domingo, 4 de julho de 2010

Índio da Costa e as expressões pejorativas contra os grupos indígenas

Da editoria-geral do Terra Brasilis

O que o deputado federal Antonio Pedro de Siqueira Índio da Costa (DEM-RJ) tem a ver com alguns dos diversos grupos étnicos indígenas que habitam ou habitaram o território brasileiro, especificamente? Ao que se sabe, NADA. Que laços consanguíneos e culturais o vice de José Serra (PSDB) possui com os índios? Ao que se sabe, NENHUM.

Diante dessa constatação, eu fiquei a me perguntar: por que, então, alguns blogues andam redigindo "programa de índio", "projeto de governo de Serra é de índio", "mim não saber ser vice" quando se referem ao vice, Índio da Costa? O uso dessas expressões se faz presente, inclusive, nos blogues que apoiam a candidata à Presidência da República, Dilma Rousseff. Será que, ao usar tais expressões, as editorias-gerais desses blogues não estariam incorrendo em um equívoco descritivo do comportamento indígena? Será que o viés dessa visão antropologicamente distorcida não contribui para aprofundar o já secular preconceito contra essa etnia, submetendo-a ao deboche de uma sociedade na qual impera o consumismo, o individualismo e o não respeito à natureza, por exemplo?

Consideremos a análise da primeira expressão ["programa de índio"]: O que ela vem a significar, em nossa comunidade linguística, em termos semântico-pragmáticos? Um simples debruçar-se sobre os sentidos emanados do "programa de índio" nos leva a uma ideia negativa, pois remete a tudo que não pertence à sociedade industrializada e tecnológica. É como considerar "horrendo" fritar um peixe em cima de um pequeno feixe de lenha, pois o "saudável", "prático" e, portanto, "civilizado" é descongelar um peixe - sabe-se lá há quantos dias em refrigeração - e metê-lo em um aparelho micro-ondas. Agir de acordo com a primeira possibilidade é coisa de índio, ultrapassado, nada civilizado, sem valor, um... "programa de índio".

Quanto à segunda expressão ["projeto de governo de Serra é de índio"], há de se perceber que, no afã de desacreditar um projeto de governo que, de fato, em nada representa os anseios do povo brasileiro [incluo, aqui, as comunidades indígenas], descamba-se para a gratuidade de uma concepção a partir da qual se firma a incapacidade de um grupo que, ao contrário, sabe lidar muito mais com aquilo que aprendeu com a natureza do que os ditos civilizados, doutos, não-apedeutas.

Evidente que não está se falando dos índios que foram dolorosamente aculturados, pois estes olham o mundo que os cerca com os olhos de uma civilização que os cega. Daí, os frequentes suicídios, o devastador alcoolismo e o desencanto com um ilusório mundo que os engole. O alvo aqui é toda uma cultura indígena, disseminada nos mais variados grupos étnicos. O alvo aqui são as Tribos e Nações Indígenas que lutam por manter vivos seus ideais de permanência no seio da Mãe-Terra. É em defesa dessa sofrida e usurpada, mas altiva gente, que repudio o uso pejorativo de tais expressões.

O deputado federal e vice de Serra dever ser tratado no âmbito estritamente político e não associado, por meio de expressões negativas e pejorativas, a uma cultura e a um povo que em nada se parece com esse senhor que traz em seu registro o nome "Índio".


6 comentários:

Giovani de Morais e Silva disse...

Tem meu apoio, Cumpadi! Conseguiu configurar o twitterfeed? Abraço!

zcarlos disse...

Excelente post Cumpadi.
Abs!

Itárcio Ferreira disse...

Adorei o texto, muito lúcido, parabéns!

Profdiafonso disse...

Cumpadis,

Obrigado pelos comentários: parta de onde partir, não devemos compactuar com o preconceito contra uma complexa cultura que tem mais a nos ensinar do que nós a eles.

Abs!

Anônimo disse...

Prezado DiAfonso,

Permita-me concordar com os comentários anteriores que enaltecem a qualidade do texto, e discordar de um pequeno detalhe da introdução do texto.

Por acreditar que Negro é Negro, Branco é Branco, Índio é Índio e oriental é oriental, quero dizer que basta uma breve encarada no indigesto personagem para perceber sim que ele não é nenhum caucasiano, guardando laços inegáveis com ascendência indígena sim, ainda que negue, como é comum na hipócrita sociedade brasileira.

Abraços e parabéns pelo ótimo blog.

Deusdédit R Morais

Profdiafonso disse...

Olá Deusdédit! Boa noite!

Obrigado pelo comentário. Agora, relendo o texto e relacionando a introdução à sua arguta observação, percebo que, de fato, "o indigesto personagem", realmente, tem algo a ver com a ascendência indígena, sim... Ou, pelo menos, não é caucasiano.

Grande abraço!

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