Vivi no Rio de Janeiro do início de 1979 até meados de 1985.
Lá conheci um grande sujeiro, infelizmente prematuramente falecido, que ajudou a me apresentar a cidade. Livreiro, editor, sempre cercado dos mais incríveis livros, naquela época onde a abertura se iniciava, prenunciando novos tempos para o povo brasileiro.
Cheguei no Rio após perder emprego que tinha, no extinto Banco Sulbrasileiro e descobrir que estava em uma lista que me impediria de conseguir voltar à categoria bancária no RS. Como naquele tempo as fichas não tinham a volatividade de hoje, consegui emprego no hoje também extinto Banco do Estado do Ceará na agência do Rio.
Bom, fora do horário de trabalho era rotineiro noitadas etílicas com Nelson e mais amigos, na época Nelson era um anarquista convicto, cercados sempre por livros e mais livros.
Nestas noitadas que Nelson me disse uma de suas máximas, que iria repetir muitas vezes em nossas conversas até seu passamento: BRASIL: GUERRA CIVIL!
Tive oportunidade de entender um pouco mais sobre esta máxima na campanha de filiação que promovemos para fundar o Partido dos Trabalhadores. Como as regras impostas para a legalização de partidos eram extremamente duras, foi uma maratona conseguirmos os filiados necessários para a legalização.
Muitas vezes subi os morros e entrei em favelas buscando pessoas dispostas a se filiar no partido que estávamos criando. Foi nessas favelas que descobri uma realidade que em muito corroborava o que o visionário Nelson já antevia acontecer no Rio de Janeiro.
Nas conversas que mantive com habitantes das favelas me foi possível verificar uma inversão de valores que nunca antes tinha visto, por mais ojeriza que pudéssemos ter contra as "fardas" naquele re-início democrático, a questão do tráfico de drogas, do comércio ilegal de armas e da violência explícita não nos era o lado do bem.
Mas vejam, nas favelas os policiais, quando entravam, o faziam de maneira prepotente e violenta enquanto as pessoas ligadas ao tráfico faziam políticas de boas vizinhanças. Enquanto um lado entrava atirando e gritando o outro distribuia cestas básicas e, com sua necessidade de "aviões", empregava uma boa parcela de jovens.
Anos mais tarde, como Secretário Adjunto em Porto Alegre, tive a oportunidade de conhecer Luiz Eduardo Soares que tinha vindo à Porto Alegre para uma pesquisa sobre segurança pública encomendada pela Prefeitura e tive a oportunidade de conhecer melhor o problema.
Bom, o que vemos hoje no Rio de Janeiro é a retomada do poder de Estado como há décadas não se via. As UPPs vieram a ocupar os espaços que os traficantes supunham como seus. Isto diminuiu muito o espaço de atuação destas quadrilhas. Por outro lado, a outra face das milícias, que também concorrem com os traficantes mas não pelo lado da lei e da ordem também já os tinham acuado.
Esta retomada do Estado cumprindo as funções de Estado é necessária e premente. As ligações pro disk denúncia em número recorde bem mostra a aprovação da população da sitiada cidade.
O apoio do governo federal é importante e um recuo a esta altura do campeonato impensável.
A postura das UPPs é diferenciada daquela que existia nos idos de 79/80, eles tem uma interação com a comunidade e isto é que está sendo um golpe mortal na organização criminosa.
É como uma operação para extirpar um cancer, é doída, causa desconforto, mas é necessária.
A presidente eleita, Dilma, já conversou com o governador do Rio e lhe garantiu que continuará apoiando as ações de retomada dos territórios por parte do Estado e hoje estão sendo esperados ainda mais reforços federais na luta.
Bem diferente das "negociações que não houveram" quando dos ataques do PCC em São Paulo.
Não há negociação possível com o crime organizado. É um mal que tem que ser extirpado. Quanto mais protelamento, maior o dano!
Luiz Antonio Franke Settineri - SAROBA
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