Ministro das Relações Exteriores Celso Amorim
...ficar apenas dizendo 'sim' para uma potência hegemônica também não tem sentido, sinceramente...
Rodrigo Rotzsch [Editor do caderno Mundo, do jornal Folha de S. Paulo] - Ministro, na esteira desse acordo, a Secretária de Estado americano Hillary Clinton [...] disse que os Estados Unidos e o Brasil têm discordâncias muito sérias em relação à abordagem da questão do programa nuclear iraniano e que esse acordo torna o mundo mais perigosos ao esvaziar a unanimidade internacional que haveria para condenar o programa nuclear do Irã. Como o sr. vê essa manifestação americana?
Celso Amorim - Primeiro que o Brasil não tem poder de veto. Nem o Brasil, nem a Turquia. Então não é o Brasil ou a Turquia que vão impedir que se adote uma resolução. Segundo que nós achamos que o que torna o mundo mais perigoso é o uso e o abuso de sanções [...] medidas coercitiva e o isolamento. Isolamento é o que torna os países que são objeto de isolamento mais radicais; é isso que dá força aos grupos mais duros dentro desses países; é isso que prejudica a possibilidade de paz. Então nós achamos que o diálogo... E nós provamos que o diálogo é possível... Porque quando todos nos disseram... Veja bem, antes de nós irmos para o Irã... Eu digo "nós" porque eu fui com o presidente Lula, eu fui várias vezes antes, mas antes de nós irmos para o Irã o que que nos diziam... Ninguém dizia: "Ah, mas o enrequecimento a 20% e o estoque acumulado...?" Não era essa a pergunta: "Mas vocês vão lá, mas vocês não acreditam que vão conseguir nada". Mas como nós conseguimos, o parâmetro passou a ser outro. [...]
Roberto Lameirinhas [Editor de internacional, do jornal Folha de S. Paulo] - Ministro, só pra gente não perder essa esteira das divergências aqui, o sr. acha que essas divergências com Washington... Elas podem comprometer o projeto da diplomacia brasileira de conseguir um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU?
Celso Amorim - Eu acho essa pergunta muito interessante porque até pouco tempo a mídia brasileira, sobretudo... Acho que até o jornal no qual você está sempre dizia que querer um lugar pernamente no Conselho de Segurança era uma obsessão do Itamarati ou era uma obsessão do Lula... Aliás, injusto até com outros presidentes, porque isso também ocorreu durante outras presidências... Mas que era uma obsessão da diplomacia brasileira. Agora que você está discutindo a questão do Irã [...] essa questão que era uma obsessão e que não devia ser levada em conta passa a ser um objetivo. É claro que continua a ser um objetivo do Brasil reformar o Conselho de Segurança, torná-lo mais representativo e levar nossa voz também... Agora, veja bem: só vale a pena você estar presente lá se você pode dar sua opinião, se você pode usar o seu julgamento. Se você vai para lá para ficar apenas dizendo "sim" a uma potência hegemônica também não tem sentido, sinceramente...
*Trechos da entrevista do Ministro Celso Amorim para o Roda Viva (07.junho.2010). Transcrição de áudio da editoria-geral do Terra Brasilis.
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