Em Confesso que Vivi (Memórias), Pablo Neruda desnuda sua alma genial, generosa e indelével. A carga semântica que emana de suas palavras é como um trovão silencioso a nos sequestrar da letargia que, muitas vezes, nos consome e nos entorpece. As imagens construídas por Neruda são imagens de quem escreve com mãos de anjo, com alma de anjo. É isso que sinto, depois de iniciar a releitura dessa magnífica obra. Magnífica, porque simples e sincera.
Nas primeiras páginas, um fragmento me faz refletir sobre a realidade indígena. Ela não parece seguir um percurso único de degradação, desprezo, escravização e extermínio... Ela segue! Ela, a realidade indígena, apresenta as mesmas nuances de uma morte anunciada desde os tempos da colonização que ainda se perpetua. Isso não é ficção. No choque de culturas e no processo de aculturação a que os índios, em qualquer parte da América, foram e são submetidos não há sutilezas... Há, sim, uma surda e ancestral dor...
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Realidade dos kaiowás é pior do que a ficção
"Uma das maiores forças do filme 'Terra Vermelha', de Marco Bechis, é fazer um retrato ficcional da situação dos kaiowás sem quase nada exagerar ou excluir da realidade. Bechis nos deu suicídios, a tragédia pela qual oskaiowás eram mais conhecidos até pouco tempo atrás. Mas poupou-nos de outras cenas chocantes do cotidiano do grupo, como a de índios revirando o lixão de Dourados e a das mortes de dezenas de bebês por desnutrição. Quem diz que há muita terra para pouco índio no Brasil deveria passear pelo sul de MS, onde um território tradicional de mais de 6 milhões de hectares foi retalhado em 'ilhas' com no máximo algumas centenas de hectares cada uma. Nelas espremem-se 30 mil índios de dois grupos guaranis (kaiowás eñandevas). Resta aos kaiowás venderem sua força de trabalho como bóias-frias, empregadas domésticas ou peões de fazenda". (artigo de Claudio Angelo - FSP, 28/11, Ilustrada, p.E6.)

(Foto de Antonio Viegas, cedidas pela Gazeta do Estado-MS)




(Foto de Antonio Viegas, gentileza do Correio do Estado-MS)

Fonte: Coração e Espírito Indígena (AQUI)
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