domingo, 6 de março de 2011

Eliana Tranchesi [do Templo Daslu e da "massa cheirosa"]: "Nunca tinha convivido com esse lado obscuro"

Por DiAfonso [editor-geral do Terra Brasilis]

Engraçado como os "áulicos da elite cheirosa" -  quando se veem espremidos no meio da massa fedida [cheiro de povo, para essa elite, deve ser deveras repugnante!] - se espantam com a real situação dos que se comprimem no "andar de baixo" [no dizer de Elio Gaspari]. 

Enquanto a vida escancara um sorriso de benesses e os mantém nas sacadas de palácios erigidos com o resultado de uma longa política de exclusão social e uma má distribuição de renda, os personagens  "cheirosos" sequer imaginam haver famílias que, em situação de miséria, vão sobrevivendo em meio ao charco que lhes resta. 

Os "cheirosinhos" vivem tão distantes da crua realidade da ralé [no dizer do "cheirosinho" Reinaldo Azevedo, o "Tio Rei"] que, do alto de suas varandas, não enxergam o transitar cambaleante do "cidadão-comum". Nem mesmo parecem acreditar na existência, por exemplo, de presídios apinhados de "marginais" que trilharam o caminho do crime por uma dessas "peças" pregadas pela vida ou, como querem alguns do "andar de cima", por "exclusivo, pessoal e intransferível" livre-arbírtrio.

Na cabeça dos que defecam bolo e urinam guaraná - daí, porque fazerem parte da "massa cheirosa" -, não há sistema prisional e muito menos as dificuldades por que passam detentos e detentas que cumprem pena por seus delitos [Sobre as falhas na aplicação da Lei de Execução Penal, leia aqui.]

Não, não há sistema penitenciário degradante. Não para os da "massa cheirosa", pois, imunizados contra toda e qualquer possibilidade de respirarem o ar fétido das prisões, os  "cidadãos-vip-cheirosos" repousam suas cabeças em travesseiros confortáveis e sem o fedor de baba. No sono dos "justos" [porque cheirosos], não há  roncos ensurdecedores e, muito menos, os pesadelos das prisões pelo Brasil afora.  Ainda que crimes tenham cometido, esses abastados não têm o que temer. Até que o poder público, com homens públicos de verdade, resolva agir.

E assim se deu. "De repente, não mais que de repente" [no dizer do saudoso Vinícius de Moraes] a "casa caiu" [no dizer da "massa fedida"] para Eliana  Piva de Albuquerque Tranchesi.

A "cheirosinha" Eliana Tranchesi, dona da Daslu [Templo do consumo de luxo em moda], foi presa sob acusação de ter cometido crimes de formação de quadrilha, falsidade material e ideológica e lesão à ordem tributária [leia mais aqui].

Condenada a 94 anos e seis meses de prisão, ela foi para a cadeia [sendo libertada logo, logo] e, lá, descobriu que existe um sistema prisional. Mais que isso: sentiu na pele o que a ralé [os do "andar de baixo"] sente na carceragem. "[...] aquilo não serve para ninguém. O sistema penitenciário tem que ser revisto", disse ela, em entrevista a ISTOÉ [leia fragmento abaixo].

Como assim?! Agora, existe sistema prisional injusto e desumano. Agora, o tal sistema tem que ser revisto. Ora, senhora Eliana Tranchesi! Menos, menos. Menos pelas razões que passo a expor abaxo:

Primeiro - Enquanto a senhora deslizava em tapetes suntuosos no Templo Daslu, essa discussão nunca esteve na ordem do dia.

Segundo - Os que ali estão cometeram algum crime por razões diversas [nunca por ter muito dinheiro, pois são da ralé], mas a senhora! A senhora, Eliana Tranchesi, não tinha motivo algum para, juntamente com sua quadrilha, cometer crimes financeiros de forma habitual e recorrente, segundo a Justiça.

Afirmar, como a senhora o fez, que "Tinha tentado a minha vida inteira ser justa. Se você é desonesto e vive na clandestinidade está no risco. Não era o meu caso." parece piada de malíssimo gosto. Então quer dizer que a senhora era honesta, mas vivia fraudando importações e falsificando documentos - à luz do dia [não na clandestinidade] - sem correr riscos e crendo que tudo estava certo? Que conceito de honestidade é esse, senhora Eliana Tranchesi?

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Fragmentos da entrevista concedida a ISTOÉ e comentários da editoria-geral do Terra Brasilis:
 
Imagem: http://www.istoe.com.br/assuntos/entrevista/

Acha que cometeu crimes e lesou pessoas?

