmin e José Serra seriam derrubados. Como o esquema clássico de golpe de estado com as tropas nas ruas está esgotado, Guerra e seus seguidores estão adotando a estratégia de apoio a golpes parlamentares e de preferência em rito sumário, golpes reconhecidos pelo Departamento de Estado norte-americano.

Na falta total de bandeiras, o PSDB decidiu posicionar-se  publicamente contra a política externa do atual governo de Dilma Rousseff, numa clara demonstração que se estivessem à frente do governo seguiriam sempre as recomendações de Washington. Reconheceriam o governo de Federico Franco e se bateriam pela não suspensão do Paraguai no Mercosul e na Unasul.

Eis aí um diferencial entre as pregações subservientes ao estilo FHC e o modelo de política externa que vem sendo adotada desde o primeiro mandato de Luis Inácio Lula da Silva.

Na reunião do Mercosul, em Mendoza, Argentina, Brasil e Uruguai deram uma resposta efetiva ao Parlamento paraguaio aprovando o ingresso da Venezuela. O Senado golpista do Paraguai passou seis anos brecando a entrada da Venezuela no Mercosul.

Agora, com a suspensão do Paraguai até as eleições do próximo Presidente, em abril de 2013, foi decidido o ingresso da Venezuela, o que não agradou nem um pouco a mídia de mercado, como demonstram seus furiosos editoriais.

A oficiliazação da Venezuela no Mercosul ocorrerá a 31 de julho numa reunião especial a ser realizada no Rio de Janeiro. Se o governo brasileiro fosse do PSDB, o Brasil seguiria o que foi feito pelo Senado paraguaio.

O PSDB e outros partidos menores se inscrevem no rol dos golpistas do III Milênio, que apesar de não se valerem dos militares, seguem a mesma orientaçao de subserviência aos interesses estadunidenses e da oligarquia.

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...