Fiquei sabendo, através do sempre atento Stanley Burburinho, que Julian Assange declarou em entrevista ao jornal El País o seu agradecimento ao apoio recebido de líderes australianos e sul-americanos durante o tempo em que esteve preso, em especial, ao Presidente Lula, que criticou sua prisão em discurso no Palácio do Planalto.
O tropeço de Assange aconteceu na ressalva, pois, segundo ele, “Lula era um caso especial porque [estaria] deixando o cargo, e isso lhe permite ser mais direto do que havia sido. Já não tem que prestar nenhuma lealdade aos Estados Unidos”.
Bem se vê que o australiano que desafiou o império norte-americano, que tanto apoio angariou no Brasil e no mundo, está gravemente desinformado sobre a atuação de Lula e sobre a política externa brasileira nesses últimos anos.
Lula não se posicionou contra os EUA porque está deixando o poder, como afirmou de forma infeliz o autraliano. Se ele tivesse pesquisado, saberia que o Brasil, representado na figura do seu presidente Lula, tem praticado uma política de independência e coerência que orgulharia o fundador do Wikileaks, assim como orgulha grande parte dos brasileiros.
Seja na OMC, no Conselho de Segurança da ONU ou em reuniões da OEA, o Itamaraty e Lula se posicionaram, na maioria das vezes, em posição de confronto com os objetivos do governo norte-americano.
As batalhas comerciais sobre incentivos fiscais irregulares e propriedade intelectual pontuaram disputas que acontecem entre esse dois países há pelo menos quinze anos, mas foram nos últimos oito anos que o Brasil deixou de aderir incondicionalmente e fazer esse papel dócil a que Assange se refere.
Na questão ambiental, na polêmica do golpe de Honduras, nas negociações de não proliferação de armas nucleares com o Irã, na questão do pré-sal, na licitação dos caças, na condenação aos ataques israelenses em Gaza e ao ataque da Colômbia em terreno equatoriano, na mediação da entrega de reféns das FARC, em todas essas ocasiões o governo brasileiro e o presidente Lula desagradaram Washington e ninguém estava dando adeus ao poder.
A realidade é que o presidente Lula tem cacife e coragem para defender Assange, assim como já defendeu outros personagens controversos, desde o seu primeiro dia de governo. O australiano continua com crédito pelo trabalho excelente e de utilidade pública que vem fazendo, mas que pisou na bola, pisou.
Como ele é um australiano, ofereço a ele uma clip de uma banda local, sucesso nos anos 80, que expressa exatamente o que penso dessa entrevista: It´s a mistake!!!
Do Blog do LEN [coeditor do Terra Brasilis]
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