sábado, 9 de outubro de 2010

Nordeste é esperança "decisiva" de Dilma

Dilma Rousseff (PT) tem condições de conquistar no Nordeste entre 3,5 a 4 milhões de votos a mais do que teve no primeiro turno, segundo cálculos do comando de sua campanha na região, no qual se destacam os governadores reeleitos Eduardo Campos (PE) e Cid Gomes (CE). A votação será buscada principalmente no espólio de Marina Silva (que teve cerca de 4,2 milhões de votos na região; os partidários de Dilma acreditam poder abocanhar pelo menos 3 milhões dessa fatia). Outra fonte será uma eventual redução dos votos nulos - que historicamente caem no segundo turno. No Nordeste o total de nulos chegou a 2,3 milhões (8,02%; acima da média nacional, que foi de 5,51%).


Serra abriu campanha do 2º turno em Vitória da Conquista (BA), ontem. Foto: Neia Rosseto/A Tarde/AE
Se os votos a mais forem obtidos tal como previsto, praticamente decidirão a eleição em favor de Dilma, no raciocínio que permeia a confiança do comando de sua campanha na região. Isso porque para eles os eleitores que votaram na candidata petista (47,6 milhões, em todo o país) e em Serra (33,1 milhões)não devem migrar em grande quantidade de um para o outro. O fator decisivo seria então o eleitorado de Marina Silva (PV), 19,6 milhões. Na opinião do governador Eduardo Campos (PSB), a votação de Marina no Nordeste é a "mais recuperável" para Dilma - nas demais regiões os votos da "onda verde" tenderiam a dividir-se mais ou menos em partes igualitárias.

O Nordeste foi a única região em que Dilma teve mais de 50% - atingiu aqui 62,09%. Em segundo lugar ficou José Serra (PSDB), com 20,5%, seguido de Marina, 16,65%. Apesar do alto índice já obtido no Nordeste, esta é a região em que Dilma ainda tem mais espaço para crescer. Nas capitais, por exemplo, sua votação foi abaixo daquela obtida pelos governadores e senadores que a apoiavam. No Recife ela conseguiu 42,9% dos votos válidos, enquanto Eduardo Campos ficou 30 pontos percentuais acima: 73,7%. Dos 184 municípios pernambucanos, a capital foi onde Dilma teve seu menor percentual de votos. A mesma coisa em Fortaleza (CE), onde ela conseguiu 50, 7%, e Cid Gomesbateu em 64,3%. Marina ficou em segundo lugar em 6 das 9 capitais nordestinas: Fortaleza, João Pessoa (PB), Recife, Salvador (BA), São Luís (MA) e Teresina (PI).

Se há território para Dilma crescer pode-se argumentar que ele também existe para Serra? Em tese, sim, mas a possibilidade é menor. Os principais candidatos majoritários que o apoiavam saíram derrotados - não se reelegeram os senadores Marco Maciel (PE), Tasso Jereissati (CE), Heráclito Fortes (PI) e Mão Santa (PI). Para governador, elegeu no primeiro turno apenas Rosalba Ciarlini (RN) - que acaba de viajar para a Alemanha, onde passará 10 dias, em visita à neta recém-nascida.


Dilma Rousseff no comício realizado no Recife, em 27 de agosto: expectativa dos seus aliados é aumentar votação na capital e no Nordeste. Foto: Alcione Ferreira/DP/D.A Press
A campanha de Serra no Nordeste será feita basicamente por deputados e candidatos que não conseguiram se eleger. "Ao fim de uma eleição, os derrotados estão tristes, lisos e ressentidos", afirma o ex-governador e ex-ministro Joaquim Francisco (PSB), com a experiência de quem disputa eleição desde os anos 80. "É muito difícil numa situação dessas, com os credores batendo na suaporta e você ressentido com ingratidões mil, ter disposição para entrar na campanha". Não é o caso, porém, do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). Derrotado, ele afirmou que se sentirá "mais vitorioso" com a eleição do Serra do que ficaria com a sua própria para o Senado.

A estratégia de Serra para o Nordeste, que tem 27% do eleitorado nacional, vai focar as cidades médias e grandes, que são polos irradiadores para os municípios vizinhos e onde ele teve seus melhores resultados na região. Ganhou nas capitais Maceió (AL) e Aracaju (SE) e em Campina Grande (segundo maior colégio eleitoral da Paraíba), Parnamirim (terceiro maior colégio eleitoral do Rio Grande do Norte) e Vitória da Conquista, terceiro maior colégio da Bahia, cidade em que iniciou ontem a campanha de segundo turno. "Vamos começar por Vitória da Conquista a conquista da vitória", disse ele.

Sua principal dificuldade na região será a "infantaria" - os partidários que ficam nas cidades batalhando pelos votos (prefeitos, vereadores, candidatos a deputado, militantes em geral). De acordo com os resultados do primeiro turno, a "infantaria" tucana sofreu mais baixas que a petista. O que pode compensar isso são os programas eleitorais de rádio e, principalmente, TV - a essa altura, com apenas dois candidatos, e instalado o clima de disputa, a audiência dos programas dispara.

Nos dois lados em disputa, a atenção volta-se também para a abstenção - historicamente ela cresce no segundo turno. Em 2006, quando se enfrentaram Lula e Alckmin, ela passou de 16,73% no primeiro para 18,45% no segundo. Agora em 2010 chegou a 20,4%, o que suscitou a hipótese (depois descartada) de que isso teria influído na votação final de Dilma no país. Tentar evitar que a abstenção cresça será também uma das metas de campanha da candidata petista na região.

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