sábado, 26 de fevereiro de 2011

Pernambuco: “Críticas a João da Costa podem aperfeiçoar gestão”

Dois dias antes de assumir a presidência estadual em substituição a Jorge Perez, afastado do mandato por problemas de saúde, o deputado federal Pedro Eugênio recusou-se aprofundar nos temas inerentes à função.

Disse que seria presunção falar antes de ser oficializado presidente.

Agora, uma semana após chegar ao cargo, o parlamentar revela que trabalhará pela convergência do partido.

Porém, não se coloca como um “fator diferenciador” na construção do entendimento que sempre foi escasso nas hostes internas do PT pernambucano.

Mas, justamente por não ser um petista histórico, não ter o “ranço” das diferenças que alimentam o racha da sigla – aguçado nos últimos tempos pelo prefeito do Recife, João da Costa, e pelo ex João Paulo -,  Pedro Eugênio é visto como alguém que pode administrar os embates sem paixão.

De temperamento conciliador, diz que não é hora de colocar a sucessão da capital em pauta e que o partido precisa se mobilizar para contribuir com a gestão municipal.

Admite, entretanto, que é preciso melhorar a comunicação do que é feito na Prefeitura. Diz também que não há como negar a preocupação existente no partido em relação à administração de João da Costa.

Defensor de que as críticas ao prefeito sejam transformadas em instrumento de aperfeiçoamento, ele acha que parlamentares, prefeitos, filiados e militantes do PT precisam se sentir parte do projeto político de transformação que trouxe para o Brasil o Bolsa Família e, para Pernambuco, a refinaria, o estaleiro e a Transnordestina.

O deputado diz reconhecer o apoio inestimável do governador do Eduardo Campos (PSB), “um aliado da maior importância, vale a pena ressaltar”, mas destaca que “tudo isso foi conquistado a partir do momento em que o PT conquistou a Presidência da República”.

O senhor assume o PT estadual num momento em que o partido tem como desafio vencer a disputa de 2012, garantindo a hegemonia na PCR. Sabe-se, porém, que as dificuldades serão grandes não só por conta da fragilidade da gestão do prefeito João da Costa como pelos desentendimentos internos. Como espera contribuir nesse momento? 

Em primeiro lugar, o que acho que tem de significado importante na minha eleição é o fato de ter se conseguido a unanimidade dos diretorianos. Foi uma demonstração de unidade objetiva, que não precisa de explicação. As tendências do partido que, em sua maioria estavam presentes, colocaram-se favoráveis a ter disputa. Esse é um fator importante a ser ressaltado. Daqui para frente, temos que trabalhar nessa convergência positiva para elaborar um plano de ação conjunto, ouvindo todas as lideranças importantes do partido, as correntes, o diretório, a executiva, todos aqueles que têm responsabilidade na gestão do PT; ajudarmos na interlocução com as diversas forças políticas, com outros partidos, com nossos parlamentares. Eu, pessoalmente, não acredito que eu seja um fator assim tão diferenciador do processo, mas acredito que a gente pode ajudar. Mais pelo fato de que chego à presidência refletindo essa agregação do que qualquer outra coisa. Isso é uma demonstração de que as pessoas do partido estão disposta a apostar numa ação articulada de unidade.  

Então, há um clima propício à conversa, mesmo se sabendo que a tensão entre o ex e o prefeito permanece?

Acho que sim. Cito um exemplo: o nosso deputado (federal) João Paulo, ex-prefeito, tem suas divergências em relação ao prefeito João da Costa. No entanto, ele tem afirmado com frequência que torce para que a prefeitura dê certo, para que se desenvolva cada vez melhor… Declara-se disposto a ajudar no que for possível para que a Prefeitura tenha uma atuação positiva e que seja aprovada pela população.

No processo da sua escolha já teve novo ruído. O deputado Fernando Ferro disse que não foi ouvido e que não integra a unanimidade em torno do seu nome… 

Fernando Ferro se sentiu excluído nesse processo de escolha. Mas já conversei com ele e acho que ele tem razão. Por circunstâncias que fugiram ao nosso controle, todos nós, envolvidos nesse processo de escolha, tivemos pouco tempo. Foi algo que ocorreu com muita rapidez. Quando eu o procurei, ele estava no exterior, em missão oficial na Patagônia. E não conseguimos comunicação com ele. Ele voltou já no dia da reunião. Ele se sentiu desconfortável com isso, mas fez um gesto importantíssimo que, inclusive, no meu poronunciamento depois da escolha, fiz questão de ressaltar. Ele não criou nenhum osbtáculo. Disse para eu seguir e cumprir minha tarefa. Mesmo se sentindo excluído, o sentimento de colaboração foi mantido. Ele é um grande quadro e merece todo respeito e deu mais um exemplo do clima que está prevalecendo no partido.

O prefeito, que quer ser reeleito, continua com dificuldades administrativas e políticas. O partido se deu algum prazo para definir por outra opção? 

