Na noite de sexta-feira, o âncora de um telejornal da TV Bandeirantes, Bóris Casoy, teve que apresentar pedido de desculpas por comentário ofensivo que fez a dois varredores de rua (garis) durante a apresentação de reportagem da emissora da família Saad em que estes trabalhadores desejavam boas festas ao público.
O jornalista teve que pedir desculpas aos telespectadores e aos garis porque não se deu conta de que o áudio estava ligado durante o intervalo comercial, enquanto ele fazia um comentário absurdo sobre os garis, ridicularizando a profissão deles e desdenhando de seus votos de bom Ano Novo.
Conheci Bóris Casoy pessoalmente faz cerca de nove anos. Foi num evento promovido pela Folha de São Paulo em comemoração aos 80 anos do jornal. O então ombudsman da Folha, Bernardo Ajzemberg, foi quem me convidou. Eu era um dos leitores mais publicados na seção de cartas daquele veículo.
Até então, jamais tinha visto um político na frente, apesar de todos os dias escrever artigos sobre política tanto quanto hoje, os quais enviava para listas de e-mails e para sites como o Observatório da Imprensa. Assim sendo, naquele evento me senti como uma criança na Disneylândia.
Estacionei na garagem da Sala São Paulo, elegante complexo de convenções que fica no centro velho da capital paulista, próximo à Estação da Luz (uma estação ferroviária), paradoxalmente localizado numa região da cidade conhecida como “Cracolândia” por abrigar toxicômanos, população de rua, prostitutas e travestis.
No elevador que de fato me elevava do subsolo até o primeiro piso, onde acontecia o evento, encontrei com José Sarney e com Claudio “elite branca” Lembo. Dali em diante, digo que estavam TODOS os políticos por lá, inclusive do PT.
Lembro-me bem de como Eliane Cantanhêde, que trocou algumas palavras comigo, paparicou a então prefeita Marta Suplicy quando ela apareceu. E de como Clóvis Rossi fez trocadilho com as iniciais que eu usava ao assinar textos rápidos, EG. Rossi fez trocadilho com EJ, de Eduardo Jorge, ex-secretário de FHC então metido num escândalo rumoroso.
No mais, apesar de se mostrarem condescendentes com seus fãs – e eu, de alguma forma, era um deles, pois acabara de trocar o Estadão pela Folha atraído pela então maior pluralidade deste jornal –, aqueles colunistas e apresentadores de tevê ou rádio que ali estavam, bem como os políticos, portavam-se todos como verdadeiros demiurgos em meio à ralé mortal.
Devido ao ar de superioridade condescendente daquela fauna política e jornalística que, na melhor das hipóteses, tentava sorrir com uma amabilidade absolutamente enfadada para os convidados, decidi aproveitar para saber mais sobre ela, puxando conversa com aqueles que me interessavam mais.
Falei com José Genoino, com Ciro Gomes e com Marta Suplicy... Ah, e com o Paulinho da Força Sindical. Além dos políticos, falei com Clóvis Rossi, Eliane Cantanhêde, Fernando Rodrigues e outros jornalistas, incluindo um que se portou como um verdadeiro animal comigo, o tal de Bóris Casoy.
Aproximei-me dele enquanto conversava com um grupo. Fiquei de lado esperando uma brecha para cumprimentá-lo e talvez perguntar alguma coisa, pois pretendia escrever um “post” sobre aquela experiência. Travou-se, então, o seguinte diálogo:
- Boa tarde. Gostaria de cumprimentá-lo, sou espectador de seu telejornal.
- Você é uma pessoa de muita sorte, então.
Com essa resposta, Casoy me deu as costas e continuou conversando com seu grupo.
A verdade, meus caros, é que esses colunistas, âncoras de telejornal, apresentadores de programas jornalísticos, a fauna midiática, enfim, acredita-se superior ao “resto” da sociedade. São todos iguais, com poucas exceções. Eles se sentem mesmo superiores e não é só em relação a garis. Pessoas comuns como nós são vistas por eles como algo que tiraram dos ouvidos ou do nariz.
Agora, vocês imaginem uma emissora de televisão aberta, uma concessão pública, ter um sujeito como Bóris Casoy – que, para mim, é um sociopata – dando suas opiniões vulgares, arrogantes, facciosas como se fossem as pérolas definitivas do pensamento humano, todos os dias, em horário nobre. É uma ameaça à sociedade dar esse espaço tão importante a gente com esse caráter.
E alguém acha que Willian Bonner é diferente? Este, por sua vez, chamou seus telespectadores de Homer Simpson, numa alusão a uma suposta baixa capacidade intelectual deles. Despreza seu público de forma acintosa e a impressão que se tem é a de que se gaba de que este não nota.
Mas o interessante é que quando Casoy me destratou naquele evento da Folha, fiquei pensando comigo, depois ao chegar em casa, que uma pessoa pública com aquela postura arrogante, animalesca, algum dia seria desmascarada. Acredite quem quiser: eu pensei isso de verdade.
Porque é muito simples, pessoal: o sujeito pode enganar algumas pessoas por muito tempo ou muitas pessoas por algum tempo, e, inovando no dito popular, pode enganar muitas pessoas por um bom tempo, mas é certo que não poderá enganar a todos para sempre. Sobretudo hoje em dia, com a internet.
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