sábado, 25 de dezembro de 2010

O santo, os tucanos e os porcos

Há um ano São Paulo viveu uma tragédia causada por um santo. Pedro foi julgado e condenado por ter alagado a cidade sem piedade e sem aviso prévio. Na época, os paulistanos apoiaram o veredicto e, mais do que isso, deram a mão à palmatória quando o prefeito Gilberto Kassab os acusou de porcos que jogavam o lixo nas ruas gerando o entupimento dos bueiros. De nada adiantou a defesa dos réus argumentar que o prefeito cortou 50% das verbas de recolhimento do lixo e limpeza da cidade. Também foi inútil evidenciar a responsabilidade dos quatro governos tucanos por não terem feito a limpeza da calha dos rios Tietê e Pinheiros, por não terem construído os piscinões que prometeram nas quatro campanhas eleitorais e por administrar apenas o entorno da Av. Paulista – enquanto as regiões “menos altas” da cidade eram tratadas como “penetras” na fina flor da sociedade paulistana. Culpados, povo e santo foram apedrejados publicamente pela “imprensa amiga”. Mesmo assim, o santo não tomou conhecimento da gritaria dos mortais e manteve o cronograma das chuvas por dois meses. Já os “habitantes porcos” da cidade aceitaram passivamente o castigo das inundações: 80 mortos, dois meses do esgoto a céu aberto, sacos de lixo boiando no baixo entorno da Av. Paulista, milhares de desabrigados, doenças etc.

De Alckmin para Serra, de volta para Alckmin, São Paulo pensa que cresce ou se desenvolve – quando em verdade, mais empregos e alguma distribuição de renda são reflexos das políticas de inclusão social do governo federal. Fato é que, neste verão, São Pedro e os “habitantes porcos” voltaram a castigar a cidade. Vemos os mesmos alagamentos, o mesmo desespero da população e os mesmos automóveis sendo arrastados e amontoados pela fúria das águas como se fossem brinquedos de plástico.

Depois dos resultados das últimas eleições, o mandato tucano terá menos interesse ainda em investir em qualquer obra de infraestrutura que seja subterrânea ou invisível às câmeras do PIG. E São Pedro continuará irredutível: as chuvas voltarão anualmente causando estragos. Enquanto o PIG (que é paulista da cabeça ao rabo) mantiver a blindagem aos tucanos escondendo sua incompetência administrativa, SP jamais elegerá alguém que realmente faça a diferença.

Tudo isso tem sua lógica. O estado é o último reduto das elites conservadoras do século 20. É vital para eles e para a sobrevivência do PSDB que São Paulo permaneça por uma eternidade em suas mãos. O PIG ajuda, mas não faz o serviço de graça: também está no vermelho. Tanto em credibilidade quanto em finanças. E sua audiência vem caindo pelas tabelas ano após ano. Assim, ambos precisam do maior orçamento do país para sobreviverem. Ainda mais sob Dilma Rousseff, que deverá ampliar a política de Lula que restringe a participação do porcão no bolo das verbas de comunicação institucional do governo federal. Alckmin terá que renovar os contratos milionários com a Abril, Falha, Estadão e Veja, mantendo a distribuição de seu lixo editorial em todos os órgãos públicos do estado. Em troca, o PIG não o fiscalizará nem lhe fará cobranças e estará sempre pronto para atacar seus inimigos.

São Paulo seguirá colecionando os piores índices e o Brasil seguirá crescendo. E não se trata apenas do Pré-Sal e das gigantescas obras de infraestrutura como a Transnordestina, a transposição do São Francisco, usinas hidrelétricas etc. É bem provável que, para tristeza da turminha da Mayara Petruso, o nordeste também se torne um novo pólo em educação. Uma região que cresce mais que o resto do país terá maior motivação e empenho na área do ensino. Enquanto a USP cai 84 posições no ranking mundial de produção científica, o Instituto Internacional de Neurociências de Natal (RN) e a Embrapa (AM) foram destaques da Science Magazine – simplesmente a publicação de ciências mais importante do planeta.

Nos próximos 4 anos, SP será novamente governado pelo banana do Alckmin. O que, provavelmente, vai significar mais 4 anos de estagnação em todas as áreas vitais: educação (piores salários, superlotação), saúde (terceirizada a empresas que só visam o lucro) segurança (piores salários, cada um por si) saneamento básico (culpa de São Pedro e dos habitantes porcos).

O paulista que tem até 35 anos de idade NUNCA elegeu outro outro governante que não fosse do PSDB. E antes disso ainda tivemos Maluf, Fleury… Enquanto a parte paulista dos 3% cães raivosos vociferava orgulhosamente o “PT em São Paulo? Jamais!” nas últimas eleições, o Brasil esfregava-lhes na cara o “Tucanos paulistas na presidência? Nunca mais!” Resultado: o Brasil elegeu Dilma presidente. É bem verdade que São Paulo elegeu Alckmin e Tiririca. O primeiro, sério candidato a levar uma surra eleitoral maior que a de Serra em 2014. O segundo, bem… o segundo… pior do que São Paulo está, não fica!

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