MST-MT bate-papo com jornalistas, comunicadores e blogueiros para marcar 15 anos de luta contra o latifúndio no Estado – monoculturas de soja e algodão não resolvem grave problema da fome
A coordenação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) em Mato Grosso participou ontem (10.08) pela manhã, na secretaria do Movimento, de um bate-papo com jornalistas, comunicadores e blogueiros, que trabalham em Cuiabá. Essa conversa está dentro da programação comemorativa dos 15 anos de luta do MST no Estado. A principal intenção do encontro foi provocar uma reflexão sobre a história dos sem-terra que a mídia contou nesse período e também desmistificar o Movimento diante de profissionais da imprensa.
A primeira ocupação de terra improdutiva realizada pelo MST em MT remonta 14 de agosto de 1995. Fazenda Aliança, em Pedra Preta, Sul do Estado. Em 1996, saíram os primeiros assentamentos, em cerca de 10 áreas.
Dias 13 e 14, segue a programação organizada pelo Movimento, para registrar a data, no Assentamento Dorcelina Folador, município de Várzea Grande, onde estarão presentes cerca de 600 pessoas.
A professora universitária Anita Prestes, filha de Olga Benário e Luiz Carlos Prestes, fará palestra no sábado, dia 14, na escola que leva o nome da mãe dela. Também irá descerrar placa. Os cantores e compositores Zé Geraldo e Pereira da Viola vêm reforçar a programação cultural.
Os jornalistas refletiram sobre notícias truncadas sobre o Movimento, que criam uma falsa ideia sobre esta luta e geram desinformação.
Muitos dos jornalistas presentes disseram que o contato que têm com o MST se dá somente na hora da pauta e que a presença ali era uma oportunidade de ouvir e aprender mais sobre a necessidade da reforma agrária e as práticas do Movimento. Muitos também disseram que tiveram o primeiro contato com o MST quando faziam faculdade.
Histórias sobre ameaças, inclusive de morte, contra os que cobriram a luta dos sem-terra em Mato Grosso, até antes da chegada do MST, revelam um campo violento, onde a pistolagem já reinou. Isso na década de 70 e 80. A violência persiste em conflitos ainda registrados aqui. Histórias fluíram sobre os primeiros tempos. A coordenação contou que a prática de fotografar os militantes foi muito usada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e agora há pouco tempo o Movimento teve acesso a esses registros, que marcam o rosto das lideranças. E para que?
A coordenação também pontuou que o MST não é o dono da luta pela terra e que vem na esteira da história, construindo junto com outros movimentos localizados que levantaram essa mesma bandeira.
Ficou clara, com base em dados oficiais e observações sobre a realidade, a necessidade da reforma agrária, para que os brasileiros se alimentem melhor e paguem menos pelo que comem. A reforma agrária, no efeito cascata, viria para resolver outros problemas sociais, gerados pela superpopulação nas cidades, como a própria fome, a criminalidade e outras formas de miséria.
O mapa agrário no Brasil, que aponta absurda concentração de terra, também reforça a necessidade dessa luta que é uma exigência histórica.Os jornalistas questionaram o discurso único de que Mato Grosso é campeão em agronegócio, idéia que já está fortemente massificada. E é verdade. As monoculturas, no entanto, não estão dando conta de alimentar a população e nem resolver problemas sociais. O Índice de Desenvolvimento Humano do Estado é baixo e aponta para desigualdades nos quatro cantos de Mato Grosso. Além disso, esse modelo agrícola dá a Mato Grosso outros títulos de campeão. Mato Grosso também é campeão em trabalho escravo, desmatamento, uso excessivo de venenos agrícolas...
Para os jornalistas presentes, a cobertura da Rede Globo e da revista Veja é a que mais distorce os fatos sobre o MST.
Na conversa, surgiu a sugestão para que o Movimento aproveite o momento e faça uma autocrítica, lembrando que muitos militantes saíram desse coletivo, justamente por discordar de algumas práticas e posicionamentos.A coordenação explicou que a decisão de se organizar em Mato Grosso foi tirada em Congresso. Que o MST veio para fortalecer lutas que já existiam desde o século passado e para desconcentrar terra. Afirmou que nada pode garantir a permanência eterna do Movimento, que também caminha com suas dificuldades. E concordou que de fato este é um momento para parar e refletir sobre os passos dados, erros e acertos, e em quais conjunturas.A coordenação também pontuou que o MST está organizado em 24 estados brasileiros, exceto Amazonas, Amapá e Acre. Tem a solidariedade da sociedade organizada e dos Direitos Humanos para continuar em frente. Que as instituições são burguesas, como universidades e empresas de jornalismo, mas há pessoas dentro delas sensíveis às lutas do povo. E que motivos não faltam para sustentar a luta pela reforma agrária.
Se as dificuldades foram muitas, as conquistas também foram. Em 15 anos de atuação em Mato Grosso, o MST consolidou 40 assentamentos, onde vivem 4 mil famílias, ou seja, cerca de 25 mil pessoas, entre homens, mulheres e crianças. No entanto, em cinco acampamentos, cerca de 2.500 famílias ainda aguardam um pedaço de terra. Na justiça, 45 mil hectares de terra estão sendo disputados. E, em conflitos, sete companheiros de luta foram vítimas de mortes violentas, entre eles uma criança de apenas 9 anos. Nesses 15 aqnos, também foram registradas duas claras tentativas de homicídio. Os telefones do MST estão e sempre estiveram grampeados e há várias pessoas infiltradas nos assentamentos e acampamentos a serviço de terceiros. Porém, ao invés de somente a pistolagem, o Estado também assumiu a repressão ao Movimento.
Keka Werneck
Da assessoria de imprensa do MST-MT
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