sábado, 22 de maio de 2010

O jogo duplo dos franceses e o destino dos Rafale

Por LEN*

Ontem a Reuters publicou trechos de uma carta que foi enviada pelo presidente americano Barack Obama ao presidente Lula prometendo apoio caso o Brasil conseguisse fazer o Irã se comprometer a fazer a troca do Urânio (produzido naquele país e enriquecido a 4,5%) com a Turquia que faria o enriquecimento a 20% e devolveria ao Irã para uso em pesquisas médicas.

Não foi nenhuma revelação para quem acompanhou o noticiário sobre o caso antes da viagem de Lula a Teerã. Muitas autoridades, inclusive Obama, preferiam fazer o gênero de não acreditar que Brasil conseguisse uma solução negociada, mas afirmavam que se o acordo fosse obtido iria ser levado em consideração. Essa convergência era tão cristalina que apoiada nessa premissa, foram feitas ameaças ao Irã justificando que aquela (viagem de Lula) seria a última oportunidade para uma saída negociada. Fica claro que os EUA apenas dissimulam mas o objetivo deles é instigar conflito. As freqüentes ameaças são estratégias para ferir o orgulho dos iranianos e estimular reações destemperada que dariam o “argumento” aos americanos.

Mas não são apenas os americanos que usam e abusam da dissimulação e da dubiedade na diplomacia. A França está tendo um comportamento que vai de encontro às promessas feitas por Sarkozy ao presidente Lula de apoio ao Brasil em assuntos referentes ao conselho de segurança da ONU.

O ministro das relações exteriores Francês Bernard Kouchner tem feito o papel de “assessor” de Hillary Clinton no embate com o Irã e dá declarações diariamente em favor das sanções que o governo americano tenta aprovar, tentando isolar Brasil e Turquia, e pior, dando a entender que a diplomacia brasileira estava sendo ingênua.

As declarações do aloprado francês aconteceram poucos dias após uma jornalista francesa ter sido libertada e perdoada no Irã. Libertação essa que só foi possível porque o presidente Lula intercedeu junto ao presidente do Irã, que prontamente aceitou ofertando a libertação da jornalista como um presente à diplomacia brasileira.

Isso tudo mostra a idéia que os franceses têm de gratidão. Não que a França esteja obrigada a se alinhar com as posições brasileiras, apesar das promessas de Sarkozy, a França pode se alinhar com os EUA, só não entendo tanto empenho para agradar os americanos e desmoralizar nossa diplomacia.

Em minha opinião, Lula está liberado das tratativas com o presidente Francês depois dessa sucessão de equívocos diplomáticos. Não imagino qual benefício o Brasil possa ter com uma aliança política com um país que na primeira oportunidade se vira contra o parceiro.

Sugiro que o presidente retire da balança a preferência pelos caças Rafale por motivos políticos, na concorrência de compra de caças para a defesa nacional, e libere o processo de compra para que seja concluído baseado apenas em critérios técnicos e financeiros. Se o motivo for político para a decisão, então melhor que seja o caça sueco SAAB/GRIPEN, já que a diplomacia sueca apesar de não estar alinhada ao Brasil, mas que pelo menos não ataca o Itamaraty.

Eu já apoiei aqui mesmo no blog a prerrogativa do presidente de dar a palavra final para a compra dos caças. O presidente pode sim se valer desses processos de aquisição para firmar parcerias estratégicas para o país. O problema é que os fatos mostram que a França não cumpre sua parte nas tratativas. Confesso que mudei de opinião inicial, meu erro foi ter confiado nos franceses.

Sarkozy, vá vender os seus Rafale agora para os EUA, já que o seu ministro das relações exteriores está bancando o assessor de imprensa da Hillary Clinton.

Mahmoud Ahmadinejad não é muito confiável? Concordo. Obama e Sarkozy são mais confiáveis que o iraniano? Acho que não, né? Só sei que não daria um cheque em branco para nenhum deles e nem aos barões da velha mídia nacional, que tanto estimulam o complexo de vira-lata tupiniquim. Para Lula eu entregaria um talão inteiro em branco, assinado e endossado.


*LEN é editor-geral do Blog do LEN e co-editor do Terra Brasilis

Um comentário:

Itárcio Ferreira disse...

Maravilhoso artigo, com um final emocionante.

Abraços!

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