terça-feira, 2 de novembro de 2010

Análise semântica dos títulos de O Globo

Por Marco Aurélio Barroso
Incidências Semânticas nos títulos de O Globo
O resultado do 1º turno, com a expressiva votação em Marina, trouxe para os adeptos da candidatura Serra, como O Globo, uma tênue esperança de virada.
Platão dizia: as palavras dizem o que são. Então, vamos a elas.
Façamos, sem índole poética, um breve estudo das incidências semânticas dos 27 títulos do vespertino carioca no interregno da 1ª para 2º urna.
Em nenhum momento, O Globo se ausentou da luta. Diariamente, via-se estampada essa moral severa sempre bem utilizada quando se trata de ajudar o candidato dos sonhos e denegrir o candidato infernal.
Foi assim com Eduardo Gomes, foi assim com Juarez Távora, foi assim com Jânio Quadros, foi assim com Collor, foi assim com Serra.
Ocasionalmente, quando o candidato de O Globo vence, a vida os derrota. Um saiu (Collor), o outro foi saído (Jânio). Com O Globo sempre foi assim. Mas passemos.   
Nesses 27 títulos, tivemos 262 palavras. Dilma foi citada 11 vezes e Serra, 7. Os dois juntos apenas 2 vezes (no dia 12: Dilma e Serra mantêm mudança de tática;  e no dia 17: Meio ambiente não entra no discurso de Dilma e Serra).
A notar que, logo no dia seguinte, tem-se o dissabor da omissão de Marina.
Todas as incidências com o nome Dilma ou são negativas ou levam o leitor a algo vulnerável:
Dilma fará ofensiva para atrair voto conservador -  Dilma admite “salto alto” –
Dilma muda estratégia -Dilma lançará “Carta” contra aborto – Queda de Dilma, junta Lula, PT e Petrobras  - Inquérito liga nome de Dilma à violação de sigilo - Dilma nega acusação.
Somente no dia da eleição é que se tem, e pela primeira vez,  o nome Dilma sem estar ligado a algo negativo e mesmo assim num sub-titulo: Dilma mantém vantagem sobre Serra.  Enfim! 
Já o nome de Serra, a semelhanças de certas realezas, é sempre positivo. São poucas incidências pois não é fácil, mesmo para O Globo, achar algo positivo em seu patético candidato: Serra muda de rumo e defende legado de FH na campanha -  O novo resgate dos mineiros (com foto de Serra alusivo à vitória dos mineiros de Copiapó) -  Serra sobe o tom.   
Outro interessante aspecto é a utilização das aspas. Sempre com ironia e sempre a favor de Serra: Dilma:admite “salto alto”Dilma lançará “Carta”  contra o aborto e o casamento gay Imagens desmentem “indignação” de Lula.
A palavra Petrobras aparece 4 vezes. Em todas, negativamente: Diretor de estatal tem contratos com a Petrobras -  Queda de Dilma, junta Lula, Petrobras e MST  -
Petrobrás muda prazo e explora o pré-sal na eleição - Petrobras faz campanha todos os dias.
Todas as palavras de cunho negativo, e são várias, juntam-se à Dilma: conservador, - aborto ilegal -  ataque direto -  inquérito -  violação -  nega acusação -  Erenice -  superavit falso - Casamento gay.
Nenhuma incidência de palavra de cunho negativo ligada ao nome Serra.
A palavra Lula (presidente)  é sempre mal-vista: Lula paralisa o governo, -
 Queda de Dilma, junta Lula, Petrobrás e MST -  Lula não cumpriu -  “indignação” de Lula -  Lula adota o silêncio -  O presidente sai menor.
O nome Deus é citado uma vez: Candidatos invocam Deus e se atacam na propaganda da TV.  Mas, já ao fim, vendo que seu candidato não emplacava, o vespertino lança mão do representante dEle, aqui, na terra, para dar uma ajudazinha: Pressão dos bispos dá certo e Papa interfere na eleição.
O primeiro título de 5 de outubro poderia ser analisado mais profundamente: Dilma fará ofensiva religiosa para atrair voto conservador - sem querer me meter em assuntos Sociológicos, pois unir Igreja a conservadorismo, nos dias que correm, é algo perigoso, mas fica-se com o nítido proclama de que o derrotado Tasso, ao meter o braço no Sacerdote-celebrante, lá no norte, fez com o conservadorismo do título do vespertino o que, sobretudo em época eleitoral, não se deveria ter feito jamais.
O advérbio não, só apareceu duas vezes: Meio ambiente não entra em discurso de Dilma e Serra -  Lula não cumpriu.....
Como o leitor pode concluir, mesmo que perfunctoriamente, a cobertura de O Globo é de desprezo total à verdade e ao leitor. Ou os fatos se submetem aos seus títulos ou danem-se os fatos. Não é jornalismo a ser seguido. 
Do Nassif  

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