O passar do tempo é pródigo em provocar surpresas. Quem, lá nos anos 70 ou 80 do século passado, imaginaria um operário no Palácio do Planalto, um negro na Casa Branca, uma Copa do Mundo na África?
Quem pensaria que, após o mandato de Dom José Cardoso Sobrinho, a Arquidiocese de Olinda e Recife ganhasse um comandante com a tolerância e a capacidade de diálogo de Dom Fernando Saburido? Pois é. O senhor tempo e sua impresivibilidade.
Entretanto, para alguns, a Idade Média se estende até os dias atuais. Para eles, avanços de direitos humanos e de cidadania, conseguidos em séculos de luta, devem ser combatidos e, se possível, apagados.
Numa conversa rápida com parlamentares e pré-candidatos evangélicos, conclui-se que religião está longe do seu significado original “religare”: do latim, religar, reatar laços.
Cleiton Collins (PSC), pastor da Assembleia de Deus que tentará conquistar o terceiro mandato de deputado estadual, não esconde que tem como meta combater conquistas legais de homossexuais.
Lembra-se, inclusive, de que já enfrenta processos judiciais por ter criticado, em inserções de TV, a sanção do ex-prefeito do Recife João Paulo (PT) a projeto de lei que tratou do tema.
O texto, de 2003, garantiu a servidores municipais o direito de deixar, em caso de morte, pensão para seus companheiros, independentemente da orientação sexual.
Postulante à cadeira na Câmara dos Deputados, Anderson Ferreira (PR) tem pensamento idêntico. Diz que, se eleito, defenderá os interesses dos irmãos ‘aviltados’ com projetos de lei que tratam de casamento entre pessoas do mesmo sexo e criminalizam a homofobia.
Explica ele que a união entre iguais fere a ‘palavra de Deus’. E ressalta que a Bíblia corre o risco de ser questionada por condenar o homossexualismo.
“Os evangélicos precisam ser representados na Câmara. Esta é uma das bandeiras (direitos gays) que vou lutar contra. Essa lei da homofobia atinge diretamente os evangélicos”, diz.
Bom, cada cidadão, seja deputado, candidato ou eleitor, tem o direito de se expressar, de expor seus pontos de vistas.
Sendo assim, qualquer um também tem autonomia para concluir que só a fé explica a defesa de ideias tão intolerantes.
Mas a fé, geralmente construída a partir da subjetividade de dogmas e doutrinas, costuma turvar a visão.
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