Eu, particularmente, não tenho a menor simpatia por essa questão de prazo. Acho que o que está em curso agora é um processo administrativo. O processo político caminha em paralelo. Entendo que devemos nos esforçar para apoiar o prefeito para que ele faça uma grande administração e beneficie a população. No discurso que fez no dia da minha escolha, ele falou de uma série de ações em educação, sanamento, macrodrenagem, de contenção de encostas… Ações para as quais a PCR captou rescursos, elaborou projetos e agora executa. Isso tudo terá um impacto positivo. A avaliação que é feita hoje poderá ser completamente diferente amanhã. A gente torce por isso. Não faz sentido colocarmos em pauta agora a eleição de 2012. Agora, devemos divulgar as ações que não chegam ao conhecimento da população e, com isso, deixar que o processo político siga o seu curso natural. No ano que vem, nos prazos em que normalmente se discute sucessão, o partido vai se debruçar para ver quem é o seu candidato, como é que vai se fazer, quais as alianças, se vamos trabalhar com uma candidatura única ou se vamos ter mais de uma é melhor.

Mas o partido está tranquilo diante das críticas à gestão e à falta de comunicação formuladas por gente da base de apoio ao prefeito?

Verificamos dentro do partido preocupações em relação à administração. Não vou negar isso. Existem avaliações de que a administração poderia estar melhor, estar fazendo mais isso ou aquilo. Acho que esse tipo de discussão devemos aprofundar, mas sem a ótica de eleição. Se (o prefeito) vai para reeleição ou não. Isso é assunto que não devemos tratar agora. Evidentemente, como partido, tendo um companheiro nosso à frente da Prefeitura, devemos trabalhar para ajudá-lo. Quando identificar críticas dentro do partido terei o maior empenho em fazê-las fluir como um instrumento legítimo e importante de aperfeiçoamento. Porque a gente aperfeiçoa as coisas não só com elogios. Talvez mais com críticas do que com elogios. Então, vamos ajudar a Prefeitura, abrir o diálogo o máximo possível. E, repito, com todas as forças, com coligados e no partido. Além do Recife, temos mais sete prefeituras e precisamos ganhar as eleições nesses municípios e ampliar espaço no interior.

Nesse sentido, Ferro tem feito um alerta. Diz que, além de equacionar a cisão do Recife, é importante priorizar o interior.

Concordo plenamente. Não significa deixar de dar atenção à capital, que evidentemente dentre todos os municípios é o mais importante. Mas não podemos esquecer o conjunto da RMR, Mata, Agreste e Sertão. Sâo 184 municípios. Estamos organizados em 112. Em 72 municípios, não temos sequer diretório ou uma comissão provisória. Temos que estar mais organizados no interior.

Naqueles municípios onde temos chance de vitória com candidaturas próprias, devemos trabalhar e organizar, mas cuidando de parcerias com aliados históricos. Esse foi um ponto que Jorge Perez mais chamou a atenção. Nas conversas que antecederam esse processo, ele sempre colocou a ideia de termos um plano específico de expansão no interior para elegermos vereadores e prefeitos em maior número. Acho que isso é importante para conquistarmos mais espaço para o partido.  

Analistas apontam a eleição de 2012 no Recife como crucial para as pretensões do partido em 2014. Lá o PT terá nova chance de lutar pelo governo do estado, já que Eduardo estará fora do páreo. O senhor concorda com tais observações?

Não diria que a eleição no Recife é condicionante. Evidentemente que tem influência sim. Quem detém a Prefeitura da capital tem uma força maior. Mas diversos municípios da RMR têm força. De modo que, se temos a capital e não temos nenhum município da metropolitana, fica difícil. Hoje só temos Itamaracá, além do Recife. Se conseguirmos mais três pelo menos, evidentemente que estaremos mais fortes, mais bem preparados para uma disputa majoritária pelo governo. Agora, o que quero chamar a atenção é que, se considero prematuro discutir 2012, mais prematuro ainda é discutir 2014 (risos). O importante é o partido estar forte, as administrações estarem bem. O partido precisa estar organizado, melhorar a comunicação interna, fazer a militância se sentir valorizada, ouvida. Precisamos usar os meios modernos de comunicação, os twitters da vida para que as pessoas possam se comunicar com o partido. Que todos, desde dirigentes, parlamentares e prefeitos até seus filiados e militantes, se sintam parte de um projeto político de  transformação, que trouxe para o Brasil o Bolsa Família e, para Pernambuco, a refinaria, o estaleiro, a Transnordestina.

Essas ações são símbolo da era da Lula, mas também do governo de Eduardo Campos, não?
 
Essas obras todas são do governo do Partido dos Trabalhadores com o apoio, a ajuda inestimável do governador do Eduardo Campos, que tem sido um aliado da maior importância, vale a pena ressaltar. Mas é bom lembrar que tudo isso foi conquistado a partir do momento em que o PT, com poucos anos de história, conquistou a Presidência da República, colocou um pernambucano lá, nosso Luiz Inácio Lula da Silva, e começou um ciclo de transformações importantíssimo. Esse ciclo precisa ser aprofundado, melhorado, aperfeiçoado pela presidente Dilma Rousseff.

