segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Oposição no Brasil é “pobre”, diz CNI

Robson Andrade, presidente da confederação da indústria, critica políticos que pedem salário mínimo de R$ 600

Alinhado com a gestão Dilma, empresário diz que insistência por salário mínimo maior não beneficia o país

AGNALDO BRITO
DE SÃO PAULO

O presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Robson Braga de Andrade, disse que a oposição no Brasil é "pobre" e que "não é responsável". Andrade aceitou fugir de temas como câmbio, juros e tributos ao ver o embate no Congresso Nacional em relação ao novo salário mínimo.

De acordo com ele, a exigência da oposição para um mínimo maior do que R$ 545 não é benéfica para o país e representa impacto direto no gasto público. Andrade avalia que a oposição tem usado o tema para criar "embaraços" ao novo governo.

"Vejo, muitas vezes, uma oposição pobre, querendo apenas criar embaraços e dificultar a implantação de projetos que são importantes para o país", disse durante entrevista exclusiva à Folha.

Andrade também falou sobre inflação e risco de desindustrialização.

Folha - A CNI está preocupada com a volta da inflação?

Robson Andrade - Acho que o país tem mecanismos de controle da inflação. Mas esse controle tem sido só de responsabilidade do Banco Central, cuja única ferramenta é a alta de juros. Funciona, mas contrai crescimento. A outra forma é a redução do gasto público. É o que tenho ouvido do ministro [da Fazenda] Guido Mantega e da presidente Dilma [Rousseff].

Os governos têm prometido cortes de gasto há muito, sem êxito. O sr. acredita que agora conseguirá?

Acredito, mas não ouvi isso muitas vezes. No governo passado, não lembro ter ouvido. No governo anterior, ouvi, mas não foi feito. Agora há uma indicação de mudanças. O governo disse que não vai aceitar salário mínimo maior do que R$ 545. O Congresso precisa ser responsável e aprová-lo. Não faz sentido a oposição ficar discutindo um mínimo de R$ 600, que vai lembrar o [José] Serra. [No 2º turno, Serra prometeu R$ 600 se eleito].

Um mínimo maior afeta a indústria?

A indústria já paga salário mais do que o mínimo. O impacto do salário mínimo é sobre a Previdência e as prefeituras. O governo não vai aceitar um salário mínimo maior do que esse. Por que o Congresso Nacional, que deveria estar defendendo a economia brasileira, está falando em salário mínimo de R$ 600?

Por quê?

Porque a oposição no Brasil não é uma oposição responsável.

O sr. classifica a oposição como irresponsável?

Não vou dizer irresponsável. Vou classificar assim: essa postura da oposição não é benéfica para o país. Eu acho que o papel de uma oposição é a de apoiar os bons projetos e de criticar de maneira positiva aqueles que não são bons para o país, mas apresentar propostas que sejam adequadas. Vou dar um exemplo. O governo FHC fez força e aprovou o fator previdenciário. No governo Lula, o PSDB foi contra o fator previdenciário. Ora, o fator previdenciário é bom ou não? É bom no governo FHC e não é bom no governo Lula?

Falta coerência?

Faltou coerência. Vejo, muitas vezes, uma oposição pobre, querendo apenas criar embaraços e dificultar a implantação de projetos que são importantes para o país. Enquanto ela deveria estar numa altura muito mais elevada para discutir profundamente o que é necessário para o país, e não ficar apenas criando obstáculos.

A indústria tem reclamado de juros, tributos e câmbio. No entanto, cresceu 10,4% em 2010. A indústria não está exagerando nas queixas?

Não, não estamos exagerando. Temos problemas de juros, tributos e câmbio e temos problemas de competitividade do país. Basta olhar o Brasil no ranking internacional. Sob qualquer critério, você vai ver que o Brasil ocupa posição além da 50ª.

Setores da indústria indicam haver desindustrialização. O sr. também acha isso?

Não. Pode acontecer, mas ainda não estamos num processo de desindustrialização. Mas corremos um risco muito grande com as importações de manufaturados. A indústria de commodities, que tem tecnologia, exporta muito mais do que a indústria de manufaturados. Em compensação, a importação de produtos manufaturados é muito maior do que a de commodities.

Isso pode deteriorar o setor industrial?

Essa relação está fazendo com que alguns setores da indústria percam capacidade de investimento, de inovação tecnológica, de participação do mercado nacional. Uma pesquisa recente mostrou que 45% das empresas brasileiras estão perdendo mercado interno para produtos chineses. Isso vai fazer com que setores como têxteis, calçados, máquinas e equipamentos eletroeletrônicos percam mercado.

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