sábado, 23 de outubro de 2010

Muito além da bolinha de papel

Não foi uma bolinha de papel que caiu sobre a careca de José Serra, virou comédia na Internet e acabou por revelar sua verdadeira essência. Foi um meteoro. Foi um meteoro de indignação de uma sociedade cansada de ver tanta hipocrisia num candidato que ainda faz campanha eleitoral de aparências fraudadas para um povo que desconhece totalmente.
Mais patética ainda que a farsa de Serra e seu comitê de campanha, foi a tentativa improvisada do Jornalismo da Rede Globo de engabelar a opinião pública quando decidiu dar mangas à farsa quixotesca do tucano, sem medir o volume de credibilidade que investia nessa empreitada. A decepção de seus funcionários em São Paulo, que assistiam incrédulos ao que a matriz carioca transmitia durante os sete intermináveis minutos da “reportagem” – foi tamanha – que saíram do estúdio cabisbaixos murmurando vergonha de sua profissão e de seu empregador.
Não era para menos. Aquela conversa mole do Ricardo Molina – o tal que foi promovido a “técnico de perícia” há alguns anos, graças à exploração midiática inescrupulosa do assassinato da menina Isabela Nardoni – explicava com autoridade de bufão, que uma simples mancha num filme de celular era um objeto real, colidindo na lustrosa redonda de Serra. Seria mais fácil tentar nos convencer que a mancha era um OVNI! Será que o telespectador parece tão estúpido assim aos olhos da Globo? Nem Homer Simpson, Bonner, engolia essa!
A ausência do casal 45 na bancada do Jornal Nacional do dia seguinte, sexta-feira, deu a dimensão do estrago. Acho que devem estar, os dois, com a cabeça inchada pela ressaca moral. Nunca foram mais ridículos em toda a carreira, que eu me lembre. E se a Rede Globo ainda insistir em vestir a camisa da candidatura de José Serra, cegamente e sem medir escrúpulos como vinha fazendo até esta gota d’água, é porque transformou-se num barco sem leme, condenado a afundar no oceano da credibilidade jornalística. O que, aliás, não faria mal algum à sociedade brasileira.
Serra não viu o Brasil mudar. Desde a derrota para Lula em 2002, esteve ocupado na única atividade real de sua vida política: a construção da falsa mística de si mesmo. Perdeu o bonde da história. Tivesse levantado o olhar sobre o país como um todo – como fazem verdadeiros estadistas “preparados” – e enxergado as transformações dos últimos 8 anos, não se comportaria como um mafioso obcecado em difamar e desqualificar uma mulher limpa, honesta e competente. Teria reparado que não faz efeito, na maioria do povo, chamar a gerente de um governo merecidamente bem avaliado de “poste”. Só porque Dilma não tem a malícia e a malandragem de uma classe que sempre foi aos microfones da mídia carregando aquela retórica lambuzada de falsidades que chamam de “experiência política”, não significa falta de competência administrativa para dar continuidade e fazer grandes melhorias ao projeto em andamento no país.
A concepção de campanha eleitoral de Serra ainda pressupõe que o povo é apenas massa de manobra sem discernimento, incapaz de avaliar qualquer mudança em sua realidade e que precisa ser conduzida como gado – que realmente foi até bem pouco tempo, quando acreditou em Collor e em FHC.
Além disso, um paulista que mora numa mansão, num dos bairros mais nobres de São Paulo, não se transforma em homem do povo só porque quer. É nítido que ele desconhece essa linguagem e por diversas vezes não conseguiu esconder o nojo que sente do povo no contato físico que a campanha exige. Quando tenta se transformar em “Zé”, chega a beirar o ridículo. FHC ao menos, nunca desceu do seu pedestal de intelectual. Nisso foi autêntico até o fim: um intelectual almofadinha, é verdade. Um professor de sociologia, que não sabia economia. E que foi, ele sim, um poste concebido pela Globo para se tornar presidente sem nunca ter sido gerente de nada.
Mas a partir de Lula, tudo mudou. Lula estabeleceu uma linha direta de diálogo com o povo. Um  fluxo que exclui o PIG que, por sua vez, também tentava excluí-lo da política. E o PIG está esperneando como barata virada pra cima. Porque perdeu o comando. A Internet é anarquia. O PIG e seus candidatos ainda estão no século passado. A bolinha de papel rodou o mundo em meia hora! Virou jogo, piada, mania. Antes de Bonner pensar numa reação, o Le Monde publicou a bolinha de papel e a gozação em cima de Serra. Então improvisaram o bufão Ricardo Molina.
Serra deverá ser o último dos candidatos artificiais dependentes de uma estrutura midiática. Ninguém mais disputará as eleições com um pé no século passado. Caso Dilma vença esta eleição, a oposição terá que se reinventar. Aécio Neves sabe disso e já está de malas prontas para deixar o PSDB e o mais decadente ainda DEM. O sinal já foi dado ainda no primeiro turno: Tasso Jereissati, Artur Virgílio, Heráclito Fortes e outros, foram jogados pra fora do tabuleiro.
Bem, tudo que eu disse até aqui se deve à irresistível vontade de opinar sobre o episódio da “bolinha de papel” que, certamente, já conquistou um lugar definitivo no folclore político brasileiro.
A eleição NÃO está ganha. Não acredito mais em pesquisas. E este é o assunto que vou abordar no próximo post que publico ainda hoje.

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