sábado, 30 de outubro de 2010

$ERRA e as mulheres

“Se essa pesquisa for verdade eu digo que o brasil nao tem homem
e que a maoria das mulheres sao sapatoess”
[firmino] [fortaleza]
(comentário de um leitor no blogue do Josias de Souza
sobre os resultados de pesquisa eleitoral – erros de ortografia mantidos) 
Tava aqui pensando: como é fácil escrever contra esse sujeito! Fato é que ele municia a todos nós com suas ações pérfidas quase que diariamente. E quando pensamos que já fez de tudo – eis que ele se reinventa em nova baixaria. Na verdade, éramos – como dizer? – “virgens” neste tipo de campanha eleitoral imoral. E Serra nos aplicou um intensivão de baixarias equivalente a décadas em uma única eleição. Nas próximas, não teremos surpresas. Já me habituei tanto a usá-lo como tema, que chego a temer perder a inspiração quando ele sair de cena! (Eu sei, eu sei… hipócritas não faltarão, mas Serra deixará saudades, não me levem a mal. Duvido que surja outro tão qualificado e intenso na matéria.)
Quinta, em Minas, em mais uma demonstração de total ausência de escrúpulos, Serra sugeriu que as mulheres bonitas buscassem votos entre seus pretendentes masculinos em troca de receberem “atenção preferencial”. “Se é menina bonita, tem que ganhar 15 votos. É muito simples: faz a lista de pretendentes e manda e-mail dizendo que vai ter mais chance quem votar no 45″ – deixou escapar, fingindo-se “espirituoso”. Mas no fundo foi cirúrgico: quem sabe algumas dezenas de mulheres que fazem parte dos 3% cães raivosos passassem os próximos dias empenhando-se de “corpo” e alma em levantar-lhe um trocadinho de votos? Não custa nada tentar. Pra que perder viagem?
Quando aconselha as mulheres a usarem seus dotes físicos para atrair-lhe votos; quando aconselha seu vice a praticar o adultério (“desde que seja discretamente”) ou quando envolve esposa e filha em manobras eleitorais imorais – Serra deve estar atraindo a atenção de psiquiatras de todo o Brasil. Talvez estes profissionais da mente humana traduzam a obsessão machista do tucano como sendo uma incontrolável inveja do sexo feminino. No mínimo – para não especular sobre suas preferências sexuais secretas, já que não somos iguais a ele em impingir boataria gratuita aos adversários como fez com Dilma – deve ter algum distúrbio neste sentido.
Assim que veio a público, o episódio das “bonitas, vão à luta” foi para o topo nacional do Twitter e ficou em terceiro no mundial. As reações vieram de todo o eleitorado. Desde as mulheres que se sentiram ofendidas pela cafetinagem eleitoral de Serra, passando pelas que não vislumbraram o caráter “mercadológico” do argumento, até aqueles machos que se prontificaram a “negociar” seus votos pessoalmente com as beldades.
Assim como o preconceito racial velado, o machismo neste país é um problema crônico e precisa ser enfrentado. Principalmente quando associado a crimes passionais. Quanto mais vejo canalhas como o goleiro Bruno – que mandou 4 machos emboscarem e barbarizarem a mãe de seu filho (para não nos estendermos aqui em citar os inúmeros casos de covardia assassina praticada contra as mulheres) – mais me convenço que Dilma Rousseff é a candidata perfeita para ser presidente do Brasil de hoje. E não é somente pela sua força, por sua história e pelas conquistas sociais de sua parceria com Lula. É também por tudo que espero que faça pelas mulheres deste país.
Estamos cansados de testemunhar assassinos covardes serem favorecidos pela justiça fajuta “dos homens” quando matam a namorada, esposa ou amante pela honra ou por terem sido rejeitados. Estamos cansados de ver a mulher se desdobrar em duas jornadas de trabalho: uma fora e outra dentro de casa e ainda ter remuneração menor que a dos homens mesmo em função idêntica no mercado de trabalho.
Nos interiores do nordeste ou na periferia das metrópoles, são muitos os casos em que a mulher é aprisionada por toda a vida numa relação onde seu único papel é ser dependente e servir ao marido. Basta mencionar que o direito de votar, conquistado em 1932 – pasmem! – só valia com o consentimento do marido! Na década de 60, ativistas como Simone de Beauvoir e Betty Friedan levantaram bandeiras pela libertação feminina da secular opressão machista e, depois de muitas batalhas, as mulheres conquistaram direitos iguais aos dos homens. No Brasil, o regime militar, que não permitia organizações sociais de nenhuma espécie (muito menos feministas!), adiou até 1981 nossa adesão à Convenção da ONU para a Igualdade de Direitos da Mulher. Mas isso ainda está longe de ser realidade no Brasil.
Neste domingo será possível darmos um passo adiante nesta questão. Fato é que mais da metade dos votos nesta eleição virá das mulheres. Fato é que, segundo as pesquisas, metade delas não quer dar seu voto a Dilma Rousseff. Fato é que eleger José Serra significa, entre outras coisas, mandar todas as mulheres “de volta para a cozinha”, digamos assim.
Portanto, caro (e)leitor, se você é a favor de eleger Dilma Rousseff para ser a próxima presidente do Brasil mas, apesar de todos os argumentos, sua mulher não está convencida disso, talvez seja hora de usar outra tática para tentar fazê-la mudar de idéia. Ao contrário da infeliz sugestão do Zé Cafetão às mulheres “bonitas”, use os recursos de sedução que o santo padre legitimou quando os casou.
Apaixone-se novamente por ela. Viva uma nova lua de mel ao lado dela. Enumere todos os motivos que a tornam única e especial em sua vida. Prove a ela como o planeta seria um lugar melhor de se viver se governado por aquelas que, mais que ninguém, são duras quando é preciso proteger as vidas geradas em seu ventre e, ao mesmo tempo, jamais perdem a ternura na forma de ver o mundo e lidar com as pessoas. Aliás, seja verdadeiro: cubra sua mulher de agrados, não apenas neste fim de semana, mas para sempre. Mesmo até, que a morte os separe.
(E cá entre nós, mulheres do Brasil: ainda bem que o voto é secreto. E optar por Dilma Rousseff, mesmo contrariando o maridão, jamais configure adultério… certo?)

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