Marcha sobre Roma, 1922, o terceiro turno da Folha de São Paulo |
Não posso deixar de tomar parte nesse debate, sou paulistano descendente de nordestinos e muito me enoja essa onda de preconceito que estão querendo insuflar aqui em São Paulo. Gente preconceituosa sempre teve nessa cidade (como em todas as capitais desse país), a playboyzada que levanta a bandeira da xenofobia, nos dias de hoje, são os mesmos que gastam 2 mil reais num abadá para ferver no carnaval de Salvador. São os mesmos que dançam coladinhos ao som do forró universitário. Esse tipo de gente sempre esteve por aí, vez por outra passam dos limites em seu eterno discurso preconceituoso, assim como o fazem no trânsito após umas e outras. São uns hipócritas, uns imorais. Até aí tudo bem, para lidar com esses, o MP está aí. O problema é quando um dos jornais de maior circulação no país adota o discurso dessa molecada. E é justamente isso que a Folha de São Paulo vem fazendo nos últimos dias, defendendo a irresponsabilidade xenofóbica de Mayara Petruso, e o que é pior, buscando dar ressonância a um debate que não deveria existir. Leiam com atenção os textos abaixo:
Em defesa da estudante Mayara - JANAINA CONCEIÇÃO PASCHOAL
Não parece justo que Mayara seja demonizada como paulista racista, quando o mote da campanha eleitoral foi o da oposição entre as regiões
Sou neta de nordestinos, que vieram para São Paulo e trabalharam muito para que, hoje, eu e outros familiares da mesma geração sejamos profissionais felizes com sua vida neste grande Estado brasileiro.
É muito triste ler a frase da estudante de direito Mayara Petruso, supostamente convocando paulistas a afogar nordestinos.
Também é bastante triste constatar a reação de alguns nordestinos, que generalizam a frase de Mayara a todos os paulistas.
Igualmente triste a rejeição sofrida pelo candidato da oposição à Presidência da República, muito em função de ele ser paulista. Todos ouvimos manifestações no sentido de que, tivesse sido Aécio Neves o candidato, Dilma teria tido mais trabalho para se eleger.
Independentemente da tristeza que as manifestações ofensivas suscitam, e mais do que tentar verificar se a frase da jovem se "enquadraria" em qualquer crime, parece ser urgente denunciar que Mayara é um resultado da política separatista há anos incentivada pelo governo federal.
É o nosso presidente quem faz questão de separar o Brasil em Norte e Sul. É ele quem faz questão de cindir o povo brasileiro em pobres e ricos. Infelizmente, é o líder máximo da nação que continua utilizando o factoide elite, devendo-se destacar que faz parte da estigmatizada elite apenas quem está contra o governo.
Ultrapassado o processo eleitoral, que, infelizmente, aceitou todo tipo de promessas, muitas das quais, pelo que já se anuncia, não serão cumpridas, é hora de chamar o Brasil para uma reflexão.
Talvez o caso Mayara seja o catalisador para tanto.
O Brasil sempre foi exemplo de união. Apesar das dimensões continentais, falamos a mesma língua.
Por mais popular que seja um líder político, não é possível permitir que essa união, que a União, seja maculada sob o pretexto de se criarem falsos inimigos, falsas elites, pretensos descontentes com as benesses conferidas aos pobres e aos necessitados.
São Paulo, é fato, é fonte de grande parte dos benefícios distribuídos no restante do país. São Paulo, é fato, revela-se o Estado mais nordestino da Federação.
Nós, brasileiros, não podemos permitir que a desunião impere. Tal desunião finda por fomentar o populismo, tão deletério às instituições no país.
Não há que se falar em governo para pobres ou para ricos. Pouco após a eleição, a futura presidente já anunciou o antes negado retorno da CPMF e adiou o prometido aumento no salário mínimo. Não é exagero lembrar que Getulio Vargas era conhecido como pai dos pobres e mãe dos ricos.
Não precisamos de pais ou mães. Não precisamos de mais vitimização. Precisamos apenas de governantes com responsabilidade.
Se, para garantir a permanência no poder, foi necessário fomentar a cisão, é preciso ter a decência de governar pela e para a União.
Quanto a Mayara, entendo que errou, mas não parece justo que seja demonizada como paulista racista, quando o mote dado na campanha eleitoral foi justamente o da oposição entre as regiões.
Se não dermos um basta a esse estratagema para manutenção no poder, várias Mayaras surgirão, em São Paulo, em Pernambuco, por todo o Brasil, e corremos o risco de perder o que temos de mais característico, a tolerância. Em nome de meu saudoso avô pernambucano, peço aos brasileiros que se mantenham unidos e fortes!
JANAINA CONCEIÇÃO PASCHOAL, advogada, é professora associada de direito penal na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.
Sim, eu tenho preconceito - LEANDRO NARLOCH
Eu tenho preconceito contra quem se vale de um marketing da pobreza e culpa os outros (geralmente, as potências mundiais) por seus problemas
Logo depois de anunciada a vitória de Dilma Rousseff, pingaram comentários preconceituosos na internet contra os nordestinos, grupo que garantiu a vitória da candidata petista nas eleições.
A devida reação veio no dia seguinte: a expressão "orgulho de ser nordestino" passou a segunda-feira como uma das mais escritas no microblog Twitter.
