sábado, 11 de setembro de 2010

São Paulo: para quem pode

Nelson Antoine/Fotoaren /Agência O Globo
Um dos argumentos mais frequentes que o eleitor da dupla Serra & Alckmin consegue formular para legitimar o assalto que sofre nas rodovias de São Paulo, é que, ao pagar o pedágio para as empresas que exploram a concessão abusivamente, recebe rodovias de “primeiro mundo”, superiores às do resto do país. Acrescenta, orgulhoso, que o pacote dá direito a polícia rodoviária e socorro em caso de necessidade…
Antes de mais nada, é preciso ressaltar que mais do que qualquer outro povo do planeta, o paulista tem uma adoração sagrada pelo seu automóvel. Talvez seja em decorrência das várias horas diárias em que convivem – ele e seu “possante” – nos congestionamentos sempre recordistas do nosso trânsito. O automóvel é como um filho. Se o seu filho ficasse doente e precisasse de um tratamento caro, você certamente faria qualquer coisa por ele. Venderia tudo que tem para salvá-lo. Muitos paulistas fariam o mesmo por seu automóvel. Xingue suas mães, humilhe-os, engane-os, transe com suas mulheres – mas não lhes arranhe o carro! Como já vimos, chegam a matarem-se uns aos outros em brigas de trânsito. Sendo assim, pagar pedágio sem questionar, parece normal para essa gente. Até porque, toda despesa que o cidadão tem com seu automóvel lhe dá a sensação de estar fazendo um investimento no seu patrimônio.
Construir e manter rodovias em perfeitas condições (incluindo polícia rodoviária e socorro em caso de acidentes) é obrigação do governo do estado. Não deveria custar nada. Pois estes serviços já são pagos através dos impostos recolhidos. Assim como a saúde, segurança, educação, saneamento, transporte, limpeza urbana, etc. Mas na prática, o paulista paga dois e leva um. E muitos quase sentem prazer em serem explorados pelo esquema privatista dos seguidos governos do PSDB. Imaginam-se vivendo em algum “paraíso” europeu repleto do que há de mais moderno em matéria de desenvolvimento urbano e civilidade. O paulista engole taxas e arrota a arrogância de se considerar VIP.
Então qual é o dever do estado? Para onde vão os R$ 125 bilhões previstos no orçamento de 2010 – se o governo terceiriza os serviços e as concessionárias cobram taxas extorsivas do contribuinte? Em 2009 o governo do PSDB de São Paulo chegou a aplicar o dinheiro do seu caixa. Não, não aplicou em benefícios à população, e sim, no mercado financeiro. Porque apostava (leia-se torcia) que a “marolinha” viraria um “tsunami” e queria estar preparado para o “pior”…
Além do governo tucano terceirizar suas obrigações – muitas vezes através de licitações irregulares para consórcios mafiosos, “parceiros de longa data” – a cada ano que passa a cidade recebe serviços piorados. Principalmente quando se trata de atender a população de baixa renda. Um exemplo disso foi o caso das merendas escolares produzidas nas cozinhas imundas da empresa contratada pela gestão Serra/Kassab que rendeu sua interdição. O mais surreal naquele episódio, foi a instituição de prêmio para as cozinheiras que conseguissem reduzir os custos suprimindo carnes e outras proteínas das refeições!
Enquanto os cidadãos motorizados passam 3 horas diárias dentro dos em seus automóveis em congestionamentos recordistas para ir e vir ao trabalho, os pobres são enlatados no transporte público que também lhes consome, em média, 3 horas diárias. Nisso, ao menos o governo do PSDB é justo: ao priorizar o transporte individual, retira 3 horas de convívio familiar de todos por igual. Democraticamente.
Em São Paulo, ascender socialmente é entrar na onda da terceirização. Contrate seus próprios seguranças, seu próprio atendimento médico e sua própria educação para seus filhos. Pague taxas e pedágios para ter algum “extra” VIP. Depois de 16 anos de PSDB, o paulista simplesmente não conhece outra maneira de viver. Entendem que usufruir do status de viver no estado mais desenvolvido do país, “é para quem pode e não para quem quer”.
Para o paulista, que dá o sangue para manter-se VIP, é igualmente importante manter o estado sob controle do PSDB. Sente que essa ascendência social que se dá no resto do país é uma ameaça cada vez mais perigosa para o seus privilégios. Afinal, o que seria dos ricos se não fossem os miseráveis?
Em São Paulo, só os ricos são paulistas.

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