A crise do Panamericano e a ruína do SBT
Por Ale Rocha
É possível traçar um paralelo entre a crise do Banco Panamericano e a derrocada do SBT, que já perdeu o posto de “campeão absoluto da vice-liderança” para a Record e, recentemente, está ameaçado pela Band.
Apesar de assuntos completamente diferentes, os fatos expõem a atual fragilidade administrativa de Silvio Santos. Aos 80 anos, o empresário de trajetória admirável dá sinais de cansaço. A agilidade que marcou sua história é coisa do passado. Há anos, o SBT assiste ao próprio declínio sem esboçar uma reação. A emissora perdeu o espaço garantido durante as décadas de 1980 e 1990.
Das novelas mexicanas aos apresentadores pescados na concorrência (Jô Soares, Lillian Witte Fibe, Ana Paula Padrão, Serginho Groisman e Boris Casoy, entre outros). Dos programas populares comandados por Gugu e Ratinho ao virulento “Aqui Agora”. O enorme sucesso da primeira edição da “Casa dos Artistas”, que quase naufragou o “Big Brother Brasil”. Até mesmo com as malucas mudanças na grade de programação, Silvio Santos chegou a bater a Globo no Ibope e ironizava os demais concorrentes, afirmando que nunca perderia a vice-liderança absoluta de audiência.
De meados dos anos 2000 em diante, a história mudou. O SBT entrou em declínio. Ainda assim, a audiência aguardava a retirada de um coelho da cartola. Afinal, o toque de Midas de Silvio Santos é inegável. De camelô a dono de uma holding com mais de 40 empresas, seu comportamento empreendedor sempre deu esperanças de que o SBT viraria o jogo contra a derrocada na audiência.
Porém, a carta na manga nunca apareceu. Por culpa do próprio Silvio Santos. Ele nunca conduziu uma sucessão no comando do SBT, mesmo cercado de familiares, como os sobrinhos Leon Abravanel e Guilherme Stoliar, além da esposa Íris Abravanel e das filhas Patrícia Abravanel, Silvia Abravanel e Daniela Beyruti.
Silvio Santos sempre dirigiu a emissora com extremo personalismo. Porém, o tempo passou e ele não percebeu a hora de parar e celebrar suas conquistas. A falta de confiança nos colaboradores, ou a dificuldade em largar seu brinquedo favorito, pode ser a grande mancha em seu currículo.
Segundo a assessoria de imprensa do SBT, a emissora negocia sua madrugada para igrejas evangélicas. O colunista Ricardo Feltrin, do UOL, afirma que o Ministério Silas Malafaia, a Igreja Internacional da Graça e a Igreja Universal estão no páreo. Uma notícia trágica.
Se a negociação se concretizar, o SBT deixará de ser a única emissora aberta sem qualquer programação religiosa. Até a Globo tem um programa do gênero, com a “Santa Missa” católica aos domingos. Outro ponto negativo é o das séries norte-americanas nas madrugadas, que muitas vezes garantem a liderança no Ibope.
Para piorar a situação, Silvio Santos colocou todo seu complexo empresarial como garantia do empréstimo de R$ 2,5 bilhões concedido ao Banco Panamericano pelo FGC (Fundo Garantidor de Crédito). O SBT está no prego.
“Nunca vi um empresário fazer isso. Se colocar nessa situação”, afirmou Gabriel Jorge Ferreira, presidente do conselho do FGC, instituição formada pelos bancos brasileiros que visa a manter a estabilidade do sistema financeiro.
Nesta semana, após colocar o SBT e outras empresas da holding SS Participações no prego, Silvio Santos foi ao Jassa cuidar da aparência. Os funcionários do salão relataram que o ‘Patrão’ parecia tranquilo. Em entrevista para Mônica Bergamo publicada pela “Folha de S. Paulo” nesta sexta-feira (12), ele ironizou o interesse do megaempresário Eike Batista em suas empresas. “No duro? Ah, me arranja! Arranja para mim que eu te dou uma comissão. Se ele me pagar bem, por que não? Quem é? ‘Elque’?”
Com a corda no pescoço, Silvio Santos foi ético ao dar o patrimônio de toda uma vida e preservar uma instituição, protegendo o mercado, os acionistas e os correntistas. Além disso, não perdeu a pose. Uma pena o Brasil presenciar o ocaso de um grande empreendedor e a ruína de uma emissora que nasceu pela vontade e garra de um único homem.
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