Foto: WERTHER SANTANA/AE |
Não amo este lugar onde vivi por, praticamente, toda a minha vida. Para ser honesto, o que me prende a esta cidade é meu trabalho. E alguns amigos. Assim como 57% dos seus habitantes, adoraria me livrar de São Paulo. E não sentiria saudades. Tenho amigos que foram viver em outros estados. E quando aparecem por aqui, de passagem, não conseguem esconder o asco que sentem. Por mais que procurem mostrar algum respeito.
Esta cidade é um gigantesco e caótico amontoado de prédios, avenidas e viadutos coloridos pelo gás carbônico de seus automóveis. Todas as raças, todas as cores, todas as línguas… Sampa é tão múltipla, que não tem identidade própria. É um amontoado de arquétipos também. O workaholic, o neurótico, o despolitizado, o solitário, o preconceituoso, o arrogante, o fútil… Aqui concentra-se uma das maiores taxas de desigualdade social do mundo.
Em São Paulo o medo é uma instituição. Nas ruas, as pessoas raramente relaxam e agarram-se aos seus pertences como se fossem um copo de água no deserto. No metrô, todos os cartazes eleitoreiros de José Serra foram substituídos por outros que ameaçam: “Você sabe onde estão sua bolsa, sua carteira e seu celular neste momento?” A violência é latente. Jamais precise sair à rua depois das 10 da noite. Nem de carro nem a pé. Não socorra a senhora que está sendo assaltada ou a moça que está sendo estuprada ou você acabará sendo vítima também.
Nesta cidade ninguém tem compaixão. Se você não tem dinheiro, não espere respeito nem solidariedade: morra na rua de frio ou de fome. Há mais de dois mandatos que os catadores de reciclável e os mendigos são atacados pelo prefeito e pelo governador em operações de verdadeira limpeza étnica. Muito mais que as baladas, São Paulo é a cracolândia. Muito mais que os jardins, São Paulo é a periferia alagada. Muito mais que o Ibirapuera, São Paulo é o Rio Tietê. Muito mais que o Einstein, São Paulo é as filas nos postos de saúde. Muito mais que os gatos, São Paulo tem 5 ratos para cada habitante. Muito mais. Tudo em São Paulo é muito mais.
É a terra do individualista. Quer segurança? Problema seu: contrate. Saúde? Só particular. Saneamento? Limpeza urbana? Educação? Problema seu: contrate. Qualquer coisa que os governos – que recebem uma arrecadação trilhonária de seus contribuintes – deveriam fazer pela cidade, é mal feita. Ou inútil. Não fosse o PIG tratar os governantes de sua cidade-sede com tanto “carinho”, ambos seriam linchados na Pça da Sé!
Na cidade que privilegia o transporte individual, voltar para casa depois de um dia de trabalho, é tão estressante que uma simples ducha pode valer mais do que mil orgasmos.
Durante décadas, o paulista foi convencido pelos governantes que elege e pela imprensa podre que o informa que ele é uma espécie de raça superior de trabalhadores que sustentam o resto do país. Não tem a menor visão do continente que é o Brasil. No fundo, o paulista quer que o estado se separe da união. O resto do país, principalmente os nordestinos, serve para construir seu apartamento, lavar seu carro, limpar sua casa, servir-lhe a cerveja no bar e fazer os gols do seu time do coração.
Ah! Mas São Paulo tem a melhor vida noturna, os melhores restaurantes, os melhores shopping centers, os melhores cinemas, teatros, clubes, academias, escolas, hospitais… Tem sim, tudo isso também. Para quem tem grana, mais que qualquer outro lugar.
Não, não odeio Sampa. E admiro muitos paulistas. Sou apenas mais um neurótico que mora nesta Torre de Babel!
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