sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Jabor se perde na nostalgia em A suprema felicidade

Paulo Floro  
Jayme Matarazzo e Maria Flor em cena do filme: Jabor investiu em cenas memoráveis; não em roteiro
Jayme Matarazzo e Maria Flor em cena do filme: Jabor investiu em cenas memoráveis; não em roteiro
Foto: Divulgação
O intuito de Arnaldo Jabor é claro em A Suprema felicidade, seu novo filme após mais de 20 anos sem dirigir: quer ser nostálgico, falando de um Rio de Janeiro que não existe e que permeia suas lembranças. O longa, que estreia nesta sexta (29) em todo País, é um álbum de retratos sobre costumes da época, focadas no personagem Paulo em diferentes momentos da vida. Jabor concentrou todos os esforços criativos em fazer cenas eloquentes, cheias de efeito, costuradas de maneira desordenadas e não caprichou bem no enredo, na construção dos personagens.

Mas assim são as lembranças, dirão alguns. O problema não é ser caótico na narrativa; o problema de A suprema felicidade é não se aprofundar no que se propõe. Fica apenas na superfície na suposta tentativa em fazer um retrato comportamental daqueles tempos em que garotos eram iniciados em puteiros e vedetes faziam sucesso.

É óbvia a preocupação do diretor em fazer cada cena parecer única, mas isso não contribui ao filme. Algumas são memoráveis e têm uma plasticidade que impressiona, cola na mente. Como o momento em que uma prostituta sofre uma tentativa de assassinato e aparece na janela do bordel com um corte no torax. Ou quando o amigo de Paulo se descobre gay em um banheiro de um bar. Carregados de teatralidade, esses pequenos momentos, porém, não sustentam o filme.


Os personagens se apropriam de clichês conhecidos do período; não existe esforço em revelar um outro olhar da primeira metade do século passado. O recorte histórico é apenas um pano de fundo para personagens atuarem em painéis dramáticos carregados no mis-en-scene.

Até atores como Maria Flor não foram felizes em suas performances. O casal Dan Stulbach e Mariana Lima não trazem nada de novo no tema da mulher inteligente e submissa e do marido frustrado e adúltero. Do elenco, quem consegue impor alguma verdade é Marco Nanini, que interpreta o avô do protagonista e é dono de algumas máximas do filme, como "Ninguém é feliz. No máximo, alegre". Mesmo com diálogos pesados impostos pelo roteiro, Nanini confere personalidade e é dono dos únicos momentos interessantes, alguns ao lado de Elke Maravilha, que faz sua esposa.

Sem filmar desde 1986, quando fez o clássico Eu sei que vou te amar, Arnaldo Jabor não foi feliz no seu intuito de fazer um resgate memorialista de seu passado. Com esse time bom de atores, poderia ter um resultado mais original se contasse com um roteiro sem tantos clichês nem diálogos engessados. Faria jus à sua cinematografia.

Um comentário:

blog do teacher Ramos disse...

Pra resumir: É um cineasta fracassado!

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