sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Lílian Celiberti: de Oposicionista a Colaboradora da Ditadura por uma Preposição

Manchete original

Manchete atualizada


Por DiAfonso (Editor-geral do Terra Brasilis)

O Cloaca News (1) detectou o problema redacional na manchete do Zero Hora e o soltou como um gás mortífero na Blogosfera - chamada por JORNALISTAS das grandes corporações midiáticas como "fonte secundária" (2). Em segundos e pelos dedos do redator, Lílian Celiberti (3) passou de uma militante que se opunha à ditadura a alguém que colaborou com esse regime nefasto e produtor de aberrações "estratégicas" como a Operação Condor (4).


Essa transmutação ideológica deixa entrever duas variáveis:
  1. uma, de fundo histórico, diz respeito ao constrangimento pelo qual deve ter passado Lílian Celiberti ao ver sua aguerrida militância associada a um regime assassino - no Brasil, um neologismo foi criado por um jornalista imbecilizado com sua suposta autoridade para nomear eventos da magnitude infame da ditadura... A partir da imbecilidade desse "neologista", agora se chama DITABRANDA;
  2. a outra, concerne às dificuldades de alguns jornalistas em fazer uso da variante linguística prestigiada socialmente. Esta variante (denominada norma culta ou padrão) torna-se uma espada impiedosa contra as outras variações linguísticas de menos prestígio e tidas como "o falar errado dos ignorantes", para deleite dos preconceituosos.
É esse segundo ponto que a editoria-geral pretende abordar, pois está diretamente relacionado ao uso adequado das preposições quanto aos seus valores semânticos, a partir da perspectiva estabelecida pela referida norma culta ou padrão.

Preposição é aquela palavrinha destinada a ligar outras palavras ou orações, gerando uma relação semântica ou de sentido entre elas. O uso pertinente desse conectivo é norteado pela intenção de quem produz a mensagem e desembocará numa efetiva contribuição ao esforço interpretativo do interlocutor dessa mesma mensagem.

Assim é que, se o produtor da mensagem desejar indicar a relação preposicional entre um determinado ser e um determinado lugar no âmbito do valor semântico de origem, dirá, por exemplo: "Lílian Celiberti e Universindo Diaz haviam chegado de São Paulo"; entretanto, caso o mesmo produtor queira criar uma relação de destino, deverá enunciar: "Lílian Celiberti e Universindo Diaz haviam chegado a Porto Alegre".

Como se pode notar aqui, os valores semânticos das preposições exercem um papel fundamental no processo enunciativo. Esta importância foi desprezada pelo redator do Zero Hora (pouca habilidade no trato com a variante padrão ou pura má-fé?!?!... A editoria não pretende ensejar um julgamento, porquanto não é esta a finalidade da postagem). O que essa "negligência", na construção da manchete, causa? Causa um grande desgaste para a vida política de Lílian, porquanto gerou uma interpretação desvinculada do quadro histórico vivenciado por ela e nega sua opção libertária e democrática. O estrago só não foi maior porque o jornal, certamente após a investida fenomenal do Cloaca News, urgentemente atualizou as informações: A manchete passou a "dizer" quem realmente fora Lílian. Comparem as duas manchetes:
  1. Ex-militante DA ditadura e suposto sequestrador se encontram 32 anos depois na Capital (manchete original)
  2. Ex-militante CONTRA a ditadura e agente do DOPS se encontram 32 anos depois na Capital (manchete atualizada)
O confronto das duas preposições evidencia valores semânticos diversos: a) na manchete original, o DA (prep. DE + art. A) aponta para uma "definição" de quem era Lílian Celiberti - colaboradora da ditadura; b) na manchete atualizada, percebe-se a ideia, a partir do uso da preposição CONTRA, de que Lílian se opunha à ditadura.

Por fim, voltando ao que produziu o jornal na atualização da matéria, nota-se que o redator continua sem saber o que fazer com "as calça raigada nos fundos": ele muda também o subtítulo e se contradiz ao informar que João Augusto da Rosa, codinome IRNO, é EX-AGENTE DO DOPS. Na manchete, ele é AGENTE, mas no subtítulo... Não é mais... Interessante...

(1) Para ler a postagem do Cloaca News na íntegra, clique AQUI.
(2) Para ler o que o jornalista Fábio Pannunzio disse sobre a Blogosfera, clique AQUI.
(3) Para ler sobre Lílian Celiberti, clique AQUI e AQUI.
(4) Sobre a famigerada Operação Condor, clique AQUI.


7 comentários:

LEN disse...

Quanto mais eles tentam consertar mais porcaria eles fazem.

Falta de respeito modificar o título sem pedir desculpas a pessoa ofendida.

Cretinos, acham que podem reescrever a história.

Profdiafonso disse...

Caro Cumpadi LEN, boa noite!

Não há pedido de desculpas, não há direito de resposta para a mídia corporativa. Ainda bem que existe a Blogosfera para evidenciar o "modus operandi" dessa bandalha.

Abs!

no disse...

Muito bem colocado, professor! Vamos perdoar o relator da notícia, por falta de provas, distração, ignorância ou uma má fé que não dá mesmo prá provar. Mas, ele que fique com as orelhas erguidas porque é justamente a falta de comunicação a grande geradora de conflitos.

Um abraço prá Solange e prá Clarinha.

Profdiafonso disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Giovani de Morais e Silva disse...

Professor, manda um orçamento para o Zero Hora... Aula de reforço!!

Profdiafonso disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkk Tou sem tempo, cumpadi Giovani! kkkkkkkkkkkkkk Se eles quiserem, a gente vê uma forma de fazer o trabalho on-line... kkkkkkkkkkkkkk

Grande Abraço!

Profdiafonso disse...

Ruth, Bom dia!

Não só este redator, mas todos eles: Fiquem de orelhas em pé! De fato, a postagem não enseja um julgamento linguístico, apenas discorre sobre a necessidade de se ter atenção naquilo que se vai dizer com os recursos que a língua oferece. Claro que deslizes linguísticos ocorrem... o problema é quando o tal deslize se transforma numa intencional ação política (acredito que não tenha sido o caso do redator do Zero Hora...).

Agora, numa coisa o LEN tem razão: a mídia corporativa não se desculpa, sobretudo neste caso que, por um valor semântico inadequado ao contexto da matéria, enlameou a história da Lilina Celiberti.

Os abraços foram transmitidos, obrigado. E reenviamos um grande abração!

ps. Apaguei o outro comentário porque tinha ficado pela metade. Hannah Clara começou a chorar e eu tiver que dar o suporte... rsrsrs

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