O número de mortos na tragédia da região serrana do Rio de Janeiro pode chegar a mil. Nesta terça-feira, uma semana depois da maior catástrofe natural do país desde 1967, a Secretaria Estadual de Saúde já contabilizava 702 vítimas fatais.
Parentes carregam caixão de vítima em cemitério de Nova Friburgo, Região Serra do Rio de Janeiro, nesta segunda-feira (17). Foto: France Presse |
O Ministério Público do Rio conseguiu também fazer um cadastro dos desaparecidos nos municípios atingidos pelas chuvas. São 311 pessoas em quatro municípios: Teresópolis (184), Nova Friburgo (109), Bom Jardim (2), Petrópolis (16).
Hoje voltou a chover forte em Teresópolis e Petrópolis. A Defesa Civil de Petrópolis ficou em alerta. As ruas de alguns bairros, como Bingen e Mosela, alagaram. Em Nova Friburgo, o trabalho de resgate foi intenso. Os bombeiros encontraram o corpo de um jovem soterrado na Rua Cristina Ziedi, no centro. De acordo com relatos da vizinhança, onde parte de um prédio desabou e várias casas foram soterradas, há mais 11 corpos na área.
Cabo Mendes, que trabalha nas buscas, diz que não seria possível cavar a terra com pá, dada a enorme quantidade de entulho. "É um serviço para máquina. O piloto está orientado a cavar com cuidado, para não esfacelar os corpos", O prédio e as casas daquele trecho da rua foram interditados. Nova Friburgo é a cidade com o maior número de mortos (334), seguida de Teresópolis (285), Petrópolis (60), Sumidouro (21) e São José do Vale do Rio Preto (2).
Uma semana depois da tragédia os sobreviventes tentam retomar a vida normal. No bairro de Jardim Salaco, em Teresópolis, a vendedora Priscila Mariano de Oliveira ainda se esforça para economizar água, caminha quase 1h30 pela lama para chegar ao centro da cidade e precisa cruzar o bairro para tentar carregar o telefone celular. Fora de casa desde o temporal, ela se abrigou no sítio do pai, no mesmo bairro, mas continua sem energia elétrica e sem acesso às linhas de ônibus.
"A gente fica com vela e lanterna a noite inteira, porque a luz ainda não voltou. Quem tem água na cisterna economiza e quem não tem coloca baldes na rua quando chove para tentar lavar alguma coisa. Ônibus, nem pensar - acho que não vai voltar a passar aqui tão cedo", descreve.
Priscila relatava sua rotina enquanto um temporal voltava a encharcar Teresópolis, na tarde de hoje. Com medo de que a chuva provoque novos deslizamentos, a vendedora enumera dezenas de preocupações que ocupam sua cabeça desde o dia 12: sua família sobreviveu ao desastre e sua casa ficou de pé, mas já sabe que não pode voltar a morar no mesmo lugar; deixou quase todos os pertences para trás e tem medo de que saqueadores levem o que ficou; não tem como chegar ao trabalho, no centro da cidade, pois o acesso só é feito a pé; e precisa pedir para entrar na casa de um morador do outro lado do bairro quando precisa de energia elétrica.
"Ainda fico com medo de descer mais barreiras, atingir mais casas que por pouco não foram atingidas. Minha casa fica na parte baixa, que pode ser atingida, mas eu pretendo voltar para lá até achar outro lugar. Não tenho como abandonar tudo", disse. (Paulo Sampaio, Bruno Boghossian, Flávia Tavares, Marcelo Auler, Pedro Dantas, Márcia Vieira, Roberta Pennafort)
Do Yahoo
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