Tem neguinho que sabe me tirar do sério.
Assisti ao vídeo que o Bóris Casoy diz:
"Que merda! Dois lixeiros desejando felicidades do alto da suas vassouras... O mais baixo na escala do trabalho..."
Merda? Merda é eu ter que ligar minha TV e ver a cara de um sujeito desses tentando se retratar publicamente no primeiro dia do ano, dizendo:
"Ontem, durante o intervalo do 'Jornal da Band', em um vazamento de áudio, eu disse uma frase infeliz, que ofendeu os garis. Por isso, quero pedir profundas desculpas aos garis e aos telespectadores do 'Jornal da Band'."
Agora eu pergunto: Esse arrependimento é real? Sincero? Coisa nenhuma. A única sinceridade que existe aí é a de que ele se arrepende, não pela ofensa, mas, certamente, pelos microfones estarem ligados, ele se arrepende de arranhar sua imagem pública e teme prejudicar a audiência do canal. No mais não há arrependimentos.
Gente como o Bóris não acha que os indivíduos sejam diferentes: eles têm certeza!Claro que não vamos isolar o Bóris, infelizmente, um grupo enorme o acompanha e se diverte diariamente com esse tipo de piada, um grupo que evoluiu nos mais diversos aspectos: social, cultural, científica, política e financeira e, por isso, julga-se melhor e mais digno de credibilidade que todos aqueles que “ficaram para trás”.
Julgar-se superior torna a pessoa mais segura? É o que parece na maioria das vezes. Muita gente, para sobressair só conhece um caminho: rebaixar o outro. Um sujeito que nunca tirou o lixo da sua própria casa, certamente, não sabe o que é passar dias e noites com aquele cheiro do lixo dos outros impregnado, não só nas roupas, mas no corpo inteiro, exalando pelos poros. Eu não sei o que é isso. Mas penso que não é uma escolha, nenhuma criança na escolinha, nas aulas de profissão diz:
- Quando eu crescer quero ser gari!
Mas nem sempre a vida nos dá opções e, às vezes, essa surge como uma grande oportunidade para construirmos uma vida digna e dar aos nossos filhos melhores oportunidades. É um trabalho honesto. Nunca é vergonha trabalhar. E é isso que todos deveriam ensinar aos seus filhos, é isso que o Bóris deveria ter aprendido, algum dia, para não se dar o direito de dizer em rede pública um absurdo daquele. A dignidade está no trabalho e não no tipo de profissão, porque precisamos dos garis, como precisamos dos médicos, dos apresentadores de jornal, dos taxistas, das professoras, dos padeiros, dos caminhoneiros, dos dentistas, das empregadas domésticas e todos mais. Precisamos de todos esses profissionais, então, deveríamos parar um pouco, aproveitar que é início de ano e as pessoas estão mais dispostas a mudanças e pensar duas vezes antes de fazer piada com o que é importante para todos, com o que faz parte do que somos.
Eu quero apagar da minha memória as risadas e a frase estúpida do importante bóris casoy, o mais rápido possível, e quero lembrar durante todo o ano o sorriso sincero e a esperança nos olhos dos GARIS ao me desejar Feliz Ano Novo. Do alto de suas vassouras eles sabem o que é a vida e o que é desejar, a cada ano, que ela seja melhor. Eu compartilho dessa expectativa.
Eu ergo todas as vassouras da minha casa e do alto delas afirmo: Eu quero guardar o que vale a pena e varrer o que é, verdadeiramente, um lixo.
Adélia Carvalho
Um comentário:
Esqueceu-se o nazi-fascista que nos concursos para garis, muitos dos candidatos são engenheiros, advogados etc que buscam no trabalho de gari manter suas dignidades.
Dói uma concessão pública abrigar uma coisa como essa excrecência.
Postar um comentário