GUERRILHEIROS VIRTU@IS/Blog da Dilma: Senadora, conte-nos um pouco da sua história.
Senadora Serys: Fui professora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), chefe do Departamento de Educação e coordenadora do Centro de Letras e Ciências Humanas por eleição direta, as primeiras que disputei na minha vida. Em 1985, assumi a Secretaria de Educação de Cuiabá e em 1987, a Secretaria Estadual de Educação no meu Estado, Mato Grosso. Foi um período considerado revolucionário pelos estudiosos da educação. A ordem era não deixar nenhuma criança fora da escola. Tinha aula até embaixo de mangueira. Chegamos a alugar pequenas casas, em bairros, colocamos 20, 30 cadeiras escolares e passamos a dar aula ali, até conseguir novas escolas. Foi uma luta árdua, mas conseguimos.
Quando ninguém falava em democratização na escola pública, fui a primeira a defender, em Mato Grosso, a eleição direta para diretor. Isso era imprescindível e hoje é uma alegria ver que esse processo democrático é uma realidade. Tenho muito orgulho de ter começado minha vida pública na área da educação. Fui professora – de sala de aula, com giz na mão – por 28 anos e a educação é uma bandeira firme que carrego até hoje.
Depois de ter ocupado a pasta da educação, fui eleita, em 1990, deputada estadual. Permaneci na Assembleia Legislativa de Mato Grosso por três mandatos consecutivos, com grandes conquistas. Em muitos momentos, lutei sozinha na Assembleia pelos direitos da Mulher e pela consolidação de direitos básicos, como acesso à moradia, saúde e habitação e principalmente no apoio à luta pela terra em um Estado marcado profundamente por conflitos fundiários, muitas vezes sangrentos.
Em 2002, disputei o Senado Federal. Uma candidatura que ninguém acreditava! Como uma mulher, de um estado onde, infelizmente, ainda impera o machismo, iria ser eleita senadora da República? A resposta foi dada nas urnas, pelo povo de Mato Grosso que acreditou que era possível! E nós fomos lá e vencemos!
GUERRILHEIROS VIRTU@IS/Blog da Dilma: E qual a avaliação que a senhora faz de seu mandato como senadora?
Senadora Serys: Fiz o meu mandato por inteiro e tenho meu trabalho reconhecido dentro e fora do PT, dentro e fora de Mato Grosso. Reconhecido pelas mais diferentes categorias de trabalhadores que defendi de forma intransigente e pelas quais tenho sido homenageada em todos os rincões do país.
Consegui, ao longo desses sete anos, atuar em nível internacional, principalmente nas questões ambientais (sou a chefe da missão de parlamentares brasileiros para as ações que dizem respeito ao meio ambiente), também fui várias vezes, representar o Brasil na ONU (Organização das Nações Unidas), atuando em diversas frentes.
Nacionalmente, tenho atuado em vários segmentos, sempre na defesa do trabalhador, do meio ambiente, da agricultura familiar, da reforma agrária, da saúde e da educação. Enfim, assumi o compromisso, em minha vida pública, de defender, lutar e agir em nome desses ideais e tenho certeza que tenho conseguido cumprir esse papel, que me foi outorgado pelo povo de Mato Grosso.
GUERRILHEIROS VIRTU@IS/Blog da Dilma: Dentro da sua atuação parlamentar, o que a senhora poderia destacar para nossos leitores?
Senadora Serys: Fui autora de mais de 100 projetos de lei e relatora de mais de 200 projetos. Também atuo em várias Comissões do Senado Federal, como a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Comissão de Meio Ambiente (CMA), Comissão de Serviços de Infraestrutura (CI), Subcomissão Permanente em Defesa da Mulher, Subcomissão Permanente do Idoso, Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) e atualmente sou titular na CPI do MST. Além de cumprir com toda a agenda, como segunda-vice presidente na mesa diretora do Senado. Posso destacar, no entanto, alguns projetos que foram relevantes para o Brasil, como, por exemplo, o que criminaliza o crime organizado em nosso país.
