Sou só eu ou tem mais alguém que fica revoltado ao ver manifestações editoriais da velha mídia travestidas de matérias jornalísticas, nas quais atacam impiedosamente qualquer iniciativa que vise regular o sistema de comunicação no país, sob o pretexto de que criariam restrições para a liberdade de expressão?
Eu nasci depois do golpe, em 1968, portanto durante boa parte do período mais negro da história desse país eu era jovem demais para entender, mas durante o ensino secundarista ainda vivi a censura no país e protestei contra ela, inclusive levando algumas borrachadas da Polícia do Exército, já respirei muito gás lacrimogêneo em passeatas, estava na passeata das diretas de 1 milhão de pessoas que o Jornal Nacional ignorou na sua edição daquele dia, curiosamente da mesma Rede Globo que agora parece tão fiel a causa da liberdade de imprensa, mas que no entanto festejou o regime que criou o Ato Institucional Nº 5 e que censurou e fechou jornais, que prendeu, torturou, matou e sumiu com o corpo de jornalistas, chegando a comemorar em editorial de O Globo de 7 de Outubro de 1984, os 20 anos da “revolução”.
A verdade é que a velha mídia não dá a mínima para a liberdade de imprensa. Nunca a imprensa foi tão livre para fazer oposição sistemática ao governo, sem tentativas de cooptação como fizeram governantes anteriores. O risco real para a liberdade de imprensa quem corre são os pequenos veículos de mídia, porque estes não podem pagar advogados caros como as grandes corporações que ainda destinam parte de seu faturamento exclusivamente para pagar indenizações. Os pequenos sofrem ainda com a perseguição pesada do judiciário, muitas vezes são censurados sem a menor cerimônia, e não acontece nada porque os grandes só se solidarizam com seus aliados, e quando não ignoram as censuras, ainda apóiam.
A justificativa de que a criação de conselhos estaduais e federal é tentativa de censurar a imprensa não resiste ao contraditório, e sabendo disso, a velha mídia convoca especialistas em dizer o que os diretores da redação gostariam de falar, mas não falam porque seria editorial, já com os “especialistas” podem chamar de [sic] “jornalismo”. O atual presidente da OAB, o Ophir (da pharmácia)mostrou que a Rede Globo vai ter um ASPONE fiel para justificar o que precisar, ele é “quase um Molina”. Lembrando que a OAB não é um conselho de classe, por isso podemos dar um desconto para o Ophir, ele não sabe como funciona.
Conselhos de Classe não são estatais ou empresas administradas direta ou indiretamente pelo governo federal para poder ser uma forma de controlar a imprensa. Nesse caso se unem a ignorância de alguns por não conhecer o funcionamento de um conselho e o cinismo de outros que sabem do que se trata e fingem não saber para enganar incautos. Conselhos normalmente têm diretorias escolhidas através de eleições diretas pelos profissionais registrados, também têm conselheiros que se reúnem periodicamente para deliberar as decisões mais importantes. Tanto os diretores quanto os conselheiros são profissionais de reconhecidos serviços prestados na profissão e reputação ilibada. O problema que eles têm com conselhos é dar a oportunidade aos profissionais jornalistas de definir as regras para exercício da profissão, e ninguém aqui falou ou vai falar em controle de conteúdo, isso é lorota.
Muitas profissões decentes tem um conselho de classe: química, engenharia, medicina, farmácia, biologia, dentistas e outras. Conselhos dignificam uma profissão e evitam que maus profissionais destruam a reputação dos bons, institui um código de ética para exercício da profissão, dá respaldo a responsabilidade técnica dos seus profissionais junto aos seus empregadores, servindo de fiador técnico para questões junto aos órgãos fiscalizadores, é para isso que os conselhos servem.
A campanha difamatória da velha mídia, que por razões puramente corporativas tenta destruir a reputação dos conselhos de classe como se fossem instrumentos de governo é mais um desserviço à sociedade. Como não têm argumentos para defender as suas benesses do tempo da ditadura, atiram contra um dos bastiões da vigilância ao bom serviço profissional.
Vejo essa manifestação como um esperneio de quem não tem mais o controle dos três poderes e vê como concreta a possibilidade do país criar um marco regulatório. Eles se expõe porque sabem que com Dilma presidente e com a sua maioria no congresso pode emplacar a nossa ley de médios tão esperada. Agora é uma questão de honra.
Por LEN (Coeditor do Terra Brasilis)
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