segunda-feira, 15 de novembro de 2010

“Benedetti nunca deixou de acreditar na utopia”, diz secretário do escritor uruguaio

Divulgação
Nos últimos anos de vida, o escritor uruguaio Mario Benedetti (1920-2009) andava sempre com um caderninho, jornais, um copo de suco de laranja – e a companhia de seu fiel escudeiro: Ariel Silva. O secretário, hoje gerente da fundação que leva o nome do escritor, já fez de tudo um pouco na vida: foi pedreiro, jornalista, funcionário de funerária, office boy, redator, publicitário e sindicalista.

No entanto, Silva não encontrou lugar melhor do que uma casa cheia de livros. Foi nesse mundo que conheceu Benedetti, por meio dos textos que escrevia descompromissadamente e que um dia caíram nas mãos do escritor. A relação se transformou em confiança mútua. “Biografía para Encontrarme”, livro póstumo de Benedetti, lançado recentemente em diversas capitais de língua espanhola, teve lançamento simultâneo em Montevidéu com “A Imagen y Semejanza”, coletânea de contos do poeta e ensaísta editada por Silva a pedido do escritor.

Abaixo, Ariel fala com exclusividade ao Opera Mundi sobre as atividades da fundação que dirige, os projetos relacionados à obra de Benedetti e o legado desse que é uma das grandes figuras da literatura uruguaia.

É comum a avaliação, entre os conterrâneos de Benedetti, de que o escritor é mais reconhecido no exterior do que em seu país natal. O que o senhor acha disso?
Esse é um tema que pode ser interpretado assim, mas depende do ponto de vista. Mario não podia caminhar no Uruguai sem que fosse interrompido por alguém dizendo o quanto admirava sua obra. Mario dizia que esse contato era “o melhor reconhecimento”.

Benedetti pensava muito em sua finitude? As atividades que estão sendo concretizadas hoje pela fundação, como a criação de prêmios para novos escritores, foram pensadas pelo escritor?

Benedetti não estava preocupado apenas com o presente, mas, sim, com o futuro, sobretudo o dos jovens.  Não podemos esquecer que Benedetti, quando jovem, publicou sete livros sem vender sequer um exemplar. Acho que, depois dessa experiência, pensou em dar oportunidade para novos escritores através da formação de uma fundação com objetivos bem claros, tanto na área da cultura como em direitos humanos, especialmente quanto à investigação dos presos desaparecidos durante a ditadura. Mario trabalhou incansavelmente por seus princípios. Formou um conselho com a escritora Sylvia Lago, o médico Ricardo Elena, o jornalista Guillermo Chifflet, o cantor e compositor Daniel Viglietti e o escritor Eduardo Galeano, com a certeza de ter escolhido pessoas que compartilhavam suas ideias. 

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