Em público, José Serra esquiva-se de assumir a candidatura presidencial. E nega o desejo de compor com Aécio Neves uma chapa puro sangue do tucanato.
Em privado, o governador de São Paulo desdiz tudo o que afirma sob holofotes. Sua posição foi acomodada em pratos asseados há oito dias.
Serra reuniu-se em Brasília com dois aliados –um grão-tucano e um dirigente do DEM. Foi à mesa o desconforto dos ‘demos’ com as hesitações do governador.
O interlocutor do DEM foi ao ponto:
— O partido sente insegurança na sua candidatura. Não sabemos se você é o candidato ou não. Você é o candidato?
— Eu sou o candidato, Serra respondeu.
O dirigente ‘demo’ emendou uma segunda pergunta:
— Posso dizer isso à minha tropa?
— Pode dizer, Serra completou, em timbre categórico.
Na sequência, sem que ninguém o provocasse, Serra disse que, a depender do seu desejo, Aécio Neves vai à chapa de 2010 na condição de vice.
Serra foi lembrado acerca do óbvio: é preciso combinar com os russos. No caso do PSDB, o "russo" é mineiro.
Recordou-se a Serra que o governador Aécio Neves recusa o papel secundário na chapa. Prefere ser protagonista no Senado a coadjuvante no Planalto.
Serra concordou. Mas deu a entender que não jogou a toalha. Espera que a conjuntura quebre as resistências de Aécio.
Nesta terça (27), de passagem por Brasília, Aécio foi à mesa de almoço com o presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ).
O mesmo Rodrigo que, nos últimos dias, destila irritação com Serra nas páginas dos jornais. Um veneno que revigorou Aécio.
Conversaram sobre a antecipação do calendário eleitoral. Coisa imposta por Lula, que corre o país com a presidenciável oficial Dilma Rousseff.
Aécio repisou uma tecla que vem pressionando há semanas: acha que o PSDB precisa se definir, no máximo, até janeiro de 2010.
Na reunião reservada de uma semana atrás, Serra dissera que não contempla a hipótese de levar a candidatura à vitrine antes de março de 2010.
Trata-se de grave erro, na opinião de Rodrigo Maia, endossada por um pedaço expressivo do DEM.
No almoço com o presidente ‘demo’, o “russo” de Minas disse que não abre mão do menos elástico.
Aécio deu a entender que, à falta de uma definição no tempo que considera razoável, vai cuidar da vida. Significa dizer que voltará os olhos para o Senado.
Além de avistar-se com Rodrigo Maia, Aécio desperdiçou um pedaço do seu tempo em Brasília em conversas com lideranças do seu partido.
Repetiu ao tucanato: não será vice de Serra. Para usar as palavras do governador mineiro: não vai a 2010 “na garupa de ninguém”.
Também nesta terça (27), o senador Eliseu Resende (DEM-MG) revelou, numa reunião da bancada ‘demo’, uma suspeita.
Coisa recolhida nos subterrâneos da política de Minas: descartado como alternativa presidencial, Aécio tentaria emplacar um outro candidato a vice mineiro.
Segundo Eliseu, Aécio trabalharia para empurrar para dentro da chapa de Serra o atual vice-presidente do PPS, Itamar Franco. Uma ideia que deixa a tribo 'demo' de cabelos hirtos.
Escrito por Josias de Souza às 04h08 (Folha de S. Paulo)
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