Com Lula, o PT em alguns momentos ficou em segundo plano por conta do imenso carisma do ex-presidente e muito pelas negociações  para garantir a governabilidade. Com Dilma, o partido será mais ouvido? O PT terá mais espaço?   

Quando um partido consegue eleger um presidente numa aliança como elegeu Lula e elegeu Dilma, qualquer que seja esse partido, evidentemente tem que compartilhar o poder e assumir um programa de governo que não é uma cópia do seu programa partidário. Isso é do nosso sistema partidário, uma característica do processo político nacional e o partido absorveu isso plenamente. Quando participo de reuniões do diretório nacional, da executiva, dos congressos do partido, a gente ver o partido ter uma perfeita comprensão dessa diferença: onde termina a posição partidária e onde começa o governo do qual o partido é até hegemônico, mas não é único. Eu teria dificuldade de fazer essa análise de que o partido ficou obscurecido no governo Lula. Evidente que Lula tem um carisma muito forte e se ele, digamos, apareceu muito mais do que o seu próprio partido, ele apareceu muito mais do que os outros partidos da coligação também. Uma coisa muita mais da encarnação nele de uma série de conquistas sociais. Mas quando você vai ver nas pesquisas que perguntam à população qual o partido de preferência, o PT aparece com mais de 30%. Isso aí é 1/3 do eleitorado. São milhões e milhões de eleitores. O povo não perdeu essa percepção de que por trás da grande liderança de Lula existe um partido que tem tudo a ver com a história dele. Não dá para separar. O povo se apercebe disso. No caso da presidente Dilma, o partido está tendo espaço, até aumentou o número de ministérios e está sendo ouvido. Mas ela tem governado de um modo que tenho ficado impressionado com o apoio que estou sentindo no meio da população. Aonde a gente vai ouve de gente que inclusive nem votou nela que ela está agradando. Ela é firme, é direta, trabalha muito e quando pode diz que pode quando não pode diz que não. As pessoas estão gostando do jeitão da Dilma. Veja que interessante: se ela tivesse querendo copiar, iam dizer que ela não tem personalidade. Mas ela tem. Ela está trabalhando no estilo dela e está agradando. Acho que a influência que o partido vai ter no governo Dilma será através dos seus ministros que representam, com lealdade, os braços executivos da presidenta. Mas esses ministros, ao mesmo tempo, tem cada um, sua história. Cada um  carrega uma hostória, que, evidentemente, empresta ao governo uma cara muito forte do PT. Além disso, nas posições que teremos de tomar na Câmara, eu defendo que o partido seja sempre capaz de dialogar com o governo e não partir do princípio de que temos o papel apenas de “correia de transmissão” das decisões já tomadas no Palácio. Tenho essa expectativa e vamos ver como vai funcionar. Diante de tantos quadros experientes no Congresso, no momento de tomar decisões sobre assuntos estratégicos como, por exemplo, do pré-sal, dos royalties de petróleo, espero que haja uma salutar troca de opiniões entre bancada, partido e governo. Nas duas mãos.  

O senhor reapresentou Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 311/2008 propondo a coincidência de data das eleições em todos os níveis, além do mandato de cinco anos. Com quais argumentos o senhor espera convencer os pares? Acha que há clima na Casa?

Apresentei há dois anos, em 2008. E, na ocasião, ela não foi discutida exatamente pela falta do clima para se debater o assunto. A sociedade não estava voltada para isso. Nesse momento, eu desarquivei (quando uma legislatura se encerra os projetos apresentados no período são arquivados) e o projeto vai tramitar de novo. E vamos ver. Não tenho como avaliar se essa ideia vai ter apoio político expressivo. Vai depender muito da discussão. Estou participando, por indicação do partido, da comissão especial da reforma política e nela vamos discutir esse assunto e outros. Esse meu projeto é muito pontual, mas é importante porque é baseado em dois argumentos: ao alinhar todos os cargos eletivos numa mesma eleição acaba-se por induzir os partidos a terem uma harmonia maior de posição, já que estará se apresentando um bloco (de candidaturas): do presidente ao vereador. Então, a questão programática do partido passa a ter mais influência. Segundo, haverá uma economia clara. Ao invés de termos eleições de dois em dois anos, teremos de cinco em cinco anos. Eu proponho que não haja reeleição, mas em compensação, os mandatos terão cinco anos e coincidentes. Então, vai se economizar financeiramente. Por outro lado, se tem um horizonte maior para gestores e legisladores trabalharem. Cinco anos dá mais oportunidade para que as gestões fechem um ciclo e aí possam realizar eleições para o ciclo seguinte com novos candidatos nos cargos executivos. Não haverá reeleição para o Executivo, mas o Legislativo sim.

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