Segue o samba do Globo Doido
Meus queridos e assíduos leitores estão cansados de saber que não há a menor possibilidade de Aécio Neves vir a ser o vice de Serra. Há pelo menos três meses, estivemos acompanhando, passo a passo, o afastamento de Aécio não só em relação ao Serra, como ao próprio PSDB e seu discurso velho e inadequado. Foi Aécio, aliás, quem primeiro denunciou a obsolescência do posicionamento ideológico tucano, cujo neoliberalismo ficou totalmente comprometido pela Grande Crise Norteamericana. Não que o mineiro seja muito mais progressista que o paulista. Apenas, ele viu antes que não dava para enfrentar o lulismo em ascensão, carregando nas costas o FHC e suas teorias do já distante século passado.
O clímax do afastamento ocorreria em novembro, quando Aécio recebeu Ciro Gomes no Palácio das Mangabeiras. E o intrépido e eclético cearense de Pindamonhangaba não deixou por menos: referiu-se a Serra como “o Coiso”.
Enfim, estivemos atentos, estes meses todos, ao humor político desta fase pré-eleitoral e seus principais personagens. Mas procuramos não ficar na superfície da mera intriga. Procuramos combiná-la com as forças subjacentes que são o verdadeiro motor da política e da História, aqueles confrontos muitas vezes disfarçados, mas permanentes, dos interesse sociais de classe. Numa palavra: a ideologia e seu contexto.
Pois não é que o Ricardo Noblat resolve, nesta segunda-feira, “informar” a seu leitores que Serra ainda sonha (e, pior, ainda poderá) ter Aécio como vice.
Se fosse apenas desinformação, vá lá. Mas é um misto disto com falta absoluta de respeito aos leitores tratados como rebanho, massa de manobra ou moeda de troca. É provável que Noblat saiba que Aécio jamais venha a ser o vice de Serra. Mas, por espírito de bajulação ou por ordens lá de cima, resolveu injetar um pouco de oxigênio no balão apagado da candidatura tucana. Aécio era realmente e a última esperança de Serra. Esperança que ele desdenhou durante meses a fio, a ponto de perder um aliado e ganhar um desafeto ao mesmo tempo. Bobagem dizer que em política tudo é possível. Há elementos que não dão liga. Por isso é mais correto dizer que política é a arte do possível.
Então, o que encontramos por trás desta notícia sem pé nem cabeça oferecida por Noblat a seus leitores. Temos o rebuliço em que se transformou a Maison Marinho desde que todas as evidências passaram a apontar para o fim do ciclo neoliberal. Num dia, nos aparece seu escriba-mor, o Merval Pereira, e passa uma espinafração no Serra e do Sérgio Guerra, presidente do PSDB, só porque eles insinuaram a possibilidade de uma leve correção, à esquerda, da macroeconomia, com uma intervenção maior no câmbio. Em seguida, aparece Miriam Leitão e diz, fazendo coro com Merval, que não dá para entender a nova posição tucana, “é o Samba do Crioulo Doido”. Finalmente, Noblat, como que querendo colocar panos quentes, nos dizer que “Serra vai muito bem obrigado” e “fará o possível para não confrontar com Lula”. Que temos finalmente? O fim das oposições ou a segunda parte do Samba do Globo Doido?
O ideal é que esta matéria seja lida de forma combinada com as publicadas nos últimos dois dias, na coluna Coisas da Política.
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