O racismo das primeiras mensagens é, obviamente, estúpido e reprovável. Não se pode dizer o mesmo de outro tipo de preconceito -aquele relacionado não à origem ou aos traços físicos dos cidadãos, mas ao modo como as pessoas pensam e votam. Nesse caso, eu preciso admitir: sim, eu tenho preconceito.
Eu tenho preconceito contra os cidadãos que nem sequer sabiam, dois meses antes da eleição, quem eram os candidatos a presidente. No fim de julho, antes de o horário eleitoral começar, as pesquisas espontâneas (aquela em que o entrevistador não mostra o nome dos candidatos) tinham percentual de acerto de 45%. Os outros 55% não sabiam dizer o nome dos concorrentes. Isso depois de jornais e canais de TV divulgarem diariamente a agenda dos presidenciáveis.
É interessante imaginar a postura desse cidadão diante dos entrevistadores. Vem à mente uma espécie de Homer Simpson verde e amarelo, soltando monossílabos enquanto coça a barriga: "Eu... hum... não sei... hum... o que você... hum... está falando". Foi gente assim, de todas as regiões do país, que decidiu a eleição.
Tampouco simpatizo com quem tem graves deficiências educacionais e se mostra contente com isso e apto a decidir os rumos do país.
São sujeitos que não se dão conta de contradições básicas de raciocínio: são a favor do corte de impostos e do aumento dos gastos do Estado; reprovam o aborto, mas acham que as mulheres que tentam interromper a gravidez não devem ser presas; são contra a privatização, mas não largam o terceiro celular dos últimos dois anos. "Olha, hum... tem até câmera!".
Para gente assim, a vergonha é uma característica redentora; o orgulho é patético. Abster-se do voto, como fizeram cerca de 20% de brasileiros, é, nesse caso, um requisito ético. Também seria ótimo não precisar conviver com os 30% de eleitores que, segundo o Datafolha, não se lembravam, duas semanas depois da eleição, em quem tinham votado para deputado.
Não estou disposto a adotar uma postura relativista e entender esses indivíduos. Prefiro discriminá-los. Eu tenho preconceito contra quem adere ao "rouba, mas faz", sejam esses feitos grandes obras urbanas ou conquistas econômicas.
Contra quem se vale de um marketing da pobreza e culpa os outros (geralmente as potências mundiais, os "coronéis", os grandes empresários) por seus problemas. Como é preciso conviver com opiniões diferentes, eu faço um tremendo esforço para não prejulgar quem ainda defende Cuba e acredita em mitos marxistas que tornariam possível a existência de um "candidato dos pobres" contra um "candidato dos ricos".
Afinal, se há alguma receita testada e aprovada contra a pobreza, uma feliz receita que salvou milhões de pessoas da miséria nas últimas décadas, é aquela que considera a melhor ajuda aos pobres a atitude de facilitar a vida dos criadores de riqueza.
É o caso do Chile e de Cingapura, onde a abertura da economia e a extinção de taxas e impostos fizeram bem tanto aos ricos quanto aos pobres. Não é o caso da Venezuela e da Bolívia.
Por fim, eu nutro um declarado e saboroso preconceito contra quem insiste em pregar o orgulho de sua origem. Uma das atitudes mais nobres que alguém pode tomar é negar suas próprias raízes e reavaliá-las com equilíbrio, percebendo o que há nelas de louvável e perverso. Quem precisa de raiz é árvore.
LEANDRO NARLOCH, jornalista, é autor do livro "Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil" (LeYa). Foi repórter do "Jornal da Tarde" e da revista "Veja" e editor das revistas "Aventuras na História" e "Superinteressante".
Notem que a Folha, através de sua penas de aluguel, busca amenizar o crime de uma jovem estudante racista, xenofóbica e fascistóide. Como sempre, quer empurrar todos os males do país para cima do presidente Lula, fazendo jus a sua profissão de fé. Não há justificativa para a onda de intolerância via redes sociais de elite do centro-sul brasileiro. Querer justificar tal tipo de coisa é no mínimo conivência. A Folha de São Paulo está entrando num jogo perigoso, este assunto já era para ter sido esquecido pela mídia. Mayara Petruso está respondendo legalmente por sua infâmia, assim como seus asseclas. A questão não passou de uma molecagem de filhinhos de papai irresponsáveis, e logo seria superada.
O problema é quando grandes veículos de comunicação saem em defesa desse tipo de atitude, e com isso, podem transformar uma questão localizada em algo incontrolável. É bom lembrar que o movimento nazista surgiu com uma baderna promovida por um bando de desocupados numa cervejaria de Munich. A ascensão do nazismo deveu muito aos meios de comunicação que, temerosos ante o crescimento dos comunistas, não tiveram pudores em propagandear de forma positiva os feitos do bando de Adolf Hitler. Claro que nosso panorama não chega nem perto do que se passava na Alemanha dos anos 20, mas com a intolerância todo cuidado é pouco, ninguém pode prever o que pode acontecer quando se põe em marcha movimentos pautados pelo ódio.
A Folha de São Paulo já deu mostras de ter perdido completamente o bom senso, a sociedade civil e a justiça deve agir em consequência o quanto antes, depois pode ser tarde.
Boicote total ao jornal Folha de São Paulo já!
Leia também a análise de Eduardo Guimarães sobre este tema, publicada no Blog do Rovai.
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