Se você soubesse como foi a minha vida, nem me faria essa pergunta. Fui muito correta a minha vida inteira. Mas não adianta falar isso. Não adianta falar o que fiz para os outros. Tenho orgulho do que fiz ao longo de 32 anos de trabalho. Erros todo mundo comete.  [Nisso a senhora tem toda a razão] Acho difícil uma pessoa ter uma empresa e não ter cometido erros. [Por que é tão difícil andar de acordo com a lei, senhora Tranchesi?] Acho impossível, principalmente no Brasil, onde as legislações são complicadas e dúbias.  [Complicadas? A lei é para ser cumprida e não burlada por uma suposta "dubiedade", senhora Tranchesi!] Agora a pena realmente é alta demais.

Mas você não sabia que a sua empresa sonegava impostos? 


Eu não gostaria de tocar nos pontos do processo. Estou sendo julgada pela Justiça. É a minha vida. Mas todos sabem que o meu envolvimento sempre foi muito maior com a criação e o marketing. Não é que eu não sou dos números. O meu teste vocacional era para matemática. Mas ter me envolvido nessa história toda, isso pode acontecer com qualquer pessoa. [sem comentários]

O que aprendeu com a experiência na prisão?
   
Aprendi muito. Outro dia olhava aqui em casa os porta-retratos. Fui feliz em todas as fases da minha vida. É diferente quando você acredita que a sua vida está entregue a Deus. [Agora, parece que Deus surgiu em sua vida. Respeito essa repentina conversão.] Tudo o que me aconteceu serviu para eu crescer. [Que bom! Cresça e aprenda que existe um mundo difícil e injusto aqui no "andar de baixo".] Fui uma menina criada sem dificuldades, casei com o homem que eu amava, tive vida de princesa. [É uma pena a ralé ver isso apenas nos contos de fada.] Estudei fora antes de casar, tive três filhos maravilhosos. Sempre fui rígida comigo e justa com as pessoas. Pensei outro dia: imagina se eu tivesse perdido a memória por 30 anos, abrisse o jornal e visse: “Eliana Tranchesi presa, condenada a 94 anos.” Eu ia falar: isso não pode ter acontecido, devem ter me dopado, me obrigado a fazer alguma coisa que eu jamais faria. Nunca faria algo tão mau que tivesse que ficar 94 anos presa. No entanto, tudo isso aconteceu. Pode imaginar o que foi para mim ser colocada para o Brasil como alguém que fez uma coisa tão errada a ponto de ser condenada a 94 anos de prisão? Tinha tentado a minha vida inteira ser justa. Se você é desonesto e vive na clandestinidade está no risco. Não era o meu caso.

E o que foi pior na prisão?
   
Ver aquele lugar e sentir que aquilo não serve para ninguém. O sistema penitenciário tem que ser revisto. Aquelas vidas todas não estão lá perdidas, sem sentido. [Isso! Elas estão lá para serem ressocializadas, mas isso parece não ocorrer, como a senhora mesma constatou.] Ali você sente um peso de pessoas que não estão sendo amadas. [Que ruim, não é?!? Terrível!!!] O pouquinho que fiquei, li a “Bíblia” com as meninas. Elas tinham televisão nas celas. Então todo mundo queria vir me ver. Uma delas me emprestou uma televisão. Eu agradeci e disse: Eu não quero televisão para ficar me vendo nos noticiários. Que programa pode ser pior? Fiz amizade com elas. Senti que fui importante nas cartas que elas me escreveram depois.

Manteve contato com algumas delas?
Mantive. Ajudei uma delas. Minha advogada [Que alívio ter advogado e poder pagar pelos serviços dele, não é senhora Eliana Tranchesi?!] ficou sensibilizada com uma das meninas que estavam comigo, que tinha 23 anos, da África do sul, condenada por tráfico de drogas. Essa menina me contou tudo. E aí você entende por que uma menina de 18 anos faz uma burrada dessas. Ser mula. Mas ela foi abandonada pela mãe com quatro anos. Você começa a entender a vida de cada um. Minha advogada ajudou e ela está em liberdade condicional. Ela está em um abrigo no Butantã. A gente foi criado em redoma mesmo. Nunca tinha convivido com esse lado obscuro. Fiquei muito impressionada. [Pois é... O mundo longe do Templo Daslu é difícil... Muito difícil, senhora Eliana Tranchesi... Sobretudo quando temos que aturar o cinismo e a arrogância dos que habitam o "andar de cima".]

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