segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Arrudagate: "se puxar o fio, será um tsunami político", diz especialista


Leandro Kleber, Contas Abertas

“O suposto esquema de pagamento de propinas envolvendo membros do Executivo e Legislativo do Distrito Federal é uma prática que ocorre, neste momento, em outros lugares do país, porque o problema central está na apropriação do orçamento público para fazer negócios privados. Essa constatação é do experiente cientista político de Brasília Antônio Flávio Testa, que em entrevista ao Contas Abertas ainda afirmou que os deputados da Câmara Legislativa do DF, salvo “muito poucas exceções, apresentam uma performance política e ética muito aquém do mínimo aceitável numa democracia”. “É difícil avaliar a atuação de políticos que se corrompem e utilizam meias para guardar dinheiro de propina e justificam esse ato como se fosse para preservar sua integridade física”, diz. “Esse tipo de político [que fez a 'oração da propina'], desprovido de qualquer dosagem de escrúpulo, de ética, de senso crítico, deveria ser banido do sistema político e do religioso. Pois desonram, com essas práticas, tanto o Parlamento como o tabernáculo, que lhe dá sustentação eleitoral. Os péssimos exemplos são muitos. As boas ações ainda são invisíveis, se é que existem”, avalia. Segundo Testa, o sistema de governo no país está bem corrompido. "Mensalões são usuais na prática política brasileira. No Brasil, política é a disputa entre grupos privados pelo controle do patrimônio público. Se puxar o fio de meada, com transparência, o efeito será de um dominó caindo sobre o outro. Um tsunami político", acredita.

CA - Como o senhor avalia essa crise pela qual passa os poderes Executivo e Legislativo do Distrito Federal, respingando um pouco ainda no Ministério Público?

Testa - A relação entre os Três Poderes revela uma articulação para fazer prevalecer interesses de grupos que estão no comando desses poderes, sobretudo do Executivo e do Legislativo, mas supervisionados pelo Judiciário. Na prática, ocorre a captura desses poderes por grupos que se revezam no comando das máquinas de governo, executiva e legislativa, com aliados poderosos no Judiciário. Isso leva a uma lógica funcional que impede a fiscalização mútua entre os Três Poderes. Acontece o contrário: um tipo de cooptação que leva a um mecanismo de proteção mútua entre os poderes, mantendo os interesses corporativos dos grupos que estão no comando das instituições de governo.

CA - Há anos, muito se critica o comportamento ético de boa parte dos deputados distritais da Câmara Legislativa do DF. No entanto, todos que ali estão são eleitos democraticamente pelos cidadãos. Não há uma contradição nessa questão?


Testa - Aparentemente sim. O processo eleitoral é democrático, mas o sistema político funciona de forma a induzir o eleitor a escolher candidatos que, na maioria das vezes, pertencem a corporações econômicas, militares, policiais, religiosas, sindicais e outras oligarquias, com interesses particulares muito bem definidos.
Uma vez eleitos, atuam muito mais como representantes dos interesses dessas corporações do que em defesa da sociedade, do bem comum. A Câmara distrital é um exemplo real desse fenômeno. São poucos os parlamentares que atuam como representantes da população. É uma Câmara corporativista e distanciada profundamente dos interesses e das necessidades da população. A grande contradição está exatamente nesse fato: a população eleje candidatos que irão trabalhar intensamente para viabilizar interesses de grupos privados, além de interesses pessoais. Não há, salvo poucas e notórias exceções, parlamentares distritais que apresentam um desempenho compatível com a dimensão geopolítica do Distrito Federal. Os cidadãos são iludidos por um sistema político eleitoral enganoso, que cobra seu voto, mas não garante o retorno qualitativo dessa escolha.” Entrevista Completa, ::Aqui::

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