Esse projeto de lei disciplina, define e tipifica o que é crime organizado e dispõe critérios para a investigação criminal, meios de obtenção de prova, crimes correlatos e procedimento criminal a ser aplicado.
A aprovação deste projeto, que apresentei em 2006, atendendo pedido de vários segmentos da sociedade, representa um avanço gigantesco para o nosso país no sentido de garantir um combate mais efetivo ao crime organizado, além de definir mecanismos de repressão e aumento das penas. Hoje, problemas como drogas, homicídios, guerra urbana, violência de um modo geral, estão ligados umbilicalmente e precisam ser atacados em sua raiz que é o crime organizado. Além da definição e repressão aos crimes, a proposição define novas penas para os cidadãos envolvidos de forma organizada para lesar outros cidadãos, o erário, empresas públicas e privadas etc. Esse combate é urgente e necessário.
Logicamente há ainda muitos outros projetos, dos quais fui autora ou relatora como o divórcio pela internet, o que dá indenização a passageiros vítimas de overbooking, o projeto que pune com reclusão de um a quatro anos pessoas que discriminarem os portadores do vírus HIV, projeto que assegura salários iguais para homens e mulheres que executam o mesmo trabalho, o da federalização das estradas, o que fomenta as atividades de reciclagem no Brasil, projeto que prevê revalidação para diplomas de graduação e pós-graduação obtidos em universidades estrangeiras, aquele que define a atividade de diarista, o que prevê o adicional de periculosidade de 30% para todos os vigilantes, a relatoria das cotas em universidades, o projeto que proíbe que os estabelecimentos comerciais poderão forneçam as tradicionais sacolas plásticas aos consumidores, entre tantos outros.
GUERRILHEIROS VIRTU@IS/Blog da Dilma: Esse projeto contra o crime organizado lhe rendeu alguns prêmios, não é?
Senadora Serys: Foi sim, mas não só esse projeto. Felizmente, meu trabalho tem sido reconhecido, por diferentes segmentos da sociedade. Em 2009, a ONG Transparência Brasil (http://www.transparencia.org.br/) fez um estudo que apontou os dez parlamentares que possuem proposições mais relevantes para o País. Figurei em 8º (oitavo) lugar. Sou única mulher e única representante de Mato Grosso na lista.
Fui citada por ter 62 proposições de impacto. A ONG listou as matérias consideradas de impacto em cinco categorias. As mais frequentes referem-se às questões sobre os códigos penal e civil, além das categorias educação; tributos e taxas; regulação política e controle da corrupção.
Meu nome também está entre as parlamentares com maior número de presenças em plenário no Senado Federal, segundo o levantamento do site de jornalismo Congresso em Foco (http://www.congressoemfoco.com.br/), feito no primeiro semestre de 2009.
O Instituto Legislativo Brasileiro (ILB) e o Instituto de Estudos Legislativos Brasileiro (IDELB) também me concederam o Prêmio do Mérito do Legislador 2008. A premiação destaca as iniciativas parlamentares de reconhecida relevância social. Foram 150 agraciados em todo Brasil.
Já recebi vários prêmios e condecorações por meu trabalho na defesa do meio ambiente. Entre eles, o Diploma e Medalha de Destaque Nacional em Meio Ambiente, Responsabilidade Social e Desenvolvimento Sustentável. O prêmio é concedido bienalmente, pela Biosfera, ONG fundada em 1989, que trabalha pelo desenvolvimento sustentável.
Das mãos do Presidente Lula, também tive o prazer de receber o Prêmio Mais Mulheres 2009 - que foi uma homenagem a apenas oito mulheres que ocupam espaços de poder e decisão e se destacam em suas áreas de atuação - e a Ordem Rio Branco na qualidade de Grão-Mestre, honraria para personalidades políticas, militares e culturais brasileiras, que visa estimular a prática de ações e feitos dignos. Há ainda, felizmente, muitas outras premiações que me enchem de orgulho, porque nada mais são do que o reconhecimento da sociedade do trabalho que desenvolvo.
