Juliana Dal Piva
Especial para Terra Magazine
Especial para Terra Magazine
De professor de piano do Teatro de Moscou a diretor-geral da única escola do Bolshoi fora da Rússia, Pavel Kazarian chegou a Joinville (SC), em 2001, obrigado pelo trabalho, mas ficou por opção. Agora, é um apaixonado pelo País e pela política nacional. "O que mais me impressiona é que o resultado das eleições pode ser muito imprevisível", disse.
Com um sotaque pouco perceptível, Kazarian contou a Terra Magazine que, diariamente, dedica uma boa parte do seu tempo para se informar sobre os acontecimentos do País em jornais, revistas e na internet. "Gosto da palavra escrita, mas não vejo televisão", contou. Ele acompanha os twitters dos três principais pré-candidatos. "Serra sempre escreve à noite, algumas vezes às três da manhã, e eu acredito que é ele mesmo que escreve", conta rindo.
Kazarian, no entanto, avisa que passará longe do horário eleitoral gratuito na televisão. Relutante, ele não acredita na sinceridade da "propaganda" e acha contraditório o espaço. "Quando aparece anúncio no intervalo do futebol, a gente desliga a TV. Então, é hipocrisia assistir". Ele lembra que na Rússia o horário não é gratuito para os candidatos - o que ocorre no Brasil.
Os motivos do interesse pela política nacional são compreensíveis. Como a escola do Bolshoi no Brasil se sustenta basicamente com as leis brasileiras de incentivo à cultura, ele precisa acompanhar os debates e as mudanças na legislação.
A política e as eleições o interessam naturalmente. Para ele, no Brasil, o debate é muito mais contemporâneo do que na Rússia e se volta ao que importa para o século 21. "O mundo se desenvolve e algumas questões importantes na sociedade não podem ser resolvidas apenas com o embate entre direita e esquerda".
Pavel, porém, se diz impressionado com o fato de as discussões sobre as mudanças estruturais brasileiras serem bastante debatidas no período eleitoral, mas caírem no esquecimento depois disso. "O político deveria ser idealista também depois da vitória nas urnas e deveria realizar os projetos. Todo mundo no Brasil sabe que tem questões mal resolvidas, como a reforma tributária, os impostos, o pacto entre os Estados, municípios e governos". Ainda assim, ele analisa que isso é positivo, enquanto não se tornar apenas "um jogo de promessas".
Nascido na União Soviética Comunista, ele acompanhou as mudanças russas e gosta de fazer comparações entre o Brasil e o seu país. Para ele, como na Rússia o partido dominante persiste no poder há três governos seguidos, o debate está de alguma maneira reduzido.
Outra diferença, diz o russo, é o perfil esperado para o líder na Rússia. "Lá, o político quer mostrar o lado forte da personalidade dele, se é capaz de tomar posição numa hora difícil. O povo russo gosta de ver um cara duro, o homem que faz e resolve. No Brasil, não, ele tem que mostrar um lado mais 'paz e amor', 'humano'". Ele acrescenta que nunca uma mulher chegou nem perto da presidência do seu país.
Sobre a sucessão de 2010, ele avalia que está interessante por ter partidos ideologicamente diferentes e com pontos de vista distintos. "De um lado Dilma da esquerda, Serra da direita e Marina, que representa um pensamento do século 21, diferente da disputa capitalismo ou comunismo".
Quanto à possibilidade de uma mulher assumir a presidência brasileira ele diz que será natural, "a brasileira é muito mais entrosada no evento social e envolvida nas discussões gerais que as russas, por exemplo".
Depois de dez anos, ele acredita que o brasileiro teve sua autoestima elevada. Admirador de Monteiro Lobato, Darcy Ribeiro, Jorge Amado e Erico Veríssimo, Kazarian diz que aprendeu a língua portuguesa na prática, mas, especialmente, ajudado pelos brasileiros. "Diferentemente de outros países da Europa, aqui o pessoal não foge do gringo, então dá para treinar bastante."
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