Em determinadas ocasiões, a história é irônica com requintes de sarcasmo. O presidente da China, Hu Jintao, deve estar rolando de rir a essa hora no palácio presidencial de Nanjing, sobre os recentes acontecimentos envolvendo o governo americano, a justiça sueca e o dono do fenômeno Wikileaks, Julian Assange, que colocou, de joelhos e despida, a diplomacia e a política externa dos EUA.
Há dois meses, a fundação Nobel, sediada na Suécia, e que no ano interior tinha dado o prêmio da paz para o presidente Barack Obama dos EUA (país envolvido em várias guerras e denúncias de desrespeito aos direitos humanos), premiou um chinês, Liu Xiaobo, que cumpre pena na China supostamente por participar de protestos contra o governo. O governo chinês alega que ele cometeu crimes contra as leis chinesas.
Existe autoritarismo por parte do governo chinês, isso é inegável, assim como são autoritários os governos dos EUA, Cuba, Israel, Irã e países arabes aliados dos americanos. O que questionei à época da premiação era se apenas por ter coragem de ser oposição a um governo autoritário ele mereceria o prêmio em detrimento daqueles que realmente ajudaram em processos de paz pelo mundo.
Na época, Obama apareceu para elogiar o prêmio e pedir a libertação do Liu Xiaobo. Pequim chiou e disse que a premiação estava contaminada pela pressão política do governo e família real sueca para atacar um adversário dos EUA.
O mundo dá voltas e alguns dias depois o Wikileaks divulga a primeira leva de milhares de documentos sigilosos americanos e revela ao mundo segredos comprometedores em relação ao tratamento de direitos humanos de prisioneiros e população dos países que estão sob ocupação americana. A partir daí, os EUA movem céus e terra para calar a liberdade de expressão que não lhes seja favorável.
A justiça sueca atende Washington, emite ordem de prisão contra Assange para ouvi-lo de acusações feitas por procurador sueco de ter praticado sexo sem camisinha, e chamou a Interpol para pegar o grande foragido perigoso que poderia ejacular violentamente até exterminar as suas vítimas, desprovidas da proteção vital do latex.
Segundo informação passada por Stanley Burburinho, as administradoras de cartões de crédito Visa e Mastercard interromperam os pagamentos de doações feitas ao Wikileaks, mostrando coordenação nas ações de Washington contra Assange, que agora envolvem a participação de empresas privadas americanas. Ele informa ainda que as empresas Visa e Mastercard não se furtam de repassar doações feitas para o movimento racista Klu Klux Klan através de seus cartões.
Difícil mesmo vai ser para a Fundação Nobel explicar a diferença entre Assange e Xiaobo. Ambos são perseguidos políticos, presos por desagradar governos autoritários. As únicas diferenças são: a China não é aliada da Suécia, os EUA são, e a vida de Xiaobo não corre perigo, a de Assange corre.
Se Xiaobo tevê méritos para receber o prêmio, porque não Assange? A revelação de crimes contra os direitos humanos pode evitar que eles se repitam pela pressão da opinião pública, que em sua maioria rejeita esses crimes. A luta de Xiaobo é para tentar evitar que novos atentados contra os direitos humanos aconteçam na China, já a luta de Assange é para tentar evitar que aconteçam no mundo inteiro.
Hu Jintao poderia tripudiar em cima de Obama agora, com sabor de vingança, se pedisse para libertarem Assange em nome da liberdade de expressão e da democracia, duas propagandas enganosas americanas.
Tolice é criar expectativa que a velha mídia vá questionar autoridades brasileiras para se posicionarem de forma crítica em relação a essa atitude arbitrária da justiça sueca e do governo Barack Obama contra Assange. Será que vão cobrar que o Brasil se intrometa nos assuntos dos EUA como cobraram que fizesse no Irã, China, Cuba, Venezuela, Bolívia e Equador?
Onde estão agora os indignados que só pedem pela libertação e pela vida de dissidentes de países adversários da política externa dos americanos? Hipócritas, eles se recolhem para não serem cobrados pela falta de coerência.
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