Emir Sader |
A projeção internacional do Brasil não é uma das metas do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, mas sim um recurso para privilegiar a integração entre os países e possibilitar a solução de conflitos por meio de negociações diplomáticas. A análise é do sociólogo Emir Sader, que concedeu entrevista ao Opera Mundi nesta segunda-feira (26/7).
“O que o governo Lula busca não é colocar o Brasil em uma posição de destaque no cenário internacional para provar que possui um plano de política externa bem sucedido. O objetivo do Brasil é possibilitar um mundo multipolar no qual todos tenham o mesmo poder ou as mesmas possibilidades de negociar as questões internacionais por meio da diplomacia e do diálogo, o que consequentemente promove destaque internacional”, explicou ele que também é professor da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro).
Alvo tanto de críticas e quanto de elogios, a política externa aplicada por Lula colocou o Brasil uma posição no cenário internacional a ponto de possibilitar a mediação do conflito entre os Estados Unidos e o Irã em razão do programa nuclear.
Porém, para alguns, a aplicação das sanções a despeito do acordo firmado entre Irã, Brasil e Turquia é um dos exemplos que ilustram falhas da política externa conduzida pelo presidente brasileiro.
Multipolaridade
Em entrevista concedida ao jornal Folha de S. Paulo, o historiador mexicano Jorge Castañeda, que foi ex-ministro das Relações Exteriores do México durante o governo de Vicente Fox (2000-2006) classificou como “fracassados” os objetivos de Lula no âmbito internacional.
Para ele, Lula fez um bom governo internamente, porém nas questões internacionais deixou a desejar por não ter conseguido uma cadeira permanente para o Brasil no Conselho de Segurança da ONU, não ter tido êxito na Rodada Doha e na Conferência sobre o Clima, em Copenhague, onde tentou ser o protagonista de um possível acordo de redução de poluentes.
“Estes são alguns objetivos pontuais e metas ambiciosas. Antes de qualquer coisa, a política externa brasileira não se limita a estes episódios. O governo Lula se colocou como um agente promotor da multipolaridade, contribuiu para o fortalecimento da América Latina e soube atuar como potência regional”, disse Sader.
O sociólogo acredita que o fato de os conflitos regionais não serem mais mediados pelos Estados Unidos e a economia não depender das relações com os norte-americanos são as principais vitórias da política externa brasileira, que para ele foi “bem sucedida e feliz” nas mãos de Lula. “O Brasil atualmente tem uma política internacional soberana e independente”, acrescentou.
Visibilidade
Para Sader há uma relação direta de dependência entre a administração das questões internas e externas. “É como um ciclo vicioso: a soberania externa depende da estabilidade interna, que por sua vez depende da independência econômica e social que o país tem internacionalmente”, explicou.
Portanto, segundo Sader, o que fez a diferença na relação do Brasil com o mundo foi o entendimento de Lula – e de seu corpo diplomático – de que a política externa não poderia ser apenas um recurso para dar mais visibilidade aos interesses nacionais, mas sim um instrumento para fortalecer o país diante do cenário internacional, o que poderá ser decisivo para o desenvolvimento interno do Brasil.
“Um dos méritos do governo Lula foi conseguir articular e definir prioridades voltadas para a relação entre as questões internas e externas, direcionando a posição que o país quer alcançar internacionalmente de acordo com os interesses nacionais internos”, argumentou.
América Latina
Quanto às críticas de Casteñeda em relação à “abstenção” de Lula em conflitos entre países que estão mais perto do Brasil como Uruguai, Argentina, Colômbia e Venezuela, Sader disse que o presidente brasileiro sempre prestou atenção aos impasses regionais, se colocando até mesmo à disposição para mediar o conflito entre os presidentes Álvaro Uribe e Hugo Chávez, por exemplo.
“A união latino-americana e o fortalecimento dos países da região como unidade foram extremamente importantes para o alcance da posição de respeito que o Brasil atingiu, e o Lula tem mérito nisso”, disse Sader.
Estabilidade
A estabilidade do Mercosul, a formação dos Bric (Brasil, Rússia, Índia e China, países que se destacam no cenário mundial pelo crescimento rápido), são alguns dos exemplos dados pelo sociólogo para comprovar o êxito da política externa brasileira.
Além disso, para ele as críticas de Castañeda não devem ser encaradas com tanto peso, já que foram feitas pelo ex-ministro das Relações Exteriores do México, que durante sua gestão não colocou o México entre os países com maior projeção internacional; ao contrário, “fez o México cada vez mais dependente dos Estados Unidos e com uma autonomia econômica, política e de articulação internacional extremamente limitadas”.
“O México hoje apresenta uma das situações mais catastróficas da região. Cerca de 90% das relações comerciais deles dependem dos EUA. Isso é uma política externa bem sucedida? Acho que no mínimo ele precisa rever o conceito de fracasso internacional”, concluiu.
Do Opera Mundi
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