sábado, 30 de outubro de 2010

MATA-MOSQUITOS: essa palavra me calou fundo.

Corria o ano de 2002, quando eu encontrei, por acaso, o amigo cineasta Pedro Aarão,que, como sempre, pedalava sua bike pelas ladeiras do sítio histórico de Olinda. Ao me ver, deu aquela paradinha pra dois dedos de prosa. Entre uma e outra conversa sobre arte, poesia e cinema, perguntou-me sobre uma canção que eu fizera em parceria com o violinista Ariston Trajano, cuja letra homenageava um antigo documentário de sua autoria. Meu Deus, disse-lhe eu. Só quem tem essa letra é o Ariston. Vou tentar localizá-lo. Parece que está coordenando um Centro Social Urbano, lá pros lados do bairro de Casa Amarela.
 

O cineasta Pedro Aarão insistiu pra que o localizasse, pois que uma doutoranda argentina trabalhava em uma tese sobre seu filme, e a canção se encaixaria bem, naquele momento.
 

Dia seguinte, folheei a lista telefônica e logo encontrei o número do Centro Social. Mas ao ligar pro Trajano, recebi a terrível notícia, dada por um vigilante (era um domingo e não havia expediente):

- Senhor, sinto muito lhe dizer, mas o nosso querido Trajano, nosso protetor e amigo dos mais humildes cá do Centro Social, faleceu há uns 3 meses, vitimado por seqüelas de uma dengue hemorrágica...

Por essa época, o Serra andava demitindo os mata-mosquitos do Rio de Janeiro, e em virtude disso, muitos jovens também estavam morrendo de dengue, naquele Estado; a doença estava se alastrando por todo o Brasil. Só o Serra não via isso!
 

Eu sinto no fundo da alma a dor daqueles que perderam os seus entes queridos, em virtude dessa doença terrível. E não posso esquecer que o cara de pau do Serra, Ministro da Saúde à época, lançou-se também candidato a Presidente, disputando com o nosso Lula, naquele ano de 2002.
 

Votei e elegi o Lula com muito orgulho. E com muita raiva do Serra.
 

Agora, quando escuto os rumores da revolta dos mata-mosquitos, abre-se-me no peito a mesma dor de 2002 e me solidarizo com a luta daqueles valorosos trabalhadores fluminenses. Aquela bolinha de papel representa a mais sincera rejeição por uma figura tão sinistra e abjeta. A ele devemos a perda de milhares de jovens, crianças e adultos, causada pela sua irresponsável política de saúde.

Abaixo transcrevo, trecho dos anais da Assembléia Legislativa, que homenageou o querido Ariston, vítima da incúria do atual candidato José Serra:


ANAIS DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE PERNAMBUCO
Requerimento Nº 3729/2002


Requeremos à Mesa, ouvido o Plenário e
cumpridas as formalidades regimentais,
que seja enviado um Profundo Voto de
Pesar pelo falecimento do Sr. ARISTON
TRAJANO DO NASCIMENTO - TRAJANO
DO BRASIL.
 

Da decisão desta Casa, e do inteiro teor
desta proposição, dê-se conhecimento e
Esposa Betânia Vítor do Nascimento, ao
Filho Emanuel Nascimento; à Mãe
Teresinha de Jesus do Nascimento, com
endereço na rua professor José Amarino
dos Reis, 2367 - Bomba do Hemetério,
Recife/PE; ao Ilmo. Sr. Pressente da
FEMEB, Amaro da Silva, com endereço
rua Natividade Saldanha, 410 - Torreão -
Recife - PE; ao Ilmo. Sr. Ronaldo
Agostinho de Silva, com endereço na Rua
Santa Izabel, 880 - Alto Santa Isabel -
Casa Amarela - Recife - PE - CEP: 52070-
240, ao Ilmo. Sr. José Maria Martins de
Silva, com endereço na Av. Norte, 5969 -
Apt. 11 - Bl. A - 1º andar - Casa Amarela -
Recife - PE; ao Ilmo. Sr. João Cavalcanti
das Neves, com endereço na Rua Três de
Maio, 58 - Várzea - Recife - PE - CEP:
50731-020; ao Ilmo. Sr. Antônio da Silva
Machado, com endereço na Rua Velha,
122 - Boa vista - Recife - PE - CEP: 50060-
270; ao Ilmo. Sr. Antônio José de Melo
Filho, com endereço na Rua Araripe
Júnior, 39 - Córrego do Genipapo - Recife -
PE - CEP: 52091-021 e ao Ilmo. Sr. Wilson
Sabino, com endereço na Rua Caburaí,
230 - UR-7 - Várzea - Recife - PE - CEP:
50860-220.
 

Justificativa
 

O Sr. Ariston Trajano do nascimento, que
tantos amigos tinha no nosso Estado,
faleceu, vítima de deficiência respiratória,
no dia 16 de fevereiro de 2002, aos 37
anos, deixando esposa e filho e um legado
insubstituível de integridade e coragem.
 

Trajano do Brasil como era chamado por
seus entes queridos e colegas de trabalho,
deixa uma lacuna que jamais será
preenchida por qualquer outro.
 

A sua partida entristeceu a todos, mas
deixa a imagem da sabedoria do um
homem que soube valorizar o amor ao
próximo antes de todas as coisas.
Portanto, nada mais justo do que esta
Casa Legislativa apresentar votos de
profundo pesar pela perda repentina do Sr.
ARISTON TRAJANO DO NASCIMENTO -
TRAJANO DO BRASIL.
 

Ante o exposto, solicito dos meus ilustres
pares aprovação para este Requerimento.
Sala das Reuniões, em 16 de abril de
2002.
 

Augusto Coutinho
Deputado


Ao amigo e parceiro Ariston, minha saudade e minha homenagem.

P.S.: perdoem-me os senões deste texto. Passei dias engasgado com essa dor e só hoje tive ânimo para lembrar desse fato. Vai assim mesmo, meio arrastada do fundo do peito, com um nó na garganta e com muita náusea de ver pela TV, a cínica face desse Sr. Serra, representante da hipocrisia e da farsa política no Brasil.
Do EU-LÍRICO. do meu grandíssimo cumpadi Lula (Luiz Eurico)!

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