domingo, 26 de dezembro de 2010

Alê Porto: PT em demasia no ministério

Reproduzo abaixo uma excelente análise feita pelo blogueiro Alexandre Porto sobre a montagem do ministério da Dilma. Eu concordo com ele em parte. O excesso que ele atribui ao peso do PT no ministério, para mim, contudo, foi estratégia calculada, para poder ir cedendo aos poucos ao longo da gestão. É a maneira encontrada para ter “crédito” junto aos partidos, de maneira a articular de maneira mais eficaz, gradualmente, com o Congresso já renovado de 2011. Cedendo tudo agora, o governo não teria mais com que negociar lá na frente.

Quinta-feira, 23 de Dezembro de 2010 – 14:19

A equipe de Dilma, finalmente montada

Por Alexandre Porto, no blog do Alê

Enfim, a equipe que Dilma levará para seu governo já está formada, a novela acabou. Como era de se esperar está sendo alvo de críticas da imprensa e até na própria base aliada. Por sinal hoje li no editorial da Folha de S. Paulo que o ministério atende ao fisiologismo dos e ao mesmo tempo desagrada os partidos. Afirmações que carregam certo ar de contradição. Se as escolhas desagradaram alguns partidos, significa que Dilma soube resistir pelo menos em parte aos interesses meramente partidários.

Eu mesmo tenho algumas críticas. Considero politicamente desequilibrado, com peso demasiado ao PT e pouco atendimento aos pleitos do PSB, partido que desde 1989 se coloca ao lado do PT no plano nacional. Gostaria de ver Ciro Gomes no primeiro escalão, numa pasta de peso. Acredito que se Dilma desse mais poder ao chamado Bloquinho (formado informalmente desde 2007 por PSB, PCdoB, PDT e PR), poderia contrapor a influência do PMDB no governo. No varejo lamento algumas indicações justamente do PMDB, que escolheu nomes de pouca expressão política, além de outros incluídos apenas para satisfazer a partilha entre tendências internas do PT. Comemorei especialmente a escolha de Maria Lúcia Falcon para o ministério do Desenvolvimento Agrário, mas acabou sendo trocada por um deputado da Democracia Socialista (DS)


O ministério está longe de ser unanimidade e é bom que não seja. Nomes aqui ou ali desagradaram diferentes setores da sociedade, inclusive na relação regional. Amigos cariocas reclamam de Moreira Franco, nordestinos de Pedro Novais, nortistas de Alfredo Nascimento. Todos temos nossas preferências pessoais, mas devemos entender o ministério como um todo, levando em conta os compromissos políticos-eleitorais assumidos em campanha.

Mas algumas críticas são injustas.

Ministério indicado por Lula? Ora, eu prefiro questionar se o ministério de Lula não era uma indicação de Dilma, já que ela era a verdadeira gerente do trabalho dos ministros. É um governo de continuidade e ninguém melhor que Dilma para avaliar quem está comprometido com a sua agenda administrativa. E esse talvez seja a maior qualidade dessa equipe, principalmente nos postos chaves, do chamado Núcleo Duro e das áreas econômica e social, nos quais ela teve total autonomia de escolha. Trata-se de uma equipe afinada, com experiência administrativa e respaldo nos setores da sociedade.

Muitos petistas não gostam de Antônio Palocci, principalmente por sua passagem supostamente ‘neoliberal’ na pasta da Fazenda. Eu discordo, mas ainda devemos considerar que ele não terá controle da economia. A Casa Civil com Dilma assume tarefas que se encaixam perfeitamente ao perfil de Palocci. Por outro lado, os nomes escolhidos para equipe econômica mostram uma unidade não vista com Lula. Na área Social, Alexandre Padilha na Saúde, Fernando Haddad na Educação e Tereza Campelo no Desenvolvimento Social, garantem a continuidade e os avanços que já estão na agenda.

Alguns jornais, por exemplo, lamentam a ausência das ‘estrelas’ que Lula se viu tentado a escolher em 2003. Mas lá, o presidente precisava dar sinais ao mercado de que comandaria o país com responsabilidade. Hoje, oito anos depois, essa garantia é desnecessária. O que Dilma precisa é ter ministros politicamente apoiados, que montem equipes tecnicamente competentes e comprometidas com a gestão progressista. Pra mim importa menos se o ministro de Minas e Energia é Edson Lobão e mais se nas estatais e autarquias serão mantidos os técnicos que estão lá desde que Dilma comandou a pasta. Podemos não gostar da figura política, mas não podemos negar que Lobão tem experiência administrativa e no caso dele, garante apoio que Dilma precisa.

Tenho especiais expectativas com Aloízio Mercadante na Ciência e Tecnologia, Tereza Campello no MDS, Fernando Pimentel na Indústria e Comércio, Paulo Bernardo nas Comunicações e Izabella Teixeira no Meio Ambiente. São áreas que recebem ministros com perfis diferentes dos que estavam no final do mandato de Lula. Sinceramente aprovo todas essas escolhas entendendo que darão um novo gás a pastas que já avançaram muito.

Ao contrário do que se tenta vender, Dilma montou, com algumas exceções, um ministério com a sua cara, com seus amigos, seus companheiros de governo e uma agenda pronta para avançar. Não é o ministério nem dos meus sonhos, nem da oposição e muito menos da imprensa. Ainda bem, nós não fomos eleitos.


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