segunda-feira, 12 de abril de 2010

Um "Causo" Interessante: Quando o “Aécio” causa a “ursa”




(BR Press) – Uma das coisas que sempre tornavam o trabalho mais divertido no interior eram os vocábulos. Nada do estresse gratuito ou da neurose idiopática das grandes cidades. Nada disso.
A rotina consistia em saber o nome do vizinho, comer um bolo de chocolate na praça aos domingos e chegar no posto de saúde bem cedo, no frio da manhã de segunda-feira, para descobrir um bule de café cheiroso recém-passado brotando da copa.

- Pois não, seu Josemar, o que está havendo com o senhor hoje?

- Ah, doutor, eu tô tomando direitim os remédio da pressão. – Pega a sacola de plástico surrada e bem atada com um nó caprichoso e dela vai tirando e colocando sobre a mesa uma coleção de cartelas amassadas.

- Esse pequeninim aqui ó, o Aécio (AAS, anticoagulante), esse outro Lazico (Lasix, um diurético) e o Colorama (Clorana, outro diurético) pra módi forçar a urina, mas vou falar pro sinhô, num ando me sentino muito bem não.

Sigo o exame enquanto ele desenvolve a história. Pressão ok, ausculta cardíaca ok, mas pulso com frequência levemente aumentada. Pulmões jóia. Bem hidratado, talvez um pouco pálido.

- Hum.

- O pobrema é que já tem uns dias que ando sem apetite e obrando (evacuando) escuro. Acho que a ursa tá atacada.

- Como?

- A ursa, médico.

- ?

E ele aponta para a boca do estômago.

- A ursa.

- Ah…. a úlcera!


A endoscopia mostrou realmente uma ursa atacada. Mordida, até. Uma ulceração havia se formado no começo do duodeno. Provavelmente, desencadeada pelo Aécio. Não o político mineiro, mas o comprimidinho amarelo.

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