GUERRILHEIROS VIRTU@IS/Blog da Dilma: A senhora acredita que seu trabalho a credencia a disputar a reeleição?
Senadora Serys: Não tenho nenhuma dúvida a respeito disso. Meu trabalho é reconhecido por prefeitos(as), vereadores(as) e moradores(as) de cada um dos 141 municípios de Mato Grosso, que sabem que trabalho 16 horas ou mais por dia, atrás de resolver cada problema, pequeno ou grande, que aflige nosso povo. Considero que estou mais preparada do que nunca para disputar novamente o Senado.
Sou a primeira mulher a ser eleita Senadora pelo PT de Mato Grosso, e a primeira mulher, em nosso país, a assumir a vice-presidência do Congresso Nacional e tenho muito orgulho disso, porque foi com a força de nossa militância e com a vontade do povo que cheguei até aqui. Nesse momento, em que estamos nos preparando para eleger a primeira mulher presidente de nosso país, creio, firmemente, de que minha participação nesse processo será fundamental!
GUERRILHEIROS VIRTU@IS/Blog da Dilma: O deputado federal Carlos Abicalil já manifestou, aqui nesse mesmo espaço, que deseja também disputar o Senado pelo PT de Mato Grosso. Como a senhora recebeu isso?
Senadora Serys: Não recebi essa notícia com naturalidade não. Acredito que o trabalho desenvolvido por mim no Senado Federal me credencia a disputar a reeleição. Minha história de luta, dentro e fora do nosso Partido, mostra que não sou uma mulher de fugir da disputa. Sempre que fui convocada, fiz a minha parte, são 22 anos construindo o PT, em meio a todo tipo de dificuldades e agora o que espero é, no mínimo, respeito.
Essa decisão do deputado Carlos Abicalil e de seu grupo político me deixa constrangida, porque ao lançar candidato, Abicalil, que é presidente do PT em Mato Grosso, provoca desagregação no Partido dos Trabalhadores. Atenta contra uma militante histórica, uma mulher e, por conseguinte, contra as conquistas de todas as mulheres, já tão poucas na política.
Estamos num momento de decisão dentro do partido! Vamos disputar a sucessão do presidente Lula. Minha convicção é de que temos a obrigação de buscar a unidade dentro do PT e com os partidos da base aliada do governo do Presidente Lula. Esse deve ser o objetivo maior da atual direção. Minha candidatura à reeleição ao senado é o caminho natural, portanto, reforça a unidade, amplia e oferece, em mato grosso, um palanque política e eleitoralmente consistente à nossa candidata a presidente da república.
GUERRILHEIROS VIRTU@IS/Blog da Dilma: E como contornar essa situação?
Senadora Serys: Estou muito tranquila em relação a isso. Lutarei até o fim para garantir minha candidatura, que é uma conquista não só minha, mas de todos os companheiros e companheiras do PT, por espaço e oportunidades iguais. Como mulher, não posso abrir mão desse direito conquistado a ferro e fogo com muito trabalho, suor e apoio de nossos companheiros petistas e cidadãos mato-grossenses. E, pelo que tenho sentido nas ruas, não querem que este trabalho seja interrompido sem a chance de ao menos tentar manter a continuidade.
Essa discussão, agora, será colocada para o partido e creio que, com muita serenidade, será feita uma reflexão e uma discussão coerente com nossa história e que e nos ajude a mostrar o quanto nosso trabalho foi relevante. Tenho certeza que ainda tenho muito a contribuir para o PT e para a sociedade mato-grossense. Minha candidatura é democrática e vai agregar ao palanque nacional e estadual.
