Sem muitos registros, muito se parecem às pegadas em solo arenoso, por mais profundas que sejam, os sulcos aos poucos vão perdendo a forma e sumindo.
Tanta gente, tanta história presentes nas receitas e no modo peculiar de falar, nos causos e nas melodias que, quase sempre, tem o ritmo das águas, aos poucos vai sucumbindo a pasteurização da cultura, lentamente.
A diversidade cultural brasileira vem sendo pasteurizada.
O processo é muito claro.
Primeiro pelo rádio e TV.
Sumiram as programações regionais e, quando existem, convenhamos, com raras exceções, aquilo que chamam de produção local já sofreu um processo de “enlatamento” que difere muito pouco, a não ser pela qualidade, da programação nacional.
Breve, talvez já existam propostas de fazerem as versões regionais dessas “geniais” criações em que a explorar a vulgaridade, o descompromisso com qualquer valor e o comprometimento da dignidade humana em troca de premiações, levadas aos brasileiros como realidade.
Ao contrário do que se diga que não é comercial, não é vendável, produções ligadas a nossa história, nossa gente, basta ver que as maiores audiências, no formato mini-série, principalmente, exploram temas locais.
O problema não é comercial. É ideológico.
É político. Mas essa tragicomédia, por mais terrível que seja, rindo de nossa dor, possamos sair da reflexão meramente para a ação transformadora e todos os instrumentos de cultura e de comunicação sejam utilizados para que a pegada, a luta dessa gente que constrói o Brasil, não importa a sua atividade, nem seu local de origem seja respeitado e como Abaporu possamos deglutir e não apenas assimilar a influência externa.
Queremos promover a cultura e não a homogeneização.
Quero ouvir os causos, a música, o teatro, o cinema, rádio e TV com os sotaques tão nossos. Senhores legisladores, creio que não é pedir de mais.
Hilda Suzana Veiga Settineri
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