sábado, 11 de julho de 2009

Seja Bem-Vindo, Dom Fernando!

Seja muitíssimo bem-vindo, Dom Fernando!

José Paulo Cavalcanti Filho*
Do Recife (PE)

VIVA DOM FERNANDO

É o fim de uma era. Sai de cena, depois de 24 anos como Arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso. Leva com ele orgulho pelas obras feitas, alguns processos em que é réu, e remorsos tardios, talvez. Diferente de Dom Helder, que ao deixar esse mesmo cargo permaneceu nas Fronteiras, Dom José antecipou que vai preferir viver seu resto de vida longe do rebanho que lhe foi confiado, na paisagem agreste de Camocim de São Felix - um santo camponês que perambulava nas ruas com rosário na mão, dizendo sempre "Deo gratias". Palavras que Dom José poderá repetir, quando queira, na espera d'Aquele com quem sempre sonhou.

Em Camocim, na solidão que sempre acompanha os que se despedem e partem, poderá também meditar sobre o que fez e deixou de fazer; afinal compreendendo, já sem tempo para ilusões perdidas ou reparações, que acertou e errou como qualquer de nós pobres mortais. É cedo ainda para fazer uma avaliação isenta sobre sua passagem. Sobretudo, cumprindo a regra ibérica dos homens gentis, não é digno pelejar quando o cavaleiro já está no chão. Que parta em paz, então.

Vade retro, Dom da Discórdia!

Mas é também uma nova era que vem. Um tempo bom de alegrias, promessas e esperanças, que se pode pressentir no ar. Dom Fernando Saburido, novo arcebispo, não por acaso, foi ordenado padre por Dom Helder (em 1983); e exerceu as funções de Bispo Auxiliar de Dom José Cardoso (em 2000). Como se seu destino fosse o de ser um ponto de encontro entre visões do mundo tão distantes.

Assim, e para além dos estreitos limites de uma pregação apenas intimista, com ele chegam também as idéias do Vaticano II. De uma Igreja do povo de Deus, em que todos e cada um têm voz e vez. Comprometida com o sentido real de Evangelho, para quem Cristo veio trazer vida. Feita de compromissos, gestos amplos e solidariedade fraterna.

Não é por acaso que Dom Fernando chega ao Recife no centenário do nascimento de Dom Helder; como se fosse um prenúncio do destino. Vem para restaurar a fé de tantos, e dar um sentido novo à Arquidiocese. Para pacificar, mesmo sem perder a firmeza dos gestos. Vem, antes de tudo, para trazer de volta os que se afastaram. Se puder ser resumida em uma frase, a expectativa sobre sua presença, dela se dirá sobretudo que vai procurar ser um bom guardador de rebanhos. Como o de Fernando Pessoa, "Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas idéias/ Olhando para as minhas idéias e vendo o meu rebanho". Ou o do Evangelho de São João, na "Parábola do Bom Pastor" - aquele que dá a vida por suas ovelhas. Bem vindo seja, Dom Fernando.

* José Paulo Cavalcanti é advogado em Recife - PE

Do Terra Magazine


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Para ler a polêmica interferência de Dom José Cardoso (o Dom da Discórdia) no caso da criança de 9 anos que foi estuprada pelo próprio padrasto e estava grávida de gêmeos, clique em A Criança, o Arcebispo, o Poeta e o Chargista.


2 comentários:

Eurico disse...

Bem vindo seja, Dom Fernando. E que a obra pastoral do Dom da Paz seja restaurada.

Abraço fraterno, Cumpadi.

Prof. DiAfonso disse...

"Apôis é", Grande Cumpadi e Irmão!

Congratulemo-nos não com a hegemonia de uma Igreja que ser quer única e despótica como no "reinado" do DOM DA DISCÓRDIA, mas com a construção de uma fraternidade cujo objeto seja a busca do RE-ligare, conforme o DOM DA PAZ (Aquele cara me fascinava... parecia a encarnação de Francisco de Assis)... Não me importa qual seja o destino... eu o quero...!

Abração!

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