A ex-vereadora Soninha publicou no site do PPS um texto que merece ser discutido pelo quão desrespeitoso é com a inteligência alheia. É importante que o leitor acesse o link antes de continuar a leitura do post.
Para justificar a bandeada para o lado serrista-kassabista e não ter de explicar com argumentos políticos a nova opção, a ex-vereadora lança mão de um artifício típico de questionáveis autores infantis.
Na historinha, quem ela acreditava ser o vilão era o homem bom. Já a turma que pensava ser do bem, na verdade fazia parte do time do mal.
Transformar a política em uma disputa entre o bem e o mal é algo que em nada contribui com o debate democrático. Ao contrário, tal simplificação abre brechas para projetos messiânicos descolados de compromissos institucionais. Quem faz político a sério, não trilha esse caminho.
Mas deixando a infantilidade do roteiro desenhado pela autora, que me parece mais uma estratégia para dialogar com setores da juventude (acho que ela está subestimando os jovens) quero discutir alguns pontos por ela arrolados para defender seu voto “convicto” em José Serra.
Soninha diz que Marta Suplicy fez um governo em que passou dois anos “sanando (ops!) as contas da prefeitura detonadas pelo Pitta, (...) e os dois últimos anos destroçando as contas da prefeitura - e deixou dívidas absurdas, contratos temerários de 20 anos assinados ‘no apagar das luzes’".
Não acredito em políticos ingênuos. Soninha se elegeu vereadora depois de quatro anos do governo Marta e defendendo sua continuidade. Mais do que isso, depois de dois anos de governo Serra buscou se eleger pelo mesmo PT a deputada federal. E hoje escreve: “Enfim, eu VI, eu testemunhei, condutas absurdas do meu partido – e condutas admiráveis do Serra, que o meu partido pintava como o enviado do capeta”. Isso quando Serra estava na prefeitura, ou seja, antes de que decidisse sair candidata a deputada federal pelo PT. Estranho, não?
Aliás, numa rápida googlezada achei também um texto daquela época, publicado no seu blogue: "Não acredito em refundação (do PT) ... parece que é zerar e recomeçar.. há muita coisa pra se preservar, se manter... algumas coisas precisam ser mantidas..."
Do ponto de vista das políticas públicas, pra sair do campo apenas da trajetória política. Soninha defende Serra destacando sua opção pelo transporte coletivo. Diz que quando governador ele investiu em trens. Esquece-se, porém, que ele impermeabilizou o pouco que havia de margem no Tietê construindo uma terceira via de asfalto que só beneficia o tráfego de automóveis. E que essa obra é considerada por todos os urbanistas sérios como algo absurdo.
Soninha fala que ele continuou os CEUs, mas não diz que o projeto é hoje bem diferente do que foi. Menos qualificado. Também se esquece que Serra é o governador que tratou o movimento dos professores como caso de polícia, oferecendo a eles cassetetes, bombas e cachorros ao invés de diálogo.
Também não diz que nas rodovias do estado que Serra administra os pedágios, curiosamente, chegam a ser 10 vezes mais caros que os das rodovias federais.
Por fim, não trata em uma linha do ataque gratuito que o seu candidato fez à Bolívia, dizendo que é de lá que vem 90% da droga que entra no Brasil. Lembro desse assunto, porque Soninha sempre discutiu esse tema com propriedade.
Podia seguir o enterro tratando de mais uma centena de coisas que me levam a ter opção diferente da de Soninha.
E isso é normal. Faz parte do jogo.
Considero compreensível e legítimo que ela defenda a candidatura Serra. Até porque hoje ela faz política com ele, dentro do projeto dele. E fez essa opção por cálculo político. Não por ter descoberto o quão generoso e brilhante é esse homem de sorriso largo e espontaneidade impressionante.
Soninha decidiu sair do PT no fim do seu mandato de vereadora quando o PPS, por sugestão de Serra, lhe ofereceu a legenda para ser candidata a prefeita.
Fez isso, por sinal, num momento onde também por cálculo político sabia que se decidisse disputar um novo mandato de vereadora, teria muita dificuldade na reeleição.
Essa é a história sem contornos infantis e sem o charme de uma novela cheia de homens bons e maus.
Soninha vai fazer campanha para o Serra. E seria bom que pudéssemos fazer o debate com ela em bom nível. Sem essa história de um dia eu fiz algo de que hoje me arrependo. Ou do tipo, encontrei a luz e vivo uma nova vida. Do lado de lá está o povo da escuridão.
