Por DiAfonso
Repercutem, na blogosfera, as discussões em torno do que o presidente LULA disse de fato e aquilo que alguns portais e sites da internet publicizaram. Eis o pomo da discórdia, por assim dizer:
"AS IMAGENS NÃO FALAM POR SI"
(Esta frase foi publicada por alguns veículos de comunicação e disseminada com falhas interpretativas por alguns blogs e sites)
Vale ressaltar que LULA não usou o verbo no plural. Conforme áudio do vídeo (ver link abaixo), LULA diz, textualmente: “imagem não fala por si”. Evidente que não há, aqui, problema algum, pois o redator poderia, por uma questão de formatação para o corpo de sua matéria, fazer uso do núcleo do sujeito no plural (“imagem” por “imagens”), desde que não atribuísse essa mudança sintática ao presidente, claro.
O problema, ao que parece, resume-se ao isolamento da referida frase, pois não se fez menção àquilo que foi dito pelo presidente LULA no encadeamento de sua fala.
Analisando à luz dos conceitos da Semântica Linguística e da Pragmática e seu objeto de estudo (limite e/ou interação), podemos avaliar o episódio, teoricamente, da seguinte forma:
1. A partir do que, propositalmente, noticiou a imprensa golpista, alguns sites se deixaram levar pela leitura da superfície textual.
2. Ora, um texto não é e nunca será sua superfície. É muito mais que isso.
3. Um texto se assemelha a uma teia de aranha: se um fio se parte, parte-se a vida da teia.
4. Nesse sentido, o texto é um conjunto de partes que devem se compor. É um ir e um vir constantes para que a progressividade discursiva ganhe fôlego e sedimente a alma do próprio texto, preservando-lhe a existência.
Conforme nos propõe a professora Maria Aparecida L. Pauliliukonis (Curso de língua portuguesa: da teoria à prática, Semântica e Léxico do Português. 2ª ed. – Rio de Janeiro: Fundação Trompowsky, 2009, p. 16), o papel da semântica é o de “[...] explicar o que os termos, as sentenças (ou as proposições) significam, no sentido denotativo, ou de primeiro nível [...]”. Assim sendo, temos:
· O presidente afirmou que “A imagem não fala por si”, ou seja, a imagem não teria o poder de “dizer algo” além do que as imagens veiculavam: alguém entrega dinheiro a outro alguém em um determinado ambiente. Um dos personagens, exatamente aquele que recebe uma quantia em dinheiro, é o Governador do DF José Roberto Arruda (DEM). Só e somente só. As conclusões advindas das cenas deverão estar ligadas a um outro estágio interpretativo, notadamente, no campo da pragmática.
Ainda de acordo com a professora Pauliliukonis, cabe à pragmática delimitar o “[...] significado das frases, em função de um contexto dado” (idem, ibidem). Desse modo, a análise deverá ser conduzida considerando quem enuncia e em que contexto situacional o enunciado está inserido. Dessa forma, avalia-se que:
· O enunciador é o Presidente do Brasil. Representa um dos poderes constituídos, qual seja, o Executivo. Há outros dois poderes: o Legislativo e o Judiciário. Apenas a este último cabe o poder de julgar.
· O enunciador não poderia, na condição de Presidente da República, emitir juízos de valor, atropelando as instâncias de poder estabelecidas e, por outro lado, gerar uma crise política e institucional desnecessária.
· Por fim, o que o Presidente Lula afirmara carece de continuidade discursiva, uma vez que a frase foi, por má-fé, podada de um segmento maior.
Esse destroncamento da frase é que "[...] está levando analistas e leitores a interpretações equivocadas [...]", como bem disse o Luiz Carlos Azenha (Vi o Mundo); ou, ainda, passa aos leitores mais desavisados o entendimento de que "[...] Lula é conivente com a patifaria do DEM, ou no mínimo está passando a mão na cabeça deles [...]”, como bem colocou Carlinhos Medeiros (Bodega Cultural).
A seguir, trecho completo da entrevista. Façam suas considerações, caros leitores e leitoras:
Jornalista: As imagens não falam por si ali, Presidente?
Presidente: Não, mas vamos aguardar. Imagem não fala por si. O que fala por si é todo o processo de apuração, todo o processo de investigação. Quando tiver toda a apuração, toda a investigação terminada, a Polícia Federal vai ter que apresentar um resultado final, um processo, aí anuncia. Aí você pode fazer juízo de valor. Mesmo assim, quem vai fazer juízo de valor final é a Justiça. O Presidente da República não pode ficar dando palpite, se é bom, se é ruim. Vamos aguardar a apuração.
Vídeo.
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