Por DiAfonso*
Cena 1: "'Dr. X' já irá atendê-la, senhora". Prazeroso e reconfortante ouvir tais palavras de uma secretária em um hipotético consultório médico. Afinal, tudo leva a crer na enorme possibilidade de que a saúde do(a) paciente estará em boas mãos.
Cena 2: "'Dr. X' já irá atendê-la, senhora. Ele é um excelente médico formado pela Universidade de Mogi das Cruzes. Pode estar certa de que sua saúde estará em boas mãos". Estará? Talvez sim, talvez não. É possível que o tal "Dr. X" tenha adquirido as competências e habilidades necessárias ao exercício de tão nobre atividade e, em seu consultório, poderá se ver o diploma emoldurado, assim como outras tantas molduras, constatando a participação em congressos internacionais, cursos de especialização, seminários. Mas é possível também que, por trás do sorriso amável, das orientações médicas, exista um ser que, em determinada altura de sua vida acadêmica, tenha agido com uma crueldade incompatível com a profissão escolhida. Este "Dr. X", da Universidade de Mogi das Cruzes, pode ter feito parte, sim, de um determinado grupo de veteranos que anualmente humilha, agride e trata calouros com a perversidade exibida no Fantástico (28/02).
Este hipotético "Dr. X", em função de sua participação nos abomináveis atos veiculados, é um mau profissional? Não pode ter se redimido das atrocidades que cometera? Claro que sim... Isso também é possível. Mas... se persistir a ideia reconfortante do poder originado de seus atos execráveis? A condição de médico(a) nos leva à ideia do poder que ele(a) tem de lidar com a vida e com a morte. Se esse poder se misturar com o outro poder de humilhar e maltratar calouros? O(a) paciente estará em boas mãos? Eis o "X" da questão quando se tratar do tal "Dr. X" da Cena 2.
O que sobra disso tudo é a reflexão sempre imperativa de que o outro merece respeito, seja calouro ou não. O roteiro do trote aplicado na Universidade de Mogi das Cruzes, tomada aqui como exemplo, pode revelar mentes doentias que buscam o status social na condição de doutores e doutoras. Pensar que estamos sendo tratados por pessoas que cometeram barbaridades em nome de uma tradição que não se sustenta pela violência ascendente emanada desses trotes deve causar um mal à saúde enorme.
E o(a) paciente, ciente dos fatos, olhará para as paredes e, tristemente, perguntará a si mesmo: Como pode haver manchas de arrogância e desrespeito ao outro nessas molduras?
*Editor-geral do Terra Brasilis
Um comentário:
Fico consternada com esse tipo de ignorância, de maldade, sadismo e masoquismo da parte de alguns.
Há um projeto para converter os trotes em multa. A lei é mais do que justa e já é tempo de acabar com esse tipo de barbárie sem explicação que remonta à Idade Média prá trás.
Um estudante foi embriagado a força. Muitos estudantes correm perigo de sofrerem acidentes terríveis.
Se alguns calouros aceitam isso e desejam a brincadeira é porque estão acostumados desde pequenos a viverem num mundo cheio de sado-masoquismo onde a humilhação é uma fonte de prazer e faz parte de uma doença social generalizada.
Há formas bem mais edificantes de fazer brincadeiras como é o caso das adivinhações, dos brinquedos tradicionais da infância e da juventude que eram sem maldade, sem desperdícios e sem danos.
Um abraço e parabéns pelo assunto muito oportuno!
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