Sem messianismos e infantilismos, política vale à pena.
Do Blog do Rovai.
Para justificar a bandeada para o lado serrista-kassabista e não ter de explicar com argumentos políticos a nova opção, a ex-vereadora lança mão de um artifício típico de questionáveis autores infantis.
Na historinha, quem ela acreditava ser o vilão era o homem bom. Já a turma que pensava ser do bem, na verdade fazia parte do time do mal.
Transformar a política em uma disputa entre o bem e o mal é algo que em nada contribui com o debate democrático. Ao contrário, tal simplificação abre brechas para projetos messiânicos descolados de compromissos institucionais. Quem faz político a sério, não trilha esse caminho.
Mas deixando a infantilidade do roteiro desenhado pela autora, que me parece mais uma estratégia para dialogar com setores da juventude (acho que ela está subestimando os jovens) quero discutir alguns pontos por ela arrolados para defender seu voto “convicto” em José Serra.
Soninha diz que Marta Suplicy fez um governo em que passou dois anos “sanando (ops!) as contas da prefeitura detonadas pelo Pitta, (...) e os dois últimos anos destroçando as contas da prefeitura - e deixou dívidas absurdas, contratos temerários de 20 anos assinados ‘no apagar das luzes’".
Não acredito em políticos ingênuos. Soninha se elegeu vereadora depois de quatro anos do governo Marta e defendendo sua continuidade. Mais do que isso, depois de dois anos de governo Serra buscou se eleger pelo mesmo PT a deputada federal. E hoje escreve: “Enfim, eu VI, eu testemunhei, condutas absurdas do meu partido – e condutas admiráveis do Serra, que o meu partido pintava como o enviado do capeta”. Isso quando Serra estava na prefeitura, ou seja, antes de que decidisse sair candidata a deputada federal pelo PT. Estranho, não?
Aliás, numa rápida googlezada achei também um texto daquela época, publicado no seu blogue: "Não acredito em refundação (do PT) ... parece que é zerar e recomeçar.. há muita coisa pra se preservar, se manter... algumas coisas precisam ser mantidas..."
Do ponto de vista das políticas públicas, pra sair do campo apenas da trajetória política. Soninha defende Serra destacando sua opção pelo transporte coletivo. Diz que quando governador ele investiu em trens. Esquece-se, porém, que ele impermeabilizou o pouco que havia de margem no Tietê construindo uma terceira via de asfalto que só beneficia o tráfego de automóveis. E que essa obra é considerada por todos os urbanistas sérios como algo absurdo.
Soninha fala que ele continuou os CEUs, mas não diz que o projeto é hoje bem diferente do que foi. Menos qualificado. Também se esquece que Serra é o governador que tratou o movimento dos professores como caso de polícia, oferecendo a eles cassetetes, bombas e cachorros ao invés de diálogo.
Também não diz que nas rodovias do estado que Serra administra os pedágios, curiosamente, chegam a ser 10 vezes mais caros que os das rodovias federais.
Por fim, não trata em uma linha do ataque gratuito que o seu candidato fez à Bolívia, dizendo que é de lá que vem 90% da droga que entra no Brasil. Lembro desse assunto, porque Soninha sempre discutiu esse tema com propriedade.
Podia seguir o enterro tratando de mais uma centena de coisas que me levam a ter opção diferente da de Soninha.
E isso é normal. Faz parte do jogo.
Considero compreensível e legítimo que ela defenda a candidatura Serra. Até porque hoje ela faz política com ele, dentro do projeto dele. E fez essa opção por cálculo político. Não por ter descoberto o quão generoso e brilhante é esse homem de sorriso largo e espontaneidade impressionante.
Soninha decidiu sair do PT no fim do seu mandato de vereadora quando o PPS, por sugestão de Serra, lhe ofereceu a legenda para ser candidata a prefeita.
Fez isso, por sinal, num momento onde também por cálculo político sabia que se decidisse disputar um novo mandato de vereadora, teria muita dificuldade na reeleição.
Essa é a história sem contornos infantis e sem o charme de uma novela cheia de homens bons e maus.
Soninha vai fazer campanha para o Serra. E seria bom que pudéssemos fazer o debate com ela em bom nível. Sem essa história de um dia eu fiz algo de que hoje me arrependo. Ou do tipo, encontrei a luz e vivo uma nova vida. Do lado de lá está o povo da escuridão.
Sem messianismos e infantilismos, política vale à pena.
Do Blog do Rovai.
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