Velhos Tempos...

Recentemente, estive revolvendo o baú, como se diz. Entre papéis envelhecidos e objetos que já perderam sua serventia, eis que encontro uma fita-cassete (!) com músicas antigas. Certamente não as ouvirei, pois a imprestabilidade da fita é inominável e equipamento algum teria o dom de fazer voltar à vida as gravações naquela fita. Leio os títulos datilografados das canções adormecidas na fita BASF. Um dos títulos chama-me a atenção: MENINA DA LADEIRA, de João Só.

Sento-me no cerâmica fria e ponho-me a rir como quem busca uma cumplicidade que não mais existe. Volto aos meus oito anos e o sucesso daquela música eclode como se o passado se fizesse presente para sempre. Na minha memória longínqua, aquela letra simples e encantadora recebe um sopro de vida e passo a reviver fragmentos de minha infância. À lembrança vêm-me os momentos singulares cujo pano de fundo era aquela composição de João Só. Um, particularmente, faz-me rir ainda mais: quando encontrávamos algumas meninas do bairro onde morávamos, eu e meus amigos apontávamos o dedo para elas e cantarolávamos: "Menina que mora na ladeira / E desce a ladeira sem parar / Debaixo do pé da laranjeira / Se senta pra poder descansar / paparapapapa..." (bis)... Disso não saíamos. Até que um dia uma delas nos desafiou a cantar toda a música. Pronto! A desgraça estava feita! Traçamos um plano. Como éramos quatro, estabeleceu-se que cada um ficaria com a responsabiliade de ouvir, pelo rádio, um trecho de MENINA DA LADEIRA, decorar e depois repassar aos demais. Acontece que apenas dois possuíam o dito equipamento em casa. Refizemos os planos e nos dividimos aos pares. No começo foi uma confusão só, mas aos poucos fomos nos acertando e não havia uma oportunidade que escapasse à saga do cantadores de MENINA DA LADEIRA. Onde estava uma ou mais meninas, lá estávamos nós a cantar em coro toda a letra, sendo este que vos escreve o mais desafinado de todos. Mas isso não tinha importância e ainda hoje não tem (continuo sendo o cara mais desafinado do mundo), o bom era poder fazer aquilo com a alma de criança como se adultos fôssemos.

Em homenagem aos meus amigos perdidos (nunca mais os encontrei, desde que fui embora do bairro) e aos novos que conquistei, apresento o vídeo de João Só. Em especial, dedico esta postagem aos Cumpadis Luiz Eurico (Lula), Júlio Garcia, Gilvan Freitas (o Terror do NE), Giovani Morais, Oni Presente, Saraiva, Daniel Pearl, Carlinhos Medeiros, Cappacete, Luiz Antonio, Luis Nassif, Zé Carlos e às Cumadis Jussara Seixas e Hilda Suzana.

Velhos tempos...