CIDADÃ DO MUNDO

Hoje completa um ano de existência o blog CIDADÃ DO MUNDO, editado pela amiga ATHENA.

A internet propicia, como qualquer outra invenção ou descoberta, coisas boas e más, dentre as boas a possibilidade de, mesmo a milhares de quilômetros de distância, conhecer pessoas e fazer amizades.

Considero ATHENA uma amiga, irmã, falamos a mesma língua, o mesmo idioma, temos sonhos em comum, eu aqui no Brasil, ATHENA em Portugal.

“Descobrir” o CIDADÃ DO MUNDO foi uma grande alegria; através dele hoje sei mais um pouco do nosso país-irmão europeu, do seu povo, da sua cultura, de suas lutas.

ATEHNA é uma grande humanista, seus textos, e os textos ali postados de outras fontes, são libelos a favor de um mundo mais justo e solidário, um inebriante canto ao socialismo.

Com todo carinho, amizade e admiração, parabenizo ATHENA pelo seu excelente blog e pela passagem do seu primeiro ano de existência, desejando, do fundo do meu coração, longa vida ao CIDADÃ DO MUNDO!

P.S. Republico, a seguir, a primeira postagem do Cidadã do Mundo.

sexta-feira, 5 de Junho de 2009

Pedra Filosofal

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

António Gedeão

António Gedeão, pseudónimo de Rómulo Vasco da Gama de Carvalho (1906-1997) foi professor, pedagogo, poeta e historiador da ciência. Em 1931 conclui a licenciatura em ciências físico-químicas, na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e, um ano mais tarde, forma-se em pedagógicas na faculdade de letras, passando a exercer a função de professor e pedagogo. Rómulo de Carvalho começou a dedicar-se à arte da escrita desde muito novo, tendo escrito o primeiro poema aos cinco anos, mas nunca julgou que a sua poesia tivesse qualidade nem que tivesse qualquer utilidade e, portanto, nunca a tentou publicar , optando, antes, por destruí-la.

Daí que, só em 1956, aos 50 anos, após ter participado num concurso de poesia, publica, finalmente, o seu primeiro livro de poemas intitulado "Movimento Perpétuo". Contudo, a obra surge como sendo da autoria de António Gedeão e Rómulo de Carvalho mantém-se, desta forma, no anonimato.

A obra de Gedeão é caracterizada, essencialmente, pela união entre ciência e poesia, a vida e o sonho, fruto desses dois mundos, o da ciência e o das palavras, sempre presentes na sua vida.

Quando completou 90 anos de idade, foi alvo de uma homenagem nacional, tendo sido condecorado com a Grã-Cruz da Ordem de Santiago de Espada. Morreu poucos meses depois.

A "Pedra Filosofal", o seu poema mais conhecido, tornou-se, pela voz de Manuel Freire, num hino à liberdade e ao sonho, numa época em que país vivia oprimido pela ditadura.

FONTE: CIDADÃ DO MUNDO

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