sábado, 17 de outubro de 2009

Honduras: o importante papel assumido pelo Brasil diante do golpe



James Monroe (formulador da Doutrina Monroe)

Simon Bolívar (líder revolucionário)

Por DiAfonso (editor-geral do Terra Brasilis)

Oportuno o artigo de José Arbex Jr, na Caros Amigos (abaixo), sobre a crise em Honduras. Ao afirmar que "O papel assumido pelo Brasil [...] tem dimensão explosiva [...]" e que "[...] o governo brasileiro não se limitou a 'condenar' o regime golpista [...]", além de não compactuar com sanções pouco eficientes para debelar o que se constituíra, de fato, em um golpe de Estado, o jornalista expõe a vontade política, por meio dos canais diplomáticos, de uma nação cujo propósito não é senão o de resguardar e fazer valer os ideais democráticos.

Assim foi feito. O presidente Luiz Inácio LULA da Silva, com a coragem que o caracteriza, convocou Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores, e decidiu intervir dentro do que lhe era possível. Concedeu, por um lado, asilo ao presidente deposto Manuel Zelaya na representação brasileira em Honduras; e, por outro, promoveu intensas articulações com a comunidade e os órgãos internacionais para exigir o retorno de Zelaya ao poder, conferido democraticamente pelo povo hondurenho.

O presidente LULA, com esta disposição, não fez outra coisa a não ser destronar o poder de intervenção (para o bem ou para o mal - quase sempre para o mal) destinado aos Estados Unidos. Enquanto Brasília se movimentava intensamente para preservar o estado democrático de direito em Honduras, Washington titubeava (certamente, havia interesses escusos que faziam o governo estadunidense titubear diante do golpe) e via, como fantasma, o confronto entre a Doutrina Monroe ("A América para os americanos" e que se tornara, de fato, "A America para os estadunidenses") e o Bolivarismo. A Doutrina, formulada pelo quinto presidente dos Estados Unidos (James Monroe), estava sendo solapada a partir do Planalto Central. A subliminar referência ao Bolivarismo não é fantasiosa. Os preceitos defendidos por Simon Bolívar (a unidade e o bem-estar dos povos latino-americanos) fizeram-se presentes na ação e determinação do governo brasileiro. Governo que, diferente dos anteriores, não tolera que um chanceler tire os sapatos para adentrar os "estâites". Governo que, diferentes dos anteriores, não se submete aos ditames do imperialismo ianque, mas os trata de igual para igual.

Assim é a nova agenda de um país que se quer grande, justo e defensor dos ideais democráticos. Assim é um país que tem no seu presidente a expressão máxima da coragem e da promoção do bem-estar de todos, brasileiros ou não. Assim é o BRASIL de hoje. Assim é o BRASIL governado por Luiz Inácio LULA da Silva.

Enquanto a grande mídia nativa tentava desmoralizar as ações do governo brasileiro durante a crise em Honduras, a comunidade internacional aplaudia, de pé e com entusiasmo, o empenho de LULA em pôr fim à crise, reestabelecendo a ordem democrática naquele país da América Central. À mídia nativa restou a sua própria desmoralização como veículos imparciais (?!?!) de comunicação e informação que deveriam ser.

Honduras abala a Doutrina Monroe


Por José Arbex Jr.*

A “crise de Honduras” sintetiza e ilumina um momento histórico ímpar na história mundial. Pela primeira vez desde 1823, quando James Monroe formulou a doutrina que leva o seu nome (“a América para os americanos” - quanto, de fato, tinha em mente
“a América para os estadunidenses”), Washington, nitidamente, perdeu o controle e a iniciativa sobre os desenvolvimentos políticos e sociais na América Latina e no Caribe.

O papel assumido pelo Brasil, nesse quadro, tem dimensão explosiva: em nome dos princípios democráticos que devem nortear a relação entre os Estados, o governo brasileiro não se limitou a “condenar” o regime golpista, nem se contentou com sanções limitadas. Isso pode inaugurar uma nova etapa na relação do Brasil com a comunidade mundial das nações, e abrir o caminho para novos desdobramentos democráticos na
América Latina.

Exagero? Excesso de otimismo? Precipitação na análise política? Dificilmente. Vamos aos fatos:

1. A
América Latina e o Caribe tornaram-se mais importantes do que nunca para os Estados Unidos, após o fiasco no Iraque e no Afeganistão. Não “apenas” porque as reservas estratégicas de petróleo estadunidenses estão esgotadas, mas também por tudo o que representa a Amazônia em termos de reservas de petróleo, biodiversidade,
minerais e água.

2. Apesar disso, Washington fracassou em todas as suas tentativas recentes de “eliminar os obstáculos” ao seu controle da região. Não conseguiu tirar Hugo Chávez do poder, no golpe desferido em abril de 2002; fracassou ao tentar fabricar uma guerra civil para eliminar o governo de Evo Morales, em 2008; e, talvez mais humilhante ainda: ao tentar prolongar o acordo que permitia o funcionamento da base militar de Manta, no Equador, teve que aceitar o tapa na cara desferido por Rafael Correa (o presidente equatoriano respondeu que, sim, toparia renovar o contrato, se os Estados Unidos admitissem a instalação de uma base militar equatoriana na Flórida!).

3. O golpe em Honduras se inscreve nesse quadro geral. Os golpistas hondurenhos conseguiram, momentaneamente, aquilo que os demais tentaram sem sucesso.
Acreditar que as oligarquias hondurenhas arquitetaram o golpe sem o conhecimento da embaixada dos Estados Unidos é prova suprema de ingenuidade ou má fé (ou uma mistura dos dois). O embaixador estadunidense em Tegucigalpa foi colocado no cargo pela turma de George Bush filho. É partidário incondicional da Doutrina Monroe. É até possível que Barack Obama tenha sido pego de surpresa, mas jamais os serviços secretos dos Estados Unidos. Em qualquer hipótese, é bastante óbvio que Washington, por mais que tenha condenado o golpe, não ficou nada feliz com a adesão do presidente deposto Manuel Zelaya à Alba (Alternativa Bolivariana para América Latina e Caribe) e ao Petrocaribe (Organização que prevê uma aliança em matéria pertoleira. A iniciativa é do Governo Bolivariano da Venezuela).

4. Barack Obama emite sinais contraditórios e incoerentes, o que é uma prova de falta de um plano estratégico para enfrentar a situação. Ou falta de força para aplicar de forma coerente e decidida uma estratégia qualquer. De um lado, Obama proclama “o fim da era em que os Estados Unidos davam as cartas” na América Latina. De outro lado, prolonga o boicote econômico a Cuba, mantém o Plano Mérida para o México
e para a América Central, e o de instalações de bases militares na Colômbia.

5. Mas Obama enfrenta uma inédita demonstração de resistência e reprovação por parte da imensa maioria dos governos latino-americanos.
É nesse ponto que ganha grande relevância o papel assumido pelo Brasil. Nos últimos meses, o presidente Luís Inácio Lula da Silva emitiu claros sinais de uma “virada à esquerda” na política externa. Ao anunciar a descoberta do pré-sal, por exemplo, denunciou imediatamente os movimentos da Quarta Frota dos Estados Unidos (encarregada de “vigiar” os mares da América Latina e do Caribe), estabelecendo um nexo entre as coisas. Depois, Lula demonstrou preferência pelos aviões de guerra da França, sob alegação de que a estadunidense Boeing não transfere tecnologia. Em seguida, Lula condenou o prolongamento do bloqueio a Cuba e declarou a intenção de interpelar Barack Obama sobre o assunto. Finalmente, o Brasil acolheu Manuel Zelaya como presidente legítimo de Honduras. (Caros Amigos)

*José Arbex Jr. é jornalista


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