Por Luís Nassif
Faz parte do aprendizado. Mas ainda por bom tempo veremos reportagens
sem muito discernimento escandalizando atos normais, pelo fato do
repórter ter obtido informações exclusivas - ainda que irrelevantes - em
bancos de dados pouco acessados.
Vai ser assim com a Lei de Transparência, como foi com o Siafi (o sistema de informações financeiras do setor público).
Jovens repórteres investigativos entravam no Siafi, colocavam o nome
da vítima e apontavam como escândalo qualquer pagamento efetuado através
de um sistema legal e público de pagamento. Por ter promovico um jantar
com Lula e jornalistas em sua casa, no início de 2003, a jornalista
Tereza Cruvinel foi "denunciada" por ter recebido R$ 12 mil da Câmara
para escrever a biografia de uma ex-deputada, falecida. Provavelmente só
com a equipe de pesquisa ela deve ter gasto mais do que isso. Mas o
pagamento estava... no Siafi e foi identificado graças à iniciativa do
atilado repórter.
O Estadão repete o mesmo modelo no tratamento dado aos tais
documentos da Casa Civil, obtidos através da Lei de Transparência. Os
documentos comprovam que Dirceu era incumbido de fazer a articulação
política, encaminhando os pedidos dos parlamentares. A rigor, nenhuma
novidade.
Depois, afirma que Dirceu utilizava informações para queimar membros
de grupos contrários, no PT. O membro do grupo contrário era, segundo a
reportagem, Graça Foster - funcionária de carreira da Petrobras. Havia
rumores envolvendo o marido. Dirceu encaminhou os dados para a Ministra
das Minas e Energia, Dilma Rousseff, de quem Graça sempre foi pessoa de
absoluta confiança. Se quisesse queimar, encaminharia para a revista
Veja. Ou não? E, para que tais dados são encaminhados? Para
procedimentos muito simples: se houver irregularidade, tomar medidas; se
não houver, juntar argumentos para rebater eventuais tentativas de
escandalização.
Conforme retranca do próprio Estadão, no pé da matéria, o próprio
MInistério Püblico Federal não identificou nenhum sinal de
irregularidade.
Os dados obtidos poderiam ser bom material para expor o dia-a-dia
desse modelo político torto brasileiro. Especialmente se enriquecido com
documentos similares do governo FHC. A ideia fixa em relação a Dirceu
mantem em suspenso qualquer esperança de melhoria no padrão atual de
cobertura jornalística.
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