O novo ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), José Elito Carvalho Siqueira, disse que não tem por que se envergonhar da ditadura militar, dos desaparecidos, dos assassinados e torturados pelas Forças Armadas. Defende que o passado não seja lembrado. Começou mal o novo ministro. Ele e as Forças Armadas deveriam, sim, sentir vergonha do passado, dos tantos crimes cometidos, das torturas praticadas com requintes de crueldade. Deveriam sentir vergonha pelas pessoas desaparecidas, pelos cemitérios clandestinos, pelos falsos atestados de óbitos. Deveriam sentir vergonha do Esquadrão da Morte montado pelo falecido Fleury Paranhos que assassinou pessoas dormindo, assassinou pessoas desarmadas em emboscadas só porque eram contrárias à ditadura, queriam a volta da democracia, da liberdade, queriam justiça social. O novo ministro chefe do GSI deveria sentir vergonha porque as Forças Armadas no passado destituíram do poder um presidente eleito pelo povo, nas urnas, democraticamente. A data 31 de março de 1964 é uma data histórica, mas também um dia para ser lembrado com tristeza, com vergonha, deveria ser um dia de luto em que as Forças Armadas pediriam perdão ao povo brasileiro pelas atrocidades cometidas, pelos crimes do passado. É uma data para ser lembrada apenas para que nunca mais se repita. O ministro chefe do GSI deveria sentir vergonha pelas famílias dos mortos desaparecidos que até hoje procuram seus familiares para enterrá-los com dignidade. É importante a instalação da Comissão da Verdade porque os casos de torturas e mortes têm de ser esclarecidos: a história não está escrita. Como disse o comandante do Exército, General Enzo Martins, a história está fragmentada, mal contada, faltam dados, nomes, fotos e circunstâncias de personagens importantes da época que hoje estão vivendo no anonimato, mas cometeram vários crimes, participaram de barbáries. Não se trata de revanche, de vingança, trata-se de justiça. A história precisa ser contada com verdades, como ela de fato ocorreu, mostrar quem foram os personagens que torturaram e mataram, onde eles estão hoje, o que fazem. Deveria se envergonhar, ministro José Elito, porque no passado, em solo brasileiro, as Forças Armadas Brasileiras acataram ordens dos EUA, sujeitaram-se às instruções da CIA, recebendo inclusive treinamento de torturas desenvolvidas no Vietnã. Há muito de que se envergonhar da época da ditadura militar. As barbáries, a submissão do regime militar aos EUA têm que ser reveladas, pois só assim a história será completa, com a verdade restabelecida. O povo brasileiro tem o direito de saber a verdade, merece um pedido de perdão, mesmo tardio.
Jussara Seixas [coeditora do Terra Brasilis]
3 comentários:
Assino embaixo. Parabéns, Jussara, pelo artigo e pela clareza. Se o raciocínio desses militares valesse, pra que então Poder Judiciário? Se "reparação de direitos violados" for considerada "vingança", então voltemos à Idade da Pedra Lascada, à Lei da Selva... O ordenamento jurídico, inclusive internacional, existe para ser aplicado, não violado. E a História precisa, sim, ser contada em toda a sua integralidade, por todos os seus atores. A versão oficial, escrita pelos perseguidores, nós já conhecemos. Falta conhecer e divulgar a versão dos perseguidos, humilhados, ofendidos, seviciados e mortos. Custe o que custar, doa a quem doer...
O General inaugurou o penico do Planalto:
Foi o primeiro a levar mijada, e logo no 2º dia!
Um recorde!!!
Na mosca, cumadi Jussara!!!
Parabéns pelo artigo!
Abs!
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