GUERRILHEIROS VIRTU@IS/Blog da Dilma: E sua atuação no Senado não se restringiu apenas às questões regionais, ampliando para o nacional. Fale um pouco sobre seu trabalho na área internacional?
Senadora Serys: Sou presidente da Frente Parlamentar Mista para o Desenvolvimento Sustentável e Apoio às Agendas 21 e coordeno a delegação que acompanha os fóruns de Legisladores Mundiais, organizado pela Organização Mundial de Legisladores para um Meio Ambiente Equilibrado (GLOBE Internacional), para discutir as questões climáticas. Já participei de vários encontros em Tóquio, México, Estados Unidos, Dinamarca, Brasil, entre outros países.
Nossa preocupação está nas ações do homem na Terra. Como um dos resultados dessas reuniões, levamos à 15ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-15), em Copenhague (Dinamarca), várias sugestões e decisões para que o Brasil e outros países do mundo possam reduzir as emissões de gases do efeito estufa.
Já estive na Antártica, acompanhando uma equipe de pesquisadores, conhecendo o trabalho desenvolvido pelo Programa Antártico Brasileiro. Na ocasião, propusemos maior apoio ao PROANTAR que realiza pesquisas científicas sobre os fenômenos da região que repercutem globalmente, inclusive em território nacional.
Além do meio ambiente tenho sido convidada com frequência a participar das discussões internacionais sobre a questão da mulher, a luta contra a discriminação que na minha visão está cada vez mais clara como a "coisa" mais democrática do planeta, atinge mulheres em todo o planeta, não importando a classe social nem a posição que ocupa, vitimando inclusive mulheres, que como eu, se atreveram a furar a barreira da arena política. Recentemente estive na Espanha para prestigiar o “Encontro de Mulheres parlamentares rumo a uma agenda política para a igualdade de Gênero”, organizado pelo Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem). Propus na Organização dos Estados Americanos (OEA) que 2010 seja o Ano Interamericano da Mulher. Isso significa que durante este ano, todos os países membros da OEA deverão desenvolver atividades para promover a mulher, a igualdade no emprego e na política, por exemplo.
GUERRILHEIROS VIRTU@IS/Blog da Dilma: Estamos nos preparando para entrar no mês internacional da Mulher. Qual o recado que a senhora pode mandar para as mulheres brasileiras?
Senadora Serys: Ah (risos), que nossa hora é agora! Ao longo dos últimos anos, vimos mulheres, em todo o mundo, em especial na América Latina, conquistar o poder, a presidência de suas nações – exemplos recentes e muito próximos a nós são a presidente da Argentina, Cristina Kirchner e Michelle Bachelet, no Chile.
Os dois governos do Presidente Lula e o trabalho brilhante desenvolvido pela ministra da Casa Civil, Dilma Roussef em todos esses anos de governo, os credenciam a lutar com muita verdade por esse direito. Conforme pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), cerca de 32 milhões de brasileiros subiram de classe social entre 2003 e 2008. 32 milhões de brasileiros que avançaram socialmente entre 2003 e 2008, mais de 19 milhões saíram da classe E, e 1,5 milhão saíram da classe D, as duas mais pobres da escala sócio-econômica do país. Já as classes A e B, as mais ricas, ganharam 6 milhões de pessoas no mesmo período. A classe C, por sua vez, recebeu 25,9 milhões de brasileiros nesse período.
O governo do presidente Lula passará para a história como detentor do mais ousado programa social já implementado por um governante. Nem tudo está resolvido e nem poderia ser assim, senão seria muito fácil. Mas os números que a gente tem e apresenta, por si só, já dizem o que significa o governo do presidente Lula. O povo brasileiro quer isso e está preparado, tenho plena convicção, para eleger uma mulher presidente!
Entre em contato com a senadora Serys: serys@senadora.gov.br, serysenadora@terra.com.br
Acesse http://www.serys.com.br/ . Siga a senadora Serys pelo twitter: www.twitter.com/serys
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