A cada dia que passa aumenta o número de analistas brasileiros e estrangeiros que reconhecem que o Brasil está vivendo um excelente momento, com excepcionais perspectivas pela frente. Essa também é a visão largamente predominante em nosso povo, que sente sua vida melhorar significativamente e olha para o futuro com otimismo crescente.
A gravíssima crise financeira que se abateu sobre o mundo recentemente não afetou essa percepção. Ao contrário, consolidou-a, generalizando a visão de que o Brasil hoje tem rumo e deve seguir crescendo de forma robusta e sustentável nos próximos anos. Segundo o Banco Mundial, podemos nos tornar a quinta economia do mundo em 2016.
Trata-se de uma mudança e tanto. Há apenas uma década não eram poucos os que apregoavam que o Brasil estava condenado a seguir marcando passo, incapaz de resolver os problemas crônicos que afligiam sua sofrida população e estrangulavam seus melhores sonhos. Quando muito, éramos vistos como “o país do futuro”, mas de um futuro que nunca chegava, como uma nação de grandes potencialidades e riquezas naturais, mas que, por falta de políticas consistentes, reincidentemente dilapidava oportunidades e queimava esperanças.
O que mudou de lá para cá? O que nos fez deixar para trás o deserto da estagnação e retomar o caminho do desenvolvimento? Por que o país voltar a crescer de forma pujante, a gerar empregos e renda, a estimular e atrair investimentos? Qual a razão da nossa autoestima estar em alta, desidratando a olhos vistos o famoso complexo de vira-latas que antes parecia ser uma marca registrada nacional?
São perguntas importantíssimas às quais este livro dá respostas que certamente irão enriquecer e qualificar o debate público. Escrito pelo senador Aloizio Mercadante, um dos quadros mais preparados e experientes do meu partido, o PT, este trabalho une paixão e rigor. Paixão do militante, cuja ação coloca os interesses do povo e do país em primeiro lugar. E rigor do economista, que encara a realidade tal qual ela é para poder construir as políticas capazes de transformá-la.
Mas este livro não trata apenas da economia. Avalia os desafios e progressos do país nas mais diversas áreas: social, política, ambiental, energética, da defesa, das relações exteriores e do marco regulatório do pré-sal, entre outras. Ou seja, dá uma visão panorâmica do país: reúne enorme quantidade de informações e apresenta análises consistentes que ajudam a explicar e a entender as extraordinárias mudanças vividas pelo Brasil nos últimos anos, nos mais diferentes campos.
Por tudo isso, não tenho dúvida em dizer que o livro do companheiro Mercadante é uma notável contribuição para o aprofundamento do debate político, tão necessário para que o Brasil não só consolide e amplie suas vitórias recentes como possa afirmar-se, nas próximas décadas, como uma nação próspera, justa, democrática e moderna.
Pessoalmente, estou convencido de que o país só foi capaz de deixar para trás cerca de 25 anos de estagnação porque compreendeu que o crescimento econômico e a inclusão social são duas faces da mesma moeda.
Essa compreensão não caiu do céu. Só floresceu e amadureceu porque conquistamos a democracia. Através do exercício democrático, das repetidas eleições e da garantia das liberdades públicas, as aspirações e os interesses do nosso povo, antes deixado de lado pelas elites políticas, foram se fazendo ouvir, tornaram-se um clamor incontornável e acabaram se impondo dentro do país.
Meu governo é expressão desse processo. Mas foi também – tenho orgulho em dizer – uma ferramenta para sua consolidação.
É bom lembrar que houve época em que a economia do país cresceu num ritmo espetacular, como no início da década de 1970. Mas prevaleceu a tese de que o bolo precisava crescer primeiro para depois ser dividido. Prevaleceu, em boa medida, porque o povo não podia se expressar livremente naqueles tempos da ditadura. Deu no que deu: a concentração da renda aumentou como nunca e o chamado “milagre brasileiro”não conseguiu ir muito longe. Capotou em pouco tempo.
Hoje, sabemos que o desenvolvimento econômico exige a construção e a consolidação de um amplo mercado interno de massas, sem o qual nossa economia será sempre frágil diante dos desequilíbrios internos e externos e estará condenada aos chamados “voos de galinha”, que a marcaram nas últimas décadas.
Não tenho dúvidas em afirmar: foi a formação de um mercado interno de massas que retirou da pobreza absoluta 20 milhões de pessoas e incorporou nos últimos anos cerca de 31 milhões de brasileiros e brasileiras ao consumo de bens e serviços; é ela que vem permitindo à nossa economia alçar voos mais altos e atingir patamares de crescimento robustos e sustentáveis. Mas essa compreensão só foi alcançada e tornou-se majoritária no país porque somos uma democracia viva e pujante. Hoje, a voz do povo é ouvida e levada a sério no Brasil.
Por isso, digo que o governo só pode governar bem se equilibrar o social, o político e o econômico e se ficar atento a cada perna deste tripé. Só assim uma nação pode caminhar rapidamente, sem riscos e sobressaltos.
Foi por isso que procuramos melhorar, de forma conjunta e simultânea, a economia, o social e as instituições e relações públicas. Como é de se esperar, tivemos, em alguns momentos, mais sucesso em uma ou em outra vertente. Porém, no conjunto dos dois mandatos, conseguimos um bom equilíbrio nas três áreas.
Era preciso, primeiro, tirar a economia do buraco. Fizemos isso garantindo a estabilidade, o crescimento e o aumento do emprego. Mantivemos a inflação sob controle e aumentamos o poder de compra do salário. E acabamos com a dependência e vulnerabilidade do país, zerando a dívida externa.
O Brasil acabou com o ciclo vicioso de dependência, da busca de favores internacionais, da ciranda desesperada de tomada de novos empréstimos para pagar empréstimos antigos. E acabou com a ronda humilhante de um país que, embora cheio de potencialidades e riquezas, vivia batendo à porta dos bancos internacionais.
Empreitada mais arrojada ainda fizemos na área social. Implantamos o maior programa mundial de transferência de renda, o Bolsa Família, que hoje beneficia mais de 12 milhões de famílias. E lançamos, ao mesmo tempo, um conjunto de programas sociais que é exemplo e modelo no mundo.
Mas fomos além. Até o fim deste mandato teremos gerado mais de 14 milhões de novos empregos com carteira assinada. De 2003 a 2010, o salário mínimo aumentou 64,9% em termos reais. A massa salarial, de um modo geral, cresceu mais de 20% no mesmo período.
Esse processo de distribuição de renda, conduzido de forma responsável e séria, fez a roda da economia girar, estimulando o consumo, a produção e os investimentos, o que terminou por gerar um círculo virtuoso na nossa economia.
Mais do que ninguém, o povo percebeu a importância dessas medidas e sustentou-as firmemente. Sem o seu claro apoio, nunca teríamos chegado onde chegamos. Aos poucos, através do debate público e da luta de ideias, esse sentimento espraiou-se e se tornou majoritário em todo o país.
E é aí que entra a terceira perna do tripé da boa governança: a democracia. Desde o início do nosso governo, estabelecemos um clima de diálogo com todas as forças sociais e correntes políticas. Mantivemos uma atitude de respeito e cooperação com o Congresso e com o Judiciário, ouvimos os partidos e debatemos com eles. Mas fomos além.
Realizamos mais de 65 conferências nacionais sobre os mais variados temas, recolhendo contribuições, sugestões e propostas de todos os setores sociais. São processos ricos, fecundos e heterogêneos, que às vezes trazem inquietações, e não respostas prontas. Há quem se incomode com isso. Eu não. Como presidente e como democrata, convivo tranquilamente com o debate.
Ele é fundamental para o exercício do governo. Ele é indispensável para oxigenar a sociedade. Porque, para mim, a democracia não é a consolidação do silêncio. É a consolidação do direito às manifestações, a todas as manifestações. Não é a repetição de verdades eternas. É um espaço de respeito às divergências, de convivência e diálogo entre o que está estabelecido e o que está abrindo caminho para vir ao mundo.
Para terminar, creio que talvez o maior mérito de meu governo, talvez a mudança mais importante que concretizamos, tenha sido nossa forma de ver o povo e, portanto, o Brasil. A maioria dos governantes brasileiros jamais se colocou seriamente a tarefa de governar para todos os brasileiros. No fundo, julgavam que isso era impossível, que estava além das possibilidades do país. Assim, conformavam-se em governar para um terço da população. O resto do povo era visto como estorvo, como peso, como lastro, que o país precisava carregar ou do qual precisava se livrar.
Falavam em arrumar a casa. Mas nunca a arrumavam, é claro. Poque é evidente que não é possível levantar um país deixando dois terços da sua população fora dos benefícios do progresso e da civilização. Ou será que alguma fica em pé se o pai e a mãe relegarem ao abandono os filhos mais fracos e concentrarem toda sua atenção nos filhos mais bem aquinhoados pela sorte?
Meu governo, desde o primeiro instante, teve atitude diametralmente oposta. Só havia sentido em governar se fosse para todos. E mostramos que aquilo que tradicionalmente era considerado estorvo, peso, lastro, era, na verdade, força, reserva, energia para crescer.
Incorporar os mais fracos e os mais necessitados à economia e às políticas públicas não era apenas algo moralmente correto. Era, também, politicamente indispensável e economicamente acertado. Porque só arrumam a casa o pai e a mãe que olham para todos, não permitem que os mais fortes abusem dos mais fracos, nem aceitam que os mais fracos conformem-se com a injustiça.
Uma casa só é forte quando é de todos. E nela todos encontram abrigo, oportunidades e esperanças. É esse o Brasil que está sendo construído hoje. E é sobre esse Brasil que fala o livro do companheiro Mercadante, cuja leitura é indispensável a todos que queiram entender, defender e aprofundar as grandes conquistas dos anos recentes.
Luiz Inácio Lula da Silva – Presidente da República.
(Enviado para o Blog da Dilma pelo correspondente Júlio Amorim - São Paulo/SP).
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