"Depois de Mubarak, Silvio Berlusconi", gritavam os manifestantes batendo panelas e cantando Foto: AP |
Centenas de pessoas se manifestaram neste sábado no centro de Roma para pedir a demissão do chefe de governo italiano, Silvio Berlusconi. "Depois de Mubarak, Silvio Berlusconi", gritavam os manifestantes batendo panelas e cantando Bella Ciao, a célebre canção da resistência italiana durante a Segunda Guerra Mundial.
A manifestação foi convocada pelo movimento de blogueiros italianos que se autodenomina "Povo violeta", organizador de manifestações contra o chefe de governo e o "No-Berlusconi day", em dezembro de 2009, para reclamar a saída de Il Cavaliere.
"Saímos às ruas para restaurar, com esforço e sacrifício, a democracia perdida", explica Gianfranco Mascia, um dos coordenadores da organização. Para uma boa parte de italianos e italianas, o escândalo sexual que está sendo chamado de Rubygate, envolvendo Silvio Berlusconi, foi a gota d'água para os casos sexuais de Il Cavaliere.
Por isso estão preparando uma manifestação neste domingo, dia 13, para "defender sua dignidade". "Não é uma mobilização política, é um movimento espontâneo que começou com mulheres de todas as idades e vai reunir artistas e pessoas comuns", explicou Elisa Davoglio, uma poetisa de 35 anos, que administra o blog criado para a ocasião.
Um manifesto intitulado "Se não for agora, quando será?", foi assinado por mais de 50 mil mulheres em uma semana, denunciando, também, "a representação indecente e repetida da mulher, como objeto de comércio sexual nos jornais, na televisão e na publicidade".
"São numerosos os apelos das mulheres que querem participar, é como uma avalanche que não esperávamos", afirma a cineasta Francesca Comencini, uma das organizadoras, junto com a irmã Cristina, também cineasta, como o pai Luigi.
Um spot circula amplamente no Youtube para convocar a mobilização de domingo: flash-mobs (chamados pelas redes sociais), palestras e manifestações estão previstas em cem cidades, entre elas Roma e Milão. O comportamento do chefe de governo, suspeito de ter obtido favores sexuais pagos de uma menor, apelidada de Ruby, será apontado, diretamente.
"Berlusconi vem demonstrando um grande desprezo pelas mulheres, com suas observações misóginas", destaca Francesca Comencini. Mas "agora, ultrapassou os limites do tolerável, transmitindo imagem da mulher totalmente arcaica", comenta Cristina, promotora do grupo "Di Nuovo", criado para atrair a atenção sobre a situação.
Elisa, do blog, participará da manifestação com o bebê de três meses e o companheiro, porque todos os homens "amigos" da causa serão bem-vindos. Não é levantar uma categoria de mulheres contra outras: "não é uma mobilização contra as call-girls", explica Elisa, pelo que também participará da manifestação de domingo o Movimento de defesa dos direitos das prostitutas.
Em relação à situação feminina, na Itália, onde a taxa de natalidade é de 1,4 filho (uma das mais baixas da Europa), apenas uma mulher em duas trabalha (59% na UE), embora possuam, em média, mais diplomas que os homens.
Na quarta-feira passada, a promotoria de Milão, norte da Itália, anunciou ter solicitado o julgamento imediato de Berlusconi por prostituição de menor e abuso da função no caso Rubygate, mas o primeiro-ministro acusou os promotores de "atuar com objetivos subversivos".
Os promotores querem que Berlusconi seja julgado por ter remunerado os serviços sexuais de uma menor de idade, a marroquina Karima El Mahrug, conhecida como Ruby, e por ter cometido abuso de função ao obter a liberação da jovem após uma detenção em maio do ano passado. Uma investigação pelos dois casos foi iniciada em 21 de dezembro.
Berlusconi acusou a promotoria de Milão de atuar "unicamente com um objetivo subversivo". O Rubygate é destaque na imprensa italiana há várias semanas, com a publicação de dezenas de transcrições de conversas telefônicas entre várias jovens e os organizadores de festas com supostas orgias nas residências de Berlusconi.
A investigação é centrada nos serviços sexuais que o Cavaliere obteve de Ruby, quando esta era menor de idade, entre fevereiro e maio de 2010, e sua intervenção junto à polícia para obter a libertação da marroquina depois dela ter sido detida em 28 de maio acusada de roubo. Berlusconi e Ruby negam qualquer relação sexual. A jovem admite apenas que participou de jantares "